terça-feira, 18 de junho de 2019

GALOPE À BEIRA-MAR (José Alves Sobrinho)

Você se deliciará  com um dos mais extraordinários poemas de José Alves Sobrinho; Ao lê-lo, entenderá  melhor a razão de meu amor por este livro, o Sabedoria de "caboco". Trata-se de um galope por excelência que nos dá um claro vislumbre da genialidade do autor. Não poderia deixá-lo de fora nesta busca por resgatar o que Zé Alves Sobrinho nos deixou de melhor.   Gilberto Cardoso Dos Santos



GALOPE À BEIRA-MAR (José Alves Sobrinho)

O mar é um príncipe muito bem trajado
Que vem galopando em busca da praia,
As ondas são finos coxins de cambraia
Que ornam o corcel do príncipe sagrado,
A praia é uma virgem de olhar levantado
Esperando o noivo que tem de chegar,
O vento é um pajem que vem avisar
A noiva do mar que está esperando
O príncipe marinho que já vem chegando
Pra casar com ela na beira do mar.

O mar é famoso, bonito e elegante,
Afoga em seu bojo o rosto da Lua,
No verde das águas o vento flutua
Balançando o corpo do grande gigante
Que se movimenta num embalo constante
Subindo e descendo, sem nunca parar,
A praia o espera no mesmo lugar,
Sem temer a fúria do monstro orgulhoso
Que vem resmungando, ciumento e queixoso
Dar-lhe umas palmadas na beira do mar.

É belo escutar-se da onda o barulho
Em seu movimento sacudindo as brumas,
E o mar estremece jogando as espumas
Recua e avança com força e orgulho,
Levando arrecifes, tangendo vasculho,
Limpando o caminho de Deus viajar,
Se a Lua estiver no espaço a  brilhar
Parece uma virgem de “cabelo louro”
Ou então uma bola maciça de ouro
Saindo de dentro das águas do mar.

A onda é bonita naquele vaivém,
Tem onda pequena, tem onda que cresce,
Tem onda que sobre, tem onda que desce,
Tem onda que vai, tem onda que vem,
Tem onda cansada porque não mais tem
Talento na água pra areia alcançar
Mas sente outra onda por trás a empurrar
E ela se ergue depois de empurrada
Aquela que empurra cai também cansada
E as duas se acabam na beira do mar.

As ondas são finos lençóis de cambraia
Bordados de rendas, de franjas e bicos,
Bem feitos, bem alvos, bem limpos e ricos
Que os ventos marinhos estendem na praia,
Aquilo é bonito que a vista desmaia,
E o homem contente fica a contemplar
A onda investir e depois recuar
Jogando pra fora ostras e mariscos,
Pequenas pedrinhas, retraços e ciscos
Que as vagas arrancam de dentro do mar.

É belo da praia avistar-se um navio
Travessando a costa na sua carreira,
Parece um gigante de ferro e madeira
Enfrentando o mar no seu desafio,
No verão, no inverno, no outono, no estio
Flutuando na água sem nunca afundar,
De popa, de proa, de velas no ar,
Soltando canudos de fumo azulados,
Seus mastros parecem braços levantados
Saudando a quem fica na beira do mar.

Na beira do mar vemos coisa boa
E melhor se torna no tempo do estio,
Barcaça, canoa, paquete, navio,
Paquete, navio, barcaça, canoa,
Ali também vemos mais de uma pessoa
Andando no cais querendo embarcar,
E o grande navio a se balançar,
Saudoso apitando desliza nas águas
Deixando saudades, tristezas e mágoas
Naqueles que ficam na beira do mar.

A terra é esposa, o mar é marido,
A terra trabalha, o mar é guerreiro,
A terra produz, previne o celeiro,
Esperando a volta do esposo querido,
E quando ele vem do desconhecido
Ela vai à praia para o esperar,
Quando ele a avista levanta o olhar,
E logo se olham, sorrindo e se enlaçam
Se atraem, se querem, se amam e se abraçam
Num beijo de espuma na beira do mar.

Extraído de

 

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