quarta-feira, 18 de maio de 2016

AS APARÊNCIAS ENGANAM - Professor Ismael André


AS APARÊNCIAS ENGANAM
Professor Ismael André

Aquele grupo de amigos da universidade já tinha discutido todas as temáticas possíveis em uso na sociedade atual, porém, em meio ao respeito à diversidade de ideias, naquele dia, sucumbiram detalhes na discussão sobre o conceito moderno de família. Afinal, aquele grupo era eclético, principalmente, religiosamente falando, doeria no pesar das discussões.
- Para mim, o conceito de família é o núcleo formado a partir da união entre homem e mulher – afirmou um amigo, de essência e defensor da sociedade patriarcal.
O outro amigo refutou:
- Que nada, o conceito de família passou a ser baseado mais no afeto do que apenas em relações de sangue, parentesco ou casamento. Daí, podemos concluir que família de homem com homem, mulher com mulher, é aceitável socialmente.
As discussões continuaram. E naquele dia, me parece que tudo ocorreria sincronicamente: temática discutida com realidade vivenciada.
Seguiram para o almoço, os cinco amigos: Jó Maranhão, Gil Cruz, Renovaldo, Frantenor e Gerlumede.
Dois deles, Renovaldo e Gil Cruz, sempre foram considerados os mais chegados na amizade, amigos inseparáveis desde que se conheceram nos primeiros momentos da universidade. Renovaldo, homem sóbrio, respeitado, mas com certo nível de gracejador. Sempre contido. Gil Cruz, um baita cara genial, inventivo, talentoso, extremamente brincalhão. Tão astuto, que muitas vezes excedia sua genialidade. Um homem de natureza poética.
Ao entrarem no restaurante, todos se direcionaram a fila do almoço, de forma particular, os amigos inseparáveis seguiram lado a lado fazendo seus pratos. Entre muitos sorrisos e papos trocados, todos iam aos poucos se contentando nos seus afagos e contendo a verborragia.
A frente dos amigos, arrumava seus pratos um casal, uma bela senhora de sorriso meigo, cabelos lisos, olhos castanhos e seu esposo, um senhor bem humorado, elegante.
Se dirigindo para pesar os pratos e efetuar o pagamento, a moça que estava no caixa pergunta ao casal:
- Posso pôr juntos os valores?
- Pode sim – disse aquela senhora num ato de complacência e felicidade.
Os amigos Renovaldo e Gil Cruz eram os próximos a pesar seus pratos e trocavam entre si boas conversas, sorrisos, afagos de bons e verdadeiros amigos.
Quando Renovaldo se aproximou do balcão, a moça perguntou:
- Posso pôr juntos os valores?
- Como assim juntos? – Indagou, ressabiado, Renovaldo.
- Os senhores, não é um casal?
- Que história de casal, moça? Sou um homem de respeito, onde já se viu isso? – e continuou o discurso de indignação.
- Mil desculpas, senhor! É que com o novo conceito de família, eu achei...
- Eu achei, nada! A senhorita tenha mais cuidado nos seus achismos. Que situação!!!...
Os demais amigos, assistindo o episódio, riram naquele momento. Depois refletiram que por mais eclético que alguém afirme, sempre é desagradável aceitar uma conveniência alheia, embora a respeite.



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