Crônica aos Amigos
Nesse momento de pura nostalgia, vem-me uma ânsia
de escrever e fico a indagar-me como aliviar essa angústia sem nome. Parece-me
bom escrever aos Amigos... Àqueles que, pensando tê-los, não tenho; àqueles
que, quero e não terei; aos que me querem sem que eu saiba e aos raros que sei
que são meus. São tantos os tipos de amigos!
Os duradouros trazem lembranças mistas com gostinho
de salada de frutas, produzem o ranço do caju, com o doce do leite condensado,
uma contradição que fortalece e agrada.
Os recentes soam como lindas canções ao som do
saxofone... Suaves, adocicam a alma; fortes, impactam-nos as recorrentes
lembranças de frases, sorrisos e breves despedidas.
Os de tempo médio cheiram a rosas, lindas, mas nos
espetam com a hipótese do murchar... Não sabemos se essas Rosas seguirão a Lei
da Natureza e desfalecerão, ou se a Lei do Amor e Eternizarão.
Os amigos que não temos são um suspiro solto no
ar... Deixam uma lacuna que nem sabemos se as vão ocupar. Essa falta faz doer,
mas poderá se tornar em uma linda canção, tocada naquele velho saxofone.
Os amigos que sabemos ter e temos... Ah, esses
requerem suspiração... São Um, Dois,
Três, ou nem tanto ou nada mais... Não são tipos, não precisam ser antigos, mas
precisam ser Amigos. Amigos num sentido que não se explica, nem se conceitua,
só se sente e se percebe em atos ou até hiatos. Nascem de surpresas afetivas,
que não são essenciais à vida, mas plantam sementes de vida. Crescem à luz de
muita verdade, regados pela sinceridade e adubados com afeto e perdão.
Fortalecem-se a cada passo conjunto, a cada segredo calado junto, a cada desejo
frustrado que a dois ou a três foi esquecido. Uns frutificam em um grande e
lindo amor... Outros preservam na Amizade o mesmo fiel sabor.
E, quando morrem, passam-se anos e a amizade
permanece na memória dos filhos, dos colegas, dos vizinhos, dos livros daqueles
sinceros amigos. E, após gerações a fio, é possível captar nos resquícios
sepulcrais um doce aroma destilado pela Amizade que jamais sucumbirá.
Aos meus Um, Dois, Três, ou nem tanto, ou não mais
que isso: Meus Amigos.
Bela crônica!!
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