sexta-feira, 18 de abril de 2014

GALINHA EU GALO VOCÊ! - Nailson Costa


Segundo alguns historiadores, como Lucas e João, Jesus foi sacrificado às 12 horas, meio dia, e faleceu às 15h, numa sexta-feira da grande da paixão de seus seguidores. O problema é que esse fato se deu há quase 2 mil anos. E as histórias contadas muitas vezes mudam com o tempo em cada templo dos 3 tempos verbais. E as interpretações dadas podem se dar ao bel prazer de cada interesse. Jesus não disse que roubar galinha no sábado de aleluia não seria pecado, disse? Mas alguém disse a Cascudo que, com a desaparição de Jesus, roubar as galinhas dos ricos para comer com os pobres, não era pecado. Está lá nos compêndios das estórias pretéritas de Cascudo. E com Cascudo não se brinca! Só eu sei o que senti quando, do alto de minha inocência semântica, proferira a fatídica frase “Galinha eu galo você” na presença de papai. Pense num cascudo que tomei! Poxa, nem sabia de que se tratava, apenas ouvia de meus amigos aquela frase! É que papai era analfabeto, não entendia as entrelinhas das diversas colocações textuais, com parábolas desconexas e carentes das boas pontuações. Ou, quem sabe, as entendia demais. Para o meu insipiente aprendizado, o galo é forte, brigador e anuncia, todo dia, por 3 vezes, a chegada de mais um dia, com o seu belo e inconfundível canto, ao contrário da galinha, que é o substantivo feminino de galo, e ainda está no diminutivo, e, além do mais, bota ovos !Talvez tenha sido essa a indignação de meu pai. Mas se meus amigos, todos passados nas sete águas da macheza mais autêntica diziam, eu tinha que dizer também Galinha eu galo você, pra ser macho da gema mais pura da família dos galináceos. Resultado, tomei um cascudo estrondoso bem na crista de minha inocência! Eu nunca dou sorte quando quero imitar os outros! Eu estava pensando em copiar as façanhas dum determinado amigo meu, presepeiro de primeira grandeza, malhador de Judas e ladrão de galinhas de ricos para comer “c’os pobe” nos sábados de aleluia, mas não vou copiar não. Não dou sorte com esse negócio de imitar os outros, principalmente frases. Se pelo menos galo fosse verbo, eu poderia ter, antes de levar o cascudo, mudado o contexto, a pontuação, a semântica e a história, de modo que ela me beneficiaria, ao ser proferida assim, em pleno sábado de aleluia, há 40 anos, e papai, quem sabe, teria trocado o cascudo por uma aprovação tácita, ao ouvir de minha astúcia a frase “Galinha!? Eu galo você?”, ou até mesmo, “Galinha eu?! Galo você?!”. Talvez eu tivesse aprendido, quem sabe, a malhar melhor o Judas e um grande número de galinhas teriam sido devidamente roubadas nos muitos sábados de aleluia! 

18.04.2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”