Um dia
Estava hoje à tarde a me deleitar com a teoria da
crônica, feliz por descobrir o mundo em pequenos pedaços de papel amarelado.
Vi, então, passar diante de meus olhos três
velhinhas em direção a uma festividade junina. Elas trajavam saias muito
coloridas e com o bico das anáguas aparecendo pelo corte posterior. Blusas de
linho fino trabalhado, com botões simples como a essência da vida. Sapatinhos
pretos, bem confortáveis, sem modelo. São sempre iguais os calçados das idosas:
sapatilhas molecas ou coiotes... Como deve ser bom andar assim!
Elas caminhavam serenas, conversando, sem pressa. O
que pensavam? Como me viam a mim que as observava?
Parei de ler... Parei para senti-las. Parei para
sentir aquele momento sublime e simplório simultaneamente. Como devem ser
felizes aquelas velhinhas! Como devem sofrer! Como devem ter sido felizes e
sofrido no passado! Mas, puxa vida, como são serenas, parece que não fazem
parte da vida moderna e acelerada.
Imaginei como devia ser bom ser velhinha... Então me
dei conta de que já o sou e somos. Envelhecemos precocemente. Nós, os que
antecipamos os problemas com medo de não resolvê-los a tempo. Nós, os que nos
esquecemos de brincar com o pequenino do nosso lado em virtude do capitalismo
selvagem. Nós, os que nos escravizamos com roupas e calçados desconfortáveis
que não gostamos, mas acabamos usando para nos enquadrarmos em padrões
pré-moldados. Nós, os que não ousamos cometer a incrível façanha de parar em
caminhar serenamente conversando com amigos sobre coisas simplórias...
Pensando bem, não, nós não somos velhinhos... Quem
nos dera que fôssemos!
(Cecília
Nascimento)
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