Rua no fim. Ela se vai.
Passos oblíquos. Preferiria ficar, vai saber... Mas teve de ir. “Pelo bom
senso”, diria se acaso perguntassem. Lançava sua bandeira. Dois passos. Cheiro
de ir embora. (Porque ir embora também tem cheiro.) Caminhava pela calçada, olhos
fixos nos papéis jogados no chão, evitando qualquer pensamento que remetesse a
olhar em outra qualquer outra direção. Andava, seguia. E mesmo esquina após
esquina, a rua que estava no fim, parecia interminável. E eu apenas a observava
ir, nada fiz. O vazio tomava conta e presumo ser cada vez mais maior. Agora ela
corre... Estava atrasada, a vida com fome voraz a chamava. O silêncio, meu pior
inimigo. Medo. Vazio. O sino badala sete horas. Nunca poderei esquecer. Ela
foi, ela foi. Ela está indo e deixando os papeis para trás. Nas entrelinhas leu
os astros “sorte de hoje: talvez ir seja o melhor caminho”. Eu preferiria um
café bem quente. Mas, ela se foi. Talvez seja o tempo frio. O gelo que ficou,
Deus sabe. Rasgos profundos num chão de cimento me impedem de segui-la. Fico
aqui a observar. O sol deitava por trás do horizonte naquelas horas em que a
vista não enxerga. Mas eu, eu ainda vejo seus pés. Já não sei se a culpa é
minha. Ou quem sabe, de ninguém. Mas eu a deixei ir. Sensações. E o silêncio
insiste em ficar maior. Regressão do tempo inteiro. E ela vai e me volta. Em
meio ao caos. Descortinando o retrato. Permeando o meu caminho. De volta a meus
braços. Por onde voar. Asas unidas. Aqui não tem amar. Tem o mar. Imenso.
Sublime. Sutil. Num golpe te tira à vida. O mar cura. Amar(gura). Sem feitiço
ou magia. Onda que vai, vento que vem. Sem sonho. Sonha(dor). Vida que vem.
Somente. “Amar é ter um pássaro
pousado no dedo.” Rubens Alves.
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