quinta-feira, 11 de abril de 2013

Caos, Violência Urbana e seu Combate Caótico - Professor Theo Alves



Sou quase um estrangeiro em Santa Cruz. Na verdade, moro aqui há menos de quatro anos, embora já trabalhe na cidade há seis, mas ainda não me sinto muito à vontade para criticar a casa, como quem reluta em dizer ao anfitrião que o molho servido é desagradável. No entanto, não é possível calar diante do horror que tem se instalado sobre a cidade a partir das mais recentes manifestações de violência.

Os acontecimentos estão cada vez mais próximos ao caos urbano: uma cidade com menos de 40 mil habitantes que se dá ao luxo de ter assaltos e assassinatos diários, roubos e pequenos furtos a qualquer hora do dia, arrastões em plena feira-livre e o mais absurdo: um arrastão dentro de uma escola pública. Os cidadãos já relutam em sair de casa, há um toque de recolher não oficial instaurado, a inversão da prisão das grandes cidades já chegou aqui: as pessoas se trancam para o mundo por não poderem impedir que o mundo invada suas casas, mães e pais temem pelo presente de seus filhos, escondem-se, protegem-se, anulam-se.

É preciso dizer que a situação não é nova. Desde minhas primeiras passagens pela cidade, o cenário já estava desenhado, embora a intensidade fosse menor. Mas problemas como este, se não solucionados corretamente, tendem a crescer e a devorar quem os alimenta. Não é diferente em Santa Cruz.

Diante do caos, os famosos “jogos de empurra” do poder público se intensificam: a administração municipal culpa o estado, enquanto o estado finge não ter culpa. Tolo é o cidadão que acredita na inocência de alguém nesta história. O problema da violência urbana por aqui vem de longe, passou por administrações públicas diferentes e desemboca na atual. Uma coisa em comum há entre todas elas: a apatia. As discussões e transferências de responsabilidade se repetem e nenhuma resposta digna é dada aos cidadãos, que também não a exigem. 

No momento, a prefeitura fala em mais policiamento. Fala apenas. Efetivamente, nada foi feito. O governo estadual não fala nada: é característica do governo Rosalba ignorar problemas, esquivar-se deles em lugar de solucioná-los. Aliás, pelo que se diz, a impressão que tenho é que o problema não será resolvido principalmente por um detalhe: as administrações públicas não sabem o que fazer, limitam-se à repetição do velho clichê “mais policiamento, mais viaturas, mais armas...” Esquecem-se de que mais policiamento é apenas parte da solução, a parte mais imediata e superficial, simplória. Policiamento mais equipado e maior efetivo permitirão o combate direto às formas de violência estabelecida, porém não resolverá suas causas. 

É um paliativo que se permite cobrir a ferida, mas não o câncer que a causou. Faltam ações sociais, culturais, educativas e de lazer, além da possibilidade de uma vida decente, de um trabalho decente, decentemente remunerado; faltam perspectivas de uma vida mais justa e menos excludente, menos humilhante e mais honesta. Faltam porque são uns poucos grupos ou pessoas que ainda exercem de forma hercúlea e altruísta alguma força para amenizar problemas sociais. E fazem isso não com o auxílio do poder público, mas apesar dele.

Outra atitude se faz imediatamente necessária: frequentemente vejo o desprezo espalhado por várias camadas sociais – inclusive por parte da administração pública – em relação aos bairros periféricos. Tratam-nos como se fossem um expurgo, um rejeito da cidade. A população lida com bairros como Paraíso e Maracujá como se os problemas de lá não fossem seus também. A violência passou a incomodar quando invadiu o centro da cidade, entretanto pouquíssimo tem sido feito para amenizar as angústias de segmentos sociais absolutamente destratados, como alguns dos que sobrevivem nesses bairros.

Para amenizar os problemas que geram violência em Santa Cruz são necessárias duas coisas: estratégias e tempo. Estratégias de combate imediato e em longo prazo, tempo para que as mudanças, que precisam haver, possam surtir efeito. Se nos limitarmos ao aumento do efetivo policial, teremos mais presos, mas não teremos menos violência. É preciso saber agora quem se dispõe a participar da mudança.

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