terça-feira, 10 de outubro de 2017

BELÍSSIMOS SONETOS DE FRANCISCA ARAÚJO



Francisca Araújo reside em uma comunidade rural, no município de Iguaracy, local que assistiu ao nascimento dos seus primeiros rascunhos de versos, por volta dos quatorze anos de idade. Como fruto de pais agricultores gosta de compor sobre o cenário sertanejo, mas transita também por outras temáticas. Os aboios, as toadas e a voz dos cancioneiros foram as manifestações culturais que mais lhe aproximaram do universo da Poesia. Assim, entre uma e outra inspiração, surgiu essa pajeuzeira seduzida pelo tempero das rimas e pelo encantamento dos versos.

Soneto: Súplica

As esperas rompidas sem chegada,
No crepúsculo maçante das auroras,
Deixam marcas visíveis de pioras
Dos delírios febris da madrugada.

As pegadas da insônia, nessas horas,
Levam sonhos vadios à calçada
E outra triste ilusão desnorteada
Chora sem entender, porque demoras...

Mas, enquanto o silêncio rouba a calma
No cortejo da sorte, a minha alma,
Incorpora a razão e, enfim, suplica...

Então, rasgo o adeus antes escrito,
Porque já sufoquei demais meu grito
E preciso, meu bem, dizer-te: - Fica!

Francisca Araújo (07/ 02/ 2018)

Labirinto de silêncios

Ânsia louca que emenda as linhas tortas
Dos insanos rascunhos destes versos, 
O que sabes de mim? Por que te importas, 
Se dos males padeço os mais perversos?!

Desalinhos estreitam universos...
Os enganos rabiscam minhas portas.
Sonhei com campos vastos e diversos,
Vi poeira cinzenta e flores mortas!

O destino sorriu da minha sorte
Desfez planos, por fim, abriu um corte
Mas ninguém, dessa dor, sente o que digo...

Às paredes confesso o meu dilema,
Foragindo de mim acho um poema
E em silêncio o papel chora comigo.



Os versos que não declamei

Foi longo o engano e, instantes após
A dor já pulsava por cada refrão,
Expondo rasuras da minha ilusão,
No corpo dos versos que fiz sobre nós!

A lágrima na face fez curvas e então,
Por meio das ondas sonoras da voz,
Um canto sentido de amor, como foz,
Brotou das tristezas do meu coração.

Se os seus sentimentos partiram intactos,
Os meus em pedaços, por tantos impactos,
Ficaram marcados por dores extremas....

Mas como os poetas no fundo são fortes,
Passando pomada de rima nos cortes,
As mágoas vão dando lugar aos poemas!
Anoitecendo
Outra vez arde calma a noite fria...
E minh'alma soluça entristecida
Ao lembrar seu adeus, naquele dia,
Afastando o olhar na despedida.

Dói ainda muito mais que deveria...
E essa dor ancorada na partida
Faz um simples minuto de agonia
Revelar-se maior que a própria vida.

Ai do meu coração, tão indefeso,
Que suporta as pancadas do desprezo
Sem ao menos curar-se do abandono.

Tanto clama por quem o destruiu
Que a parede do peito não ruiu
Mas por dentro, chorando, eu desmorono!
Francisca Araújo
Noturna
Madrugada que paira na avenida,
Acendendo o farol do desatino,
Sois a dama que sai desprevenida
Pela escura calçada do destino...


Causadora de assombro repentino,
Na penumbra do beco sem saída,
Sois a rota cruel do peregrino
Que tropeça na sorte, alheio a vida...

Hora aflita das noites intranquilas,
Corredores de sonhos formam filas
Pra sondar teu mistério que, é enorme!

Nas esquinas do medo sois vilã...
Eis que morres beijando o amanhã,
Cai o luto do céu e a lua dorme!
Francisca Araújo
SONETO DE ANIVERSÁRIO
Vinte e cinco do mês de Fevereiro
Nesta data, brotou com tanto amor
Nas entranhas de um solo tão brejeiro,
Mais um fruto de um pai agricultor...


E cresceu neste chão como uma flor,
Com aroma tão puro e verdadeiro
Que não posso falar do seu valor
Sem lembrar com carinho do seu cheiro!

Ela acolhe no véu do seu afeto
O cansaço de um filho e a cada neto
Que repousa na concha dos seus braços...

Quando o tempo cobrar-me pelas fugas,
E cavar em meu rosto as mesmas rugas
Seus exemplos terei para os meus passos!
Francisca Araújo
ESQUECENDO...
Um folheto na agenda rabiscado
Vez por outra, me faz lembrar você
Nele tem um soneto inacabado
Com rasuras de amor, que ninguém vê.


Nosso sonho de vez, foi descartado
Por razões que questiono em um 'por quê'!
E o papel ficará sempre manchado
Mas, as marcas da dor não se prevê.

Minha rima porém, não fica vaga!
Se a borracha do tempo nunca apaga,
Os sintomas que trazem agonia...

Seguiremos, sem traumas mesmo sós.
Assim, quando quiser pensar em nós
Eu só vou recordar da poesia!
Francisca Araújo
FILHO AUSENTE
Vim pendendo com o peso da carência
Implorar por teu colo e teu afago
É que o mundo, mamãe, faz tanto estrago
Que perdi-me de mim, na tua ausência...

Talvez seja por isso que hoje vago
Com sintomas de dor na consciência,
Procurando pedaços de inocência,
Tendo pouco do muito que propago...

O grilhão da saudade machucou-me
E a poeira do tempo transformou-me,
Sem dar chances a um novo recomeço...

Nada trouxe nem rosas, nem champagne,
Vim em busca do teu abraço, mãe,
Sem saber nem ao menos se o mereço
Francisca Araújo

SONETO DE RECORDAÇÃO
Travesseiro de flor, lençol de areia...
E no palco da cama à beira mar,
Sob o teto do céu e a lua cheia,
Esse bardo, por fim, põe-se a cantar!


Clama à musa que vem como sereia
Pelas águas do verso a lhe inspirar
E, na taça das ondas, quase meia,
Toma banho de espumas ao luar...

Com a fita dos braços, ele tece
Mil abraços, nos quais, ela adormece
No aconchego sem fim da noite bela...

E já tendo findado toda a história,
Ele guarda no frasco da memória
O perfume de amor, do corpo dela!
Francisca Araújo (23-01-2017)
RASCUNHOS
UM CADERNO TEM FOLHAS ORVALHADAS
PELAS GOTAS DO CHORO DE UM POETA,
QUE SE INFLAMAM NAS FRIAS MADRUGADAS
QUANDO TODA ILUSÃO FICA INQUIETA.


POR QUE TUDO QUE SENTE, NÃO SECRETA,
MESMO QUANDO AS PAIXÕES ESTÃO CALADAS
VAZAM VERSOS, COM LÁGRIMA DISCRETA
E AS TRISTEZAS SERENAM DISFARÇADAS.

AH, POETA! O MEU PRANTO É DE AGONIA
MAS, NÃO SEI ESCREVER EM POESIA.
ENTÃO, FALE DO AMOR QUE ME MALTRATA...

QUAL QUER LINHA, VAI SER SUFICIENTE.
TENDO RIMA NA AGULHA DO REPENTE,
PRA TECER MINHA DOR, NINGUÉM DESATA.
PERSONAGENS DO AMOR...
A janela do peito se escancara,
Ao falarmos das dores que ocultamos
E a razão pra ser justa nos ampara,
Concordando que nós nos enganamos.
Porque toda paixão que machucamos
Quando sangra demais, nem sempre sara...
E estas chances que nós desperdiçamos
Causam danos que o tempo não repara.
Nessa história, sequer, fomos felizes
Porém, restam diversas cicatrizes
Pelas juras de amor repercutidas...
Somos dois personagens fracassados,
E ao seguirmos caminhos separados,
Nossas dores, também, vão repartidas!
Francisca Araújo
Encontro Marcado
Ele pôs duas taças sobre a mesa,
Dois cristais sobre a tela do tecido,
E o aroma de um vinho envelhecido
Pra brindarem à luz da vela acesa...


Mas, a cena cercada de beleza
Revelou um contraste entristecido
E, mais nada se viu de parecido
Com aquele momento de incerteza!

Longas horas de espera descontente,
Ali mesmo passaram, lentamente,
Ao vazio, servindo um copo cheio...

Quando o vento varreu a madrugada
E uma lágrima caiu incendiada,
Triste e só, lamentou. Ela não veio!
Francisca Araújo



2 comentários:

  1. Parabenizo-te pelos belíssimos e caprichados sonetos, de perfeita métrica, ritmo e rimas, e sobretudo, de irretocáveis inspirações. Bravíssimo!!!

    ResponderExcluir
  2. Quando der, conheça meus poemas no site do Recanto das letras. (ailabrito)

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”