O poeta é um mísero vivente,
que não vive no seu ser.
Ele chora, ele ri, contempla tudo o que quer,
mas não escreve o desejado.
No instinto ser humano, ele recorre a aprender
acreditando em louvores.
Só permite ao mavioso ser
relatar o opulento poder instintal.
No capacho grafite impotente
deve força botar e arrebentara a celulose.
Pobre celulose. Pobre natureza!
Só exulta coincidir com aquilo que ele sente e não é dor.
Mas é dor.
A aflição, a agonia, a amargura, a angústia,
A ansiedade, a consternação, o desgosto, a expiação do próprio ser.
O luto, a mágoa, o padecimento, o pesar
e até o purgatório a limitar o inevitável sonho de sonhar sozinho ao extremo instinto de viver;
O sofrimento alheio que entrelaça a alma por atribuir-lhe aquilo que não tem, mas que busca ter;
O suplício em constatar que no mais triste ser a alegria como ambigüidade estar expirando o que o não pode ser;
O tormento, a tortura a audácia de suplicar aos dedos o que o coração sente;
A tribulação, a tristeza corroem da alma a carne, ostentando em luxo pra quem ver e finge agradecer por não ver;
Lastima-se por dó do outro e acaba comiserado feito um cão sem dono;
É implacável assumir o que pressente no remessar coerente astuto de pensar.
Pra quem ouve, pra quem lê, pra quem almeja saber, tudo é perceptivelmente lindo, gracioso,
Exultante, jubiloso, jovial, satisfatório.
E deve ser assim, o soar do bardo é liquidar a ternura de quem concerne viver como o próprio ser.
Tudo esclarece na dor.
A dor de expressar o que a máquina chora,
o que a vida reluz em ascender, sem ao menos ter o privilégio de viver.
O sonho é pesadelo e o pesadelo é sonho.
A vida e a morte são sinônimas.
Parece ridículo. Mas, é ridículo.
Expor o que não é, da forma que é.
Rabisco é vida, textura escrita é loucura.
E que loucura! Aspirar ao que aprendeu
Respirando e inspirando o que jamais viveu.
Engraçado! Menear os sóbrios dedos entrelaçando um grafite que aparenta ser ridículo, mas que é brilhante.
Se bem que brilhante são os metrôs, ou melhor, os trens balas musculares que ligam o que penso ao que escrevo.
E aí por ternura sem demarcação, nem perímetro indicador,
as palavras vão surgindo, o texto vai se formando, não por querer, mas por ser obrigado a fazer,
como o solo que não pode recorrer quando a chuva demasiadamente vem e tremendas erosões asseveram a desmanchar o que era considerado normal.
É assim que o mortal desmistifica e torna-se imortal.
Isso é claro, quando o indivíduo opulento do momento quer.
Quando o oposto ocorre, por mais sóbrio e arguto for, mas faceto ele será!
Que imprecisão! É assim que domino ser quando triste estou aparentando viver!
Tudo isso me traz incerteza em ser o que não sou, e o que sou.
Pois, transcendo todo o ser carnal ao mórbido e salutar instinto da escrita.
Profundamente, não sei quem sou. Nem o que estou.
Mas escrevo, e ela diz o que sou e o que não sou.
E você o que me diz?
06/03/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”