sábado, 25 de janeiro de 2014

ESPASMOS DE GAFIEIRA - Jessier Quirino



A madrugada sonâmbula
Desperta de cara inchada
E quando espreguiça os braços
Espalha brechas de luz.
Pelas gretas da janela
Assisto a uma cena bela
Musicada a rouxinol
É uma aurora escanchada
De pele rubra borrada
Parindo gema de sol.
Có-ró-có-cós espaçados
De galos gogós-de-sola
E encarrilhados tô-fracos
Dos guinés, frangos-de-angola
Mugidos, silvos, trinados
E restos de conversados
Ruídos de mundo afora.
Canecos dão seus tibungos
Lá no pote da biqueira
E banham lerões de nylon
Com seus Colgates pastosos
De hálitos brancos frescosos
Nos céus-das-bocas riseiras.
E o sino alegre blom-blim-bla
Um blom-blin-blá animado
E as velhas de boca funda
Que insistem em ter pecado
Mastigam seus Pai-nossos
E Credos, bem mastigados.
Cá pra nós os pecadores
Uma brisa viajeira
Trás um cheiro de pão doce
Crioulo, brote e carteira
Mas não haverá café…
…Sinto um fervor de fogueira:
No arame, tua saia
Maldosamente ensaia
Espasmos de gafieira.

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