Em 1965, aos 15 anos, fui para o Rio de Janeiro, estudar. Seria interno no Colégio São José, Marista, na rua Conde do Bonfim, no Alto da Tijuca.
Concluí lá o segundo grau e fiz vestibular em São Paulo, onde passei na Faculdade de Engenharia Industrial- FEI, em São Bernardo do Campo.
Cursei Engenharia Mecânica, na especialização de Máquinas e Ferramentas. Fiz até o segundo ano e resolvi trancar a matrícula para tentar o curso de Economia, que era um assunto que muito me interessava na época. Deixei em aberto a possibilidade de voltar para concluir o curso de engenharia, se algo não desse certo ou se eu não gostasse do novo curso.
Vinha pra Natal, sempre nas férias. Em 1969, falei com papai para comprar a passagem de avião, só até Recife, que eu teria um negócio pra resolver lá e viria de carro para Natal. Ele estranhou, mas concordou e no dia combinado ele foi com Duda, que era motorista da usina, em um fusca, me pegar no Aeroporto dos Guararapes, no Recife.
Do aeroporto seguimos direto para a Faculdade de Administração de Pernambuco, no encontro da Avenida Conde da Boa Vista com a rua do Hospício, no centro do Recife.
Chegando lá , peguei uma ficha de inscrição para o vestibular de 1970. Sentei no batente da escadaria da faculdade, para preencher a ficha.Papai sentou do meu lado e perguntou:
- O que você veio fazer aqui ? Respondi, "vim inscrever um amigo, para fazer o vestibular de Economia".
Comecei a preencher a ficha e novamente ele perguntou:
-Esse seu amigo tem o mesmo nome seu? Eu estava preenchendo a minha ficha, mas ele não sabia. Eu disse, -Em casa conversaremos, ele silenciou.
Foi a minha primeira escolha.
Chegamos em Natal e entramos na nossa casa, mas antes que eu pudesse falar com mamãe, ele me puxou pelo braço e nos trancamos no meu quarto.
- O que é que você está pretendendo ? Perguntou-me.
- Quero fazer o vestibular para Economia, respondi.
- Faça o que você achar melhor pra sua vida, me abraçou e saímos do quarto.
Meu pai foi a pessoa mais compreensiva e bondosa que eu conheci.
Fiz o vestibular em Janeiro de 1970 e entrei na Faculdade de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, onde me formei, economista.
Fui morar no Recife, mas todos os fins de semana eu vinha pra Natal e aos domingos ia pra fazenda em Santa Cruz, onde comecei a tomar conhecimento das atribuições na vida rural.
No último ano da faculdade, 1973, eu estava procurando estágios na área de economia ou administração e acompanhava junto à Sudene um projeto de Agropecuária que tínhamos na Fazenda Santo Alberto, quando um grupo de colegas me convidaram para fazer um teste em uma empresa de consultoria multinacional, a Arthur Andersen. Recusei, inicialmente, dizendo que não queria um emprego fixo e duradouro no Recife, pois minha intenção era voltar pra Natal.
Houveram muitas ponderações e insistências dos colegas, alegando que seriam quatrocentos inscritos, das Universidade Federal e da PUC-Universidade Católica de Pernambuco, e que seria apenas uma verificação de capacidade, uma vez que era para preencher apenas uma vaga. Algo despertou em mim, talvez o espirito de competição em uma área que estava apenas iniciando, mas na realidade era o desejo de saber se eu tinha realmente alguma capacidade.
Fizemos a primeira prova escrita e ficou apenas a metade dos concorrentes e eu estava entre eles. Fiquei animado. A segunda prova era oral e eliminatória, feita por um executivo brasileiro da empresa. Eliminou outra metade, restaram apenas 100 alunos, mas eu fiquei entre os 100. Mais uma prova oral, desta vez, feita por um executivo mexicano, que atuava no Brasil. Bem mais complexa e extremamente técnica, mas sempre dentro de uma visão empresarial, já que a função da Arthur Andersen era de consultoria em empresas públicas ou privadas. Saíram 80 alunos, mas eu fiquei. Restaram vinte.
A terceira e última prova oral, foi proferida por executivo Inglês, de alto nível e que falava um português arrastado com muito sotaque. Resolveu examinar cinco alunos por dia, com entrevista de uma hora para cada candidato. Eu estava na dúvida porque eu realmente não queria ficar, mas resolvi encarar.
A primeira pergunta foi, "quanto você quer ganhar"? Respondi imediatamente, "dez salários mínimos". Soube depois que foi a pedida mais alta do grupo, pois os outros querendo o emprego, colocaram valores ao redor de cinco salários. Como eu não pretendia ficar, achei que pedindo alto seria excluído.
As perguntas continuaram, em bloco e pedindo para fazer uma exposição sobre qualquer assunto empresarial que eu pudesse ter conhecimento. O assunto que eu lidava naquele momento, era o projeto da Sudene, que tratava de instalações rurais, tipos de capim para pasto e raças de bovinos mais adequadas para criar na minha região, o zebu, nelore ou guzerá. Foi sobre o que falei durante o meu tempo de prova. Percebi que o Inglês, ficou meio boquiaberto.
Uma semana depois, recebi um comunicado pedindo que eu comparecesse no escritório da empresa de terno escuro e gravata, para assumir o emprego e que o salário que eu pedi, seria pago.Passei a noite sem dormir, tinha que tomar uma decisão.
Cheguei cedo ao escritório da empresa no dia seguinte, sem terno e sem gravata e me apresentei ao Inglês. Ele disse que iria mandar me mostrar a minha sala e a partir de agora, dependendo do meu desempenho eu poderia ir ao Rio de Janeiro, para um curso de aprimoramento, depois à Cidade do México e finalmente Los Angeles, o que significava que eu teria que ficar fluente em inglês.Quando ele parou de falar, eu disse:
- Vim aqui me desculpar e agradecer, mas, não vou ficar.
Ele estupefato, balbuciou -Io nom acredito.
Levantei-me, apertei sua mão e me retirei. Soube, depois, que o segundo lugar, que era um estudante da PUC, foi chamado e assumiu. Resolvi que voltaria pra casa e ajudar meu pai e minha família a administrar os bens da nossa família.
Foi a segunda grande escolha da minha vida.
Chl
Jul/2015
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