1. Alessandro, você é um homem
de múltiplos talentos e formações; Comece falando sobre isso.
Amigo Gilberto, antes de mais
nada, quero lhe agradecer o convite de poder partilhar minha experiência de viagem.
Sou professor da rede pública
de ensino e no momento exerço o cargo de gestor da Escola Estadual Professor
Ribeiro. Tenho pós-graduação em língua portuguesa pela UFRN. Possuo também
formação em psicanálise. Adoro poesia, sempre que posso faço alguma e envio
para o blog da APOESC, em que você gentilmente publica. Sou um ser muito
curioso e dotado de um desejo profundo de aprender novas coisas.
2. Ao retornar da Itália, eu
lhe disse que você nunca mais seria o mesmo. Você retrucou dizendo que, pelo
contrário, você tinha se tornado mais você. Que quis dizer com isso?
Fui criado em um lar católico
e me tornei católico. A viagem à Itália teve uma motivação religiosa. Ela
aconteceu devido a um evento que ocorre em Cássia, na Itália, todos os anos, em
que, entre paróquias do mundo todo, que tem Santa Rita de Cássia como
padroeira, uma é convidada a celebrar a Gemelaggio. Uma celebração em que torna
essa paróquia e a de Cássia, irmãs. E foi isso que me levou a esta viagem. E
toda a experiência religiosa tida naquele lugar, apenas me deu a confirmação de
ser e continuar católico. Algo que jamais duvidei. Um caminho de fé e amor em
Cristo Jesus.
3. Em que cidades italianas
esteve e em quais lugares?
Eu estive em Cássia,
Roccaporena (povoado de Cássia), Vaticano e Roma.
4. Entendo que encontrou
brasileiros na Itália, além de ter ido com alguns conterrâneos e pessoas mais
íntimas. Como foi essa experiência?
A comitiva de Santa Cruz foi
formada de pessoas maravilhosas e grandes companheiras e companheiros de viagem.
Foi para mim um momento de aproximação, afinal, foram sete dias de viagem. Estive
com pessoas com as quais quase nunca tenho a oportunidade de conversar, mesmo
morando em uma cidade pequena como Santa Cruz. Adriano, meu irmão, grande
articulador dessa viagem em Santa Cruz, sua esposa Maria José, Padre Vicente,
Pároco denossa cidade, Josemar Bezerra e sua esposa Monalisa, Terezinha Gonçalo,
Iranilson Silva e Enne, Coordenadora da Shalon, grupo religioso, em nossa cidade.
Todos eles, sem exceção, foram pessoas encantadoras durante toda a viagem. E
parte desse espírito de companheirismo e religiosidade se deve ao sentimento
nutrido por nossa padroeira Santa Rita de Cássia.
Encontrei brasileiros no
Vaticano, durante a benção papal, momento em que milhares de pessoas do mundo
se fazem presentes na praça de São Pedro. Todos muito felizes e solidários por
encontrar compatriotas, mas é um contato muito rápido. Tivemos a oportunidade
de encontrar o nosso conterrâneo e seminarista Francisco que está estudando em
Roma. Uma pessoa muito querida por todos da igreja de Santa Cruz.
5. Discorra um pouco sobre os
europeus com quem esteve em contato. Qual sua impressão geral sobre a Itália
depois dessa viagem?
Todos foram muito solidários e prestativos conosco. Todos
aqueles que estiveram aqui em Santa Cruz nos receberam com uma alegria sem
igual. Acolheram-nos como irmãos. Padre Mário, e todos os outros clérigos, o
Prefeito de Cássia e Vereadores. Marta Ferraro foi a que esteve a maior parte
do tempo com a nossa comitiva. Sempre nos orientando para onde deveríamos ir, o
que iria acontecer e fazendo traduções para nós. Foi uma pessoa fundamental e
muito gentil para com todos e que hoje sente muita
honra de ter recebido o título
de cidadã santa-cruzense. Quanto à Itália, é um país belíssimo e que preciso
retornar um dia para conhecê-la melhor. Um lugar de muita história que nos diz
respeito.
6. Houve algo em especial que
o emocionou nessa viagem? Chorou alguma vez?
Sim. Creio que o momento mais
emocionante que vivi foi o de encontrar o corpo incorrupto de Santa Rita de
Cássia. Não contive as lágrimas. Outros momentos me emocionaram muito, mas este
foi realmente muito forte.
7. Fale sobre a cultura de
preservação que parece caracterizar toda a Europa e que lições a Itália tem a
nos dar neste campo.
Há um cuidado exemplar em
preservar a história. Precisamos aprender com esse povo a manter viva nossa
memória. E pode se perceber isso na infinidade de monumentos, na arquitetura,
na arte existente nesses lugares.
8. Nós, santacruzenses e
brasileiros, de algum modo nos sentimos representados por vocês ao empreenderem
essa viagem; descreva-nos cenas que foram marcantes aos seus olhos.
Uma linda cena que lembro é a
de ter visto a bandeira do Brasil nos recepcionando na entrada da Igreja em
Cássia em nossa primeira visita a Igreja onde se encontra o corpo de Santa Rita
de Cássia. Estar distante de nosso país aflora o espírito patriótico. E todos
os momentos solenes em que estávamos ali representando Santa Cruz e o Brasil.
9. Alguns têm vontade de ir,
mas temem pelos altos custos e barreiras linguísticas; que diria aos que têm
tal preocupação?
Vale muito a pena economizar e
fazer uma viagem como essa. A língua pode ser uma barreira, mas nada que não se
possa superar, aprender algumas frases básicas pode ajudar em alguns momentos,
mas o ideal é que se procure uma empresa de turismo para orientar.
10. Que aspectos da paisagem
natural ou humana mais chamaram sua atenção?
Os lugares lhe pareceram
maiores ou menores que o imaginado? A paisagem é muito particular, em Cássia e
Roccaporena, o clima, as montanhas, a natureza em si, alimentam o nosso
sentimento religioso. Já em Roma, centro turístico, o que me chamou atenção foi
a concentração de pessoas advindas lugares muda, é belíssima, e muito
particular daquele clima, mas pessoa é pessoa em qualquer lugar. Dotadas de
capacidades, defeitos, sentimentos etc.
11. Que lugar em especial
chamou sua atenção? Para onde pretende retornar ou o que pretende visitar numa
segunda viagem?
Quero muito voltar a Cássia e
Roma. Roma é uma cidade fascinante, mágica, encantadora. Enche-nos os olhos.
12. Vemos que sua inspiração
foi fortemente impactada nessa viagem, conforme demonstrado nos vários poemas
seus que temos publicado? Há algo mais a se esperar de Alessandro como fruto
dessa viagem?
Estou fazendo uma pesquisa
mais aprofundada sobre Santa Rita de Cássia. Espero que isto dê fruto e que eu
possa produzir e apresentar ao público. O tempo dirá.
13. Fale sobre uma experiência
marcante da viagem.
Escolher uma é difícil, fora a
visita ao local onde se encontra o corpo de Cássia, ocorreu em Roma, quando já
caindo à noite, as luzes acesas, fui até o terraço do mosteiro Agostiniano em
que ficamos hospedados, no centro de Roma, próximo ao Vaticano e de lá pude ter
uma visão panorâmica da Cidade Eterna. Meus olhos não deram conta de tanta
beleza.
14. Você voltou mais católico
ou menos? Por quê?
Creio que minha fé voltou mais
fortalecida. Diante de tanto exemplo de santidade, Cristo volta o seu olhar
para mim e diz: Levanta-te e segue-me.
15.Que diferenças percebeu
entre a liturgia e religiosidade católica italiana em relação ao Brasil?
A liturgia é a mesma, mas a
forma de religiosidade das pessoas é que muda, tendo em vista que a cultura tem
um papel preponderante.
16. O papa atual tem falado
numa crise de fé alarmante que tem invadido a Europa. Acha que a Itália também
passa por isso? A que você atribui essa falta de espiritualidade em países que
têm abundância de monumentos à fé, a que buscam preservar a todo custo?
A crise da fé tem chegado ao
mundo todo. Não saberei dizer como isso ocorre na Itália, mas infelizmente este
é mais um dos frutos do materialismo em que estamos mergulhados. A resposta a
tudo isso virá com o tempo.
17. Além do corpo de Santa
Rita, que mais lhe pareceu uma prova viva da fé?
O corpo incorrupto de Santa
Rita não é uma prova viva da fé, mas um sinal, para todos que a veem
constatarem o quão grande foi seu amor pelo Cristo Eucarístico e Crucificado,
assim como o milagre eucarístico ocorrido em Cássia, em 1930, onde um sacerdote
foi chamado para dar o santo sacramento a um enfermo. Colocou uma partícula
consagrada entre as páginas de seu breviário e o segurou em baixo do braço. Ao
abri-lo para retirar a hóstia consagrada constatou a marca de sangue sobre as
duas páginas. Até hoje, está lá uma das páginas do breviário com a marca de
sangue.
Em determinado momento da
história de Cássia, de muita violência e sofrimento daquele povo, Cristo
mostrou sua face, para lembrar-nos que Ele é o caminho. E Rita foi o
instrumento para a pacificação, através do perfume de sua fé. E vê-la, tão de
perto, incorruptível, dá-me a certeza do poder que emana de Jesus.
Se posso dizer que há uma
prova viva da fé são todos aqueles peregrinos que para lá vão, vindo de todos
os lugares do mundo, orando a Deus e aprendendo com o exemplo de Santidade e
amor a Jesus Cristo que nos deu Santa Rita de Cássia e as monjas e monges que
cuidam tão zelosamente daquele lugar.
18. Dezenove anos após sua
morte, o corpo de Napoleão estava em bom estado e foi exumado; temos visto
casos de corpos, múmias naturais (como é o caso do caçador Ötzi) que resistem a
decomposição devido fatores climáticos (no caso de Napoleão teria sido
arsênico). Por que isso não poderia se aplicar ao que sucedeu com Santa Rita?
Seu cadáver teria sido coberto com cera e apenas suas mãos e rosto estariam
intactos. Expresse-nos sinceramente o que pensa sobre isso.
Não acredito que tenha sido
assim com o corpo de Santa Rita. Seu corpo já possui mais de 600 anos. É o
corpo de uma mulher que viveu mais de 75 anos. Apenas sua pele escureceu por
terem exposto, depois de um terremoto ocorrido na região a centenas de anos atrás,
as intempéries do tempo. Exames já foram realizados e nada foi constatado. Isso
é uma questão de fé, estando perto como estive e sentindo as emoções que senti,
confirmo o poder de Jesus que se manifesta no corpo de Santa Rita. Mas o
importante não é o corpo dela, mas seu exemplo e sua lição de cristandade, como
nos lembra Remo Piccolomini, em seu livro “Santa Rita il respiro del perdono”
ao se referir a mensagem transmitida por ela com seu exemplo de vida: “Il
messaggio che oggi ci dá in termini molto attuali, lo sintetizzamo in tre
punti: il messaggio del perdono, della pace e la devozione all'umanità di Gesù
Cristo.” (A mensagem que hoje nos trás em termos muito atuais, a sintetizamos
em três pontos: a mensagem do perdão da paz e da devoção a humanidade de Jesus
Cristo.) (tradução feita pelo entrevistado)
19. A quem agradeceria
relativamente a esta viagem?
Agradeço de forma especial em primeiro lugar a
Deus, a Padre Vicente, nosso pároco, que me permitiu fazer parte da comitiva,
ao Vereador Lucicláudio, o qual fui representando, ao meu irmão Adriano, que
teve papel importante na realização desse evento em Santa Cruz e em Cássia, a
minha família, que soube suportar minha ausência, aos cassianos que nos
receberam tão bem, a Marta Ferraro, aos monges e monjas Agostinianos de Cássia
e de Roma e a Santa Rita de Cássia.
20. Deixe-nos uma reflexão;
sinta-se à vontade quanto às palavras finais.
Quero agradecer o espaço do blog
para compartilhar minha experiência e desejar que outras pessoas também
realizem o sonho de poder fazer uma viagem como esta. Vale muito a pena.
Obrigado
Bella testimonianza dall'amico Alessandro! Complimenti!! Mi auguro che tanti altri Santacruzensi, abbiano l'opportunità di andare lontano e rappresentare la nostra gente!
ResponderExcluirEdgley de Souza.
Foram dias inolvidáveis cheios de magia!!
ResponderExcluirForam dias assim especiais que tb Roma a minha cidade a cidade onde nasceu e onde morei muitos anos pareci aos meus olhos diferente...muito mas linda se para Roma isso é possível!! :-)
Amei gastar o tempo todo com os meus amigos e agora tb conterrâneos santacruzense.
Obrigada a todos vocês e a S. Rita. Irmãos na fé pra sempre!!
Bonito testemunho Alessandro! Imagino qual foi a tua emoção. Rita tinha razão,nada é impossivel porque a solução encontra-se sempre na vontade, encontra-se em cada um denós, ainda é necessário ter o desejo .
ResponderExcluirMais uma enriquecedora entrevista com o nosso amigo Alessandro.
ResponderExcluirGilberto,
ResponderExcluirÓtima entrevista com Alessandro. Seria interessante conhecermos o ponto de vista de outro(s) membro(s) da comitiva (Pe. Vicente, Maria José, Adriano, Josemar, Terezinha,...). Espero não estar sugerindo mais trabalho para você! rsrsrsrs
Fica a dica!
Alessandro, parabéns pela entrevista concedida! Mamãe também me descreveu a emoção que tomou conta de todos vocês diante do corpo de Santa Rita. Parabéns por manter a sua convicção religiosa, que eu bem sei que é verdadeira e de longas datas. Sei que essa emocionante viagem, cujo grupo representou tão bem essa aliança entre as duas cidades, foi como um aperitivo para que você e os outros possam voltar, para com mais tempo vivenciarem esta maravilha de país, que é a Itália, bem como visitar outras cidades europeias. Achei muito interessante a frase da poeta Lisbeth Lima, que conheço pessoalmente. Nos meus percursos dei especial atenção a riqueza cultural que nelas encontramos em profusão e ouvir alguém executando uma canção em um órgão centenário, com uma acústica perfeita, é realmente fantástico!
ResponderExcluirObrigado por todos os comentários.
ResponderExcluir