segunda-feira, 4 de maio de 2015

PREMISSAS - Islla Moreira


Rua no fim. Ela se vai. Passos oblíquos. Preferiria ficar, vai saber... Mas teve de ir. “Pelo bom senso”, diria se acaso perguntassem. Lançava sua bandeira. Dois passos. Cheiro de ir embora. (Porque ir embora também tem cheiro.) Caminhava pela calçada, olhos fixos nos papéis jogados no chão, evitando qualquer pensamento que remetesse a olhar em outra qualquer outra direção. Andava, seguia. E mesmo esquina após esquina, a rua que estava no fim, parecia interminável. E eu apenas a observava ir, nada fiz. O vazio tomava conta e presumo ser cada vez mais maior. Agora ela corre... Estava atrasada, a vida com fome voraz a chamava. O silêncio, meu pior inimigo. Medo. Vazio. O sino badala sete horas. Nunca poderei esquecer. Ela foi, ela foi. Ela está indo e deixando os papeis para trás. Nas entrelinhas leu os astros “sorte de hoje: talvez ir seja o melhor caminho”. Eu preferiria um café bem quente. Mas, ela se foi. Talvez seja o tempo frio. O gelo que ficou, Deus sabe. Rasgos profundos num chão de cimento me impedem de segui-la. Fico aqui a observar. O sol deitava por trás do horizonte naquelas horas em que a vista não enxerga. Mas eu, eu ainda vejo seus pés. Já não sei se a culpa é minha. Ou quem sabe, de ninguém. Mas eu a deixei ir. Sensações. E o silêncio insiste em ficar maior. Regressão do tempo inteiro. E ela vai e me volta. Em meio ao caos. Descortinando o retrato. Permeando o meu caminho. De volta a meus braços. Por onde voar. Asas unidas. Aqui não tem amar. Tem o mar. Imenso. Sublime. Sutil. Num golpe te tira à vida. O mar cura. Amar(gura). Sem feitiço ou magia. Onda que vai, vento que vem. Sem sonho. Sonha(dor). Vida que vem. Somente. “Amar é ter um pássaro pousado no dedo.” Rubens Alves.

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