quinta-feira, 2 de julho de 2015

QUEM SOU? - Ismael André


O poeta é um mísero vivente, que não vive no seu ser. Ele chora, ele ri, contempla tudo o que quer, mas não escreve o desejado. No instinto ser humano, ele recorre a aprender acreditando em louvores. Só permite ao mavioso ser relatar o opulento poder instintal. No capacho grafite impotente deve força botar e arrebentara a celulose.
Pobre celulose. Pobre natureza!
Só exulta coincidir com aquilo que ele sente e não é dor. Mas é dor. A aflição, a agonia, a amargura, a angústia, A ansiedade, a consternação, o desgosto, a expiação do próprio ser. O luto, a mágoa, o padecimento, o pesar e até o purgatório a limitar o inevitável sonho de sonhar sozinho ao extremo instinto de viver; O sofrimento alheio que entrelaça a alma por atribuir-lhe aquilo que não tem, mas que busca ter; O suplício em constatar que no mais triste ser a alegria como ambigüidade estar expirando o que o não pode ser; O tormento, a tortura a audácia de suplicar aos dedos o que o coração sente; A tribulação, a tristeza corroem da alma a carne, ostentando em luxo pra quem ver e finge agradecer por não ver; Lastima-se por dó do outro e acaba comiserado feito um cão sem dono; É implacável assumir o que pressente no remessar coerente astuto de pensar.
Pra quem ouve, pra quem lê, pra quem almeja saber, tudo é perceptivelmente lindo, gracioso, Exultante, jubiloso, jovial, satisfatório. E deve ser assim, o soar do bardo é liquidar a ternura de quem concerne viver como o próprio ser.
Tudo esclarece na dor. A dor de expressar o que a máquina chora, o que a vida reluz em ascender, sem ao menos ter o privilégio de viver. O sonho é pesadelo e o pesadelo é sonho. A vida e a morte são sinônimas. Parece ridículo. Mas, é ridículo. Expor o que não é, da forma que é.
Rabisco é vida, textura escrita é loucura. E que loucura! Aspirar ao que aprendeu Respirando e inspirando o que jamais viveu.
Engraçado! Menear os sóbrios dedos entrelaçando um grafite que aparenta ser ridículo, mas que é brilhante. Se bem que brilhante são os metrôs, ou melhor, os trens balas musculares que ligam o que penso ao que escrevo. E aí por ternura sem demarcação, nem perímetro indicador, as palavras vão surgindo, o texto vai se formando, não por querer, mas por ser obrigado a fazer, como o solo que não pode recorrer quando a chuva demasiadamente vem e tremendas erosões asseveram a desmanchar o que era considerado normal. É assim que o mortal desmistifica e torna-se imortal. Isso é claro, quando o indivíduo opulento do momento quer. Quando o oposto ocorre, por mais sóbrio e arguto for, mas faceto ele será!
Que imprecisão! É assim que domino ser quando triste estou aparentando viver! Tudo isso me traz incerteza em ser o que não sou, e o que sou. Pois, transcendo todo o ser carnal ao mórbido e salutar instinto da escrita. Profundamente, não sei quem sou. Nem o que estou. Mas escrevo, e ela diz o que sou e o que não sou. E você o que me diz?

06/03/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”