Ao longo dos anos tenho me incomodado com a maneira como os livros têm sido tratados em nossas escolas: são jogados, riscados, usados para nos proteger do sol, da chuva e assim ficam sujos, orelhudos e feios. Livro é tratado como apetrecho. Alguns alunos tiveram a péssima ideia de na escola ou nos assentos dos transportes escolares sentarem sobre os livros para não sujarem a roupa. Outros reclamam que os livros são pesados demais para serem levados diariamente à escola. A estes, vez por outra pergunto se uma mãe pensaria nas longas horas em que teria de conduzir seu recém-nascido que pesa quatro, cinco e depois seis ou mais quilos. O que deveria ser um incômodo é puro prazer. Não me ocorre que do leitor o livro não tenha que receber tratamento semelhante e digo mais: professores devem interromper aulas, motoristas não devem prosseguir viagem, enquanto não se certificarem de que livros não estão sendo mal tratados.
As iniciativas à revelia com os livros justificam nossa péssima colocação quando comparam a educação brasileira com a do restante do mundo. Agindo assim, não há como questionar os dados. Monteiro Lobato estaria envergonhado conosco e com as tais estatísticas, pois dele é a célebre frase: “Um país se faz com homens e livros”.
É necessário que se reflita na importância dos livros para nossas vidas, pois livro é símbolo de conhecimento, de sabedoria e mesmo quando exposto à nossa avaliação, permanece irrefutável e sempre além do nosso conceito, não se eximindo de sua soberania. Não deixemos de considerar também que livro é a mais fiel identidade de um estudante. Respeitá-lo, reverenciá-lo é exercício de cidadania e significa que educação é levada a sério.
Vale o ditado africano: "Quando um homem velho morria, uma biblioteca era incendiada", pois a nossa relação com os livros é poeticamente simbiótica, que, segundo um dos conceitos, “consiste na associação de dois ou mais seres de espécie diferente, que lhes permite viver com vantagens recíprocas e os caracteriza como um só organismo”, sendo eles, os livros, efetivamente até então, os guardiões da mente da humanidade e por isso ai daquele que desde cedo não tem ido à escola ou que não adquiriu ainda a sensibilidade necessária para interagir com eles, em suas necessidades vitais e de fantasias, por seus ensinos, encantos ou poesia.
Para o educador Paulo Freire, “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca. E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. É assim que aprender é buscar, é interagir espontaneamente num sem fim e neste processo não conta ver livro sendo maltratado e se faz
contraditório aluno sentado sobre ele, até porque a transmissão do conhecimento não se dá através de osmose, nem está sendo cogitado que as nádegas façam parte do processo de absorção ou absolvição, teoria que me parece fora de cogitação e desconhecida no meio acadêmico.
Francisco Maciel - Japi/RN.
rsrsrs Tratou o tema com sabedoria, Maciel. Parabéns!
ResponderExcluirGilberto Cardoso dos Santos
Maciel,
ResponderExcluirAmantes de livros como nós, aplaudimos sonoramente esse seu espetacular texto!!!