Maio desponta maiando
Pálpebras profundas e pértidas
Definham num alvorecer de pétalas
Antes de conhecer o sol
Marcado pelo cruel destino
De ser menino, nordestino
Lá fora o lírio branco
Dança embalado pela frívola brisa
Exalando seu perfume fúnebre
No candor do arrebol
Despede-se em procissão
Maria ou João
Sem dor, sem encanto nem pranto
Apenas o perfume do lírio branco
Tolhido pelo descaso
Fome, pobreza, cansaço,
Sarampo, difteria ou crupe,
Pneumonia ou desidratação
Desculpa. Da vida ou da morte?
Atribui-se ao destino
De ser menino, nordestino.
No silêncio a tumba fria
Sozinho, sem carinho, sem nada
Jaz João ou Maria
Gélido, calado, sombrio
Sem escolha, sem luta, sem estrada
Somente ele e o lírio branco
...
Chuvas cairam... rolaram...
Janeiros... Fevereiros... carnavais...
Mudou o tempo, o vento, os destinos
O voto tornou-se assassino
Dos meninos nordestinos
Vacinas, remédios, medicina
Porém, a barriga vazia. Ironia!
Enquanto a hipocrisia
Fizer seu império fétido
Os nossos meninos
Continuam amortalhados
Sem ecoar o seu grito de liberdade
Permanece a tumba fria...
Sombria, escancarada!
Rita Luna/1996
Escrevi essa poesia em memória ao grande número de crianças que eu vi morrer na minha infância. Apesar de muita coisa ter mudado é preciso que nossos governantes tenham um olhar de misericórdia para com as crianças dando-lhes educação de qualidade, formando cidadãos cultos, íntegros e religiosos.
Maravilho poema ! Parabens Rita
ResponderExcluirMaravilhosos os poemas da professora Rita Luna. Ela une perfeitamente texto inteligente, riqueza vocabular e análise social. Dá gosto ler!
ResponderExcluirParabéns, professora!
Obrigada caro poeta Teixeirinha.Suas palavras são um bálsamo para
ResponderExcluirmim. Valeu mesmo. Rita Luna