domingo, 30 de agosto de 2015

O nosso povo no meio do mundo - Rosemilton Silva


As histórias que se seguem nesta narrativa não terá nome de algumas das personagens em função de puro esquecimento deste locutor que vos fala. São curiosidades de passagens que vivi ao longo do tempo e que, aqui e acolá, me retornam a lembrança meio cansada de guerra, não tão viva como há alguns anos atrás.
Pois bem, acho – lá vem a falta de memória – que por volta de 1974 estava perambulando pelo centro do Rio de Janeiro, próximo a Candelária e como já estava cansado de ir e vir sem ter o que fazer, resolvi “pegar um cineminha” com o dinheiro contado para voltar ao hotel mas com uma sobrinha para comer um pedaço de rapadura, coisa difícil de ser encontrada naquele local que não Feira de São Cristovão.
Como se dizia que a carteira de identidade de escotista dava direito a meia entrada comprei a dita cuja e parti pra cima do porteiro cheio de moral. O fulano, no seu uniforme bonito, todo cheio de botões dourados, olhou bem na minha cara e eu já fiquei ciente que não colaria o argumento. Ele, o porteiro, leu e releu a tal carteira e após os 40, 50 segundos disse: “Quem é este Manuel Ferreira da Silva?”. Eu, de pronto, respondi: “Meu pai. Está escrito aí”. Ele me olhou e sentenciou: “Olhe eu vou deixar você entrar por uma única razão: eu também sou de Santa Cruz”. Aí entendi a pergunta dele e disse “é Mané da Viúva”. Ele abriu um largo sorriso, e sentenciou: “Só tinha dois. Ou era Mané Pataca ou Mané da Viúva”. Esqueci o filme, ainda me devolveram o dinheiro e ficamos umas duas horas falando sobre a terrinha. Ele perguntando sobre todo mundo. E eu, não lembro o nome dele.
Houve um tempo em que Romualdo, meu irmão, resolveu se danar no meio do mundo. Passou por Brasília, na casa de Régia e Batista, foi vendedor de  loja e, por um destes caprichos do destino, foi parar em Manaus a convite de Neném e Gentil, filhos de Cícero barbeiro. Foi vendedor em farmácia mas acabou mesmo indo para Caracaraí, em Roraima, quando a cidade estava sendo construída.

Acabei aparecendo por lá, também. Determinado dia, ainda na construção da maior ponte do então território Federal, a Ponte dos Macuxis que atravessa o Rio Branco ligando Boa Vista a hoje municípios de Cantá, Normandia e Bomfim, eu e Romualdo fomos ver a obra de perto. E não é que um dos mestre-de-obras era um senhor do Paraíso!? E aí tome conversa sobre Pedro Severino, Antonio Mangaieiro, Faustino e seu misto, Cega Matilde na suas “Três bocas”, o alto do Cruzeiro, as cheias do Trairí, a travessia do rio numa balsa puxada no braço por uma corda estendida entre uma margem e outra ligando o centro – e só tinha o centro mesmo – ao Paraíso, principalmente nos dias de sábado, o dia da nossa feira... E eu não lembro o nome dele.

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