O texto abaixo faz parte de um projeto idealizado por Júlio César, psicólogo que consiste em "escrever um texto onde, baseados em nossas experiências de vida, relataremos o que entendemos que irá acontecer após a decretação do final da pandemia." Você que nos lê sinta-se convidado a fazer parte desta ideia. - Gilberto Cardoso dos Santos
REFLEXÕES
SOBRE A SAÚDE MENTAL E O FIM DA PANDEMIA: MEDO E SUPERAÇÃO
Fui convidada a escrever sobre o que penso
em relação ao fim da pandemia no Brasil. Infelizmente, visualizo uma árdua situação
no que se refere às questões na área da saúde mental. No entanto, inicialmente
sinto a necessidade de fazer uma breve explanação de como vejo o quadro atual. Com
flexibilidade reconheço a preocupação e o medo da sociedade com o sofrimento instalado
no mundo inteiro. Também tenho receio, mas estou procurando conviver em meio a
esses riscos com cautela e em quarentena, levando em consideração que continuo
no exercício da profissão.
Sobre a escancarada doença, e sua alta
taxa de mortandade, é natural que o ser humano sinta medo, sendo esta uma
emoção que lhe é peculiar, o qual alerta quando a vida está em perigo e mostra
como o indivíduo pode se proteger. Por outro lado, estamos vivendo uma grande
disseminação de informações sobre o Covid-19, fato que está causando um medo
exacerbado na população e que provavelmente se transformará em transtornos de
ansiedade nas suas diversas patologias. As pessoas estão se encharcando de
notícias ruins e reais, muitas notícias falsas, as chamadas fake news, e com esse
dimensionamento pode produzir um aumento considerável de adrenalina e cortisol,
consequentemente baixando a imunidade e diminuindo a capacidade cognitiva para gerenciar
essa situação difícil. Podemos nos informar de forma comedida, pelo menos duas
vezes ao dia, talvez seja o ideal. Neste sentido, cada indivíduo precisa seguir
as orientações das autoridades de saúde por serem as que têm embasamento científico
sobre o assunto, tomar todas as providências necessárias e possíveis para
diminuir os riscos de contrair o vírus, não tendo como espalhá-lo. Vale
igualmente fazer higiene mental diariamente, saber administrar o medo e
permanecer numa linha de equilíbrio para não adoecer de forma psicossomática antes
do que venha de fato acontecer ou não. O medo além de ser contagiante, não deve
paralisar o bom funcionamento psicológico, mas trazer responsabilidade sobre os
cuidados pessoais e ajudar no compromisso com as demais pessoas que convivemos.
Precisamos enfrentar o medo sem o desenvolvimento do pânico e sem causá-lo a
outros, buscando ferramentas para a manutenção da paz, não nos tornando e não
tornando outros reféns de adoecimentos psíquicos.
Diante de tal situação, quando a
Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecer em declaração o fim da pandemia,
poderemos vir a ter um número expressivo de pessoas vivenciando inúmeros
sintomas psíquicos limitantes. A depender de intervenção equivocada ou
insuficiente das autoridades governamentais poderemos viver um caos ainda maior
na desigualdade social, na economia, e, entre outras perdas, teremos a perda
humana que é irrecuperável. Nessa última perspectiva, a orientação é que todos os
que possuem casa, e que podem, devem permanecer nelas.
Em contrapartida, acredito também que
poderá haver inúmeros ganhos, como uma nova expansão da consciência, do
espírito e da solidariedade. O apelo é:
façamos nossa parte, cumpramos todas as medidas de isolamento e restrições até
a volta da normalidade dentro das possibilidades, cuidemos de nós e de quem
está ao nosso lado, sejamos empáticos; não teremos risco zero com isso, mas
evitaremos o pior. Se já estiver ansioso, sem conciliar bem o sono, preocupado
em excesso com o vírus, com o futuro, com a morte, com a vida, procure ajuda de
profissionais da psicologia e da psiquiatria, se ajude.
Procure se abster das enxurradas de
informações e dos acentuados dados da pandemia, busque a resiliência para se
adaptar a essa realidade que não podemos transformá-la com a velocidade da
internet e suas notícias. Vivamos um dia de cada vez na certeza que tudo passa.
Assim, mencionando a Lulu Santos e Nelson Motta:
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi
um dia
Tudo passa, tudo sempre passará.
Tudo passa, tudo sempre passará.
Espero que a humanização invada cada mente, coração
e alma.
Lindonete Câmara, Psicóloga.
João Pessoa, 30 de março de 2020.
Adquira o livro Centelhas Poéticas, da autora, que será lançado após a quarentena
Adquira o livro Centelhas Poéticas, da autora, que será lançado após a quarentena
Excelente reflexão, Lindonete! Necessária e bem tecida! Nota máxima.
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirMuito bom.👏👏👏👏👏👏 Esclarecedor e grande contribuição para a sociedade que está assolada de tanto medo.
ResponderExcluirO cerne é que todos nós,depois dessa pandemia, não seremos mais os mesmos. Em tudo temos que tirar uma lição só nos resta aprender. Parabéns pela conversa escrita.
ResponderExcluirTexto maravilhoso, principalmente neste momento difícil que a humanidade vem convivendo. Realmente o medo é muito presente neste momento. Parabéns Lindonete.
ResponderExcluirExcelente texto com conteúdo de ajuda importante neste e no momento futuro.
ResponderExcluir