domingo, 5 de fevereiro de 2012

O ÓDIO À POLÍTICA - Gilberto Cardoso dos Santos

Ensinaram-me, quando adolescente, que  deveria manter-me longe das discussões políticas. É provável que o leitor também, alguma vez, tenha sido incitado a não se meter em controvérsias partidárias. Eu e você já nos cansamos de ouvir muitos que,  manifestando profundo asco, dizem: “Odeio política!”
De fato, quando pensamos nos desmandos comuns às três esferas  do poder, somos possuídos pela indignação. As muitas decepções que tivemos sempre que apostamos neste ou naquele candidato, leva-nos a olhar com asco para a política. Todos “são farinha do mesmo saco”, como bem metaforiza a sabedoria popular.  A expressão bíblica “não há um justo, nenhum sequer”, tirada de seu contexto,  parece perfeitamente aplicável ao mundo da política. Pensar em política, para a maioria, é pensar em hipocrisia, em corrupção, em bandalheiras, em injustiça social, em mentiras. A palavra POLÍTICA fica ao nível de termos que provocam ojeriza.
No entanto, quando bem se analisa, percebe-se que ninguém, de fato, odeia a política. Odeia-se, sim, os maus políticos, as tramóias partidárias, as medidas tomadas ao arrepio da lei, as inomináveis flexões que são feitas a artigos constitucionais para garantir a impunidade de apadrinhados.  Odeia-se, em suma, a politicalha e jamais a política. O homem, como observou o filósofo  Aristóteles, é um ser político e social. A vida em sociedade exige-lhe ter tal característica. Rui Barbosa, no célebre texto em que busca diferenciar política de politicalha, afirma: “A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis”.  Já a politicalha, diz ele, “é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis.”
Quem discordará e se oporá a tais definições? Quando falamos mal do jogo sujo, dos conchavos partidários, do desvio de verbas e do riso hipócrita daqueles que só nos buscam em tempo de campanha, é de politicalha que estamos falando. Sabe a raiva que eu e você sentimos  daqueles que retiram o voto para que determinada CPI não ocorra, e isto por causa de pressões daqueles que, no passado, já foram exemplo de moralidade? É de politicalha que estamos tratando aqui, não de política. Quando vemos baixarias nos debates públicos, é politicalha o que estamos vendo.
A política, na verdade, beneficia a todos e se faz imprescindível à vida em sociedade. O problema é que fomos induzidos a misturar o genuíno com o falso, a confundir a verdade com a mentira, a reagir negativamente, como numa experiência pavloviana, a tudo que esteja relacionado a tal termo, devido tanto e tanto convivermos  com a politicalha. Mantenhamos a política ao menos como ideal utópico, inatingível em seu sentido absoluto mas em parte alcançável. Sufixemos, com letras garrafais e em negrito , tudo que seja  classificado como política mas que bem mereça rimar com tralha. Busquemos, como sugeriu Rui, contribuir para a higienização do país, do estado e da comunidade, praticando e promovendo a verdadeira política. Nada de odiá-la. Nós sempre a amaremos, a desejaremos e precisaremos dela.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS

10 comentários:

  1. Muito bom seu texto, Gilberto!
    Realmente ocorre muito isso. Devido aos demandos dos maus políticos, da politicalha, um boa leva de pessoas se dizem desencantadas com a política. Mas aí é que eles se enganam. Isso não é política, mas sim politicagem.
    Deixa-me triste quando vejo pessoas com um bom nível escolar, até colegas professores dizerem que odeiam a política.Os maus políticos odeiam ouvir esses relatos. Se os bons cidadãos não se interessam por ela, os maus políticos,os politiqueiros aproveitam para solaparem o Estado.Aí eles pintam e bordam...

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  2. Caríssimo Gilberto,

    O que dizer de um texto EXTRAORDINÁRIO como esse?!

    Permita-me apenas assinar embaixo!

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  3. Obrigado João!

    Obrigado, Teixeirinha!

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  4. Errata:
    "Onde se lê os maus políticos odeiam ouvir esses relatos",leia-se:"os maus políticos adoram ouvir esses relatos".

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  5. O analfabeto político é a mina de ouro dos pilantras, espertalhões. O analfabeto político é o cara que financia toda essa sujeira, é quem adora o candidato de sorriso encantador, simpático, lindo, que rouba, mas faz, sem saber que ama o seu próprio algoz.

    Hoje mesmo debati com uma criatura dessa espécie. Ele é ignorante, não tem senso crítico, não lê... Não tem o mínimo possível para compreender e enxergar a realidade.

    O mal que um estuprador traz à sociedade é enorme, mas não é nem de longe equivalente a toda dor, sofrimento, desgraça causada por um político ladrão e o analfabeto político não consegue perceber tamanha aberração, pois a falta de senso crítico o faz cego para coisas mais intrincadas, que pedem reflexão.

    Tudo isso é lamentável. Mas, continuo na luta, pois já consegui convencer, influenciar algumas pessoas. De muitas outras ( a maioria) ganhei o título de sabichão, arrogante. Enfim, ganhos e perdas.

    Parabéns pelo belo texto.

    Abraços.

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  6. O analfabeto político é a mina de ouro dos pilantras, espertalhões. O analfabeto político é o cara que financia toda essa sujeira, é quem adora o candidato de sorriso encantador, simpático, lindo, que rouba, mas faz, sem saber que ama o seu próprio algoz.

    Hoje mesmo debati com uma criatura dessa espécie. Ele é ignorante, não tem senso crítico, não lê... Não tem o mínimo possível para compreender e enxergar a realidade.

    O mal que um estuprador traz à sociedade é enorme, mas não é nem de longe equivalente a toda dor, sofrimento, desgraça causada por um político ladrão. O analfabeto político não consegue perceber tamanha aberração, pois a falta de senso crítico o faz cego para coisas mais intrincadas, que pedem reflexão.

    Tudo isso é lamentável. Mas, continuo na luta, pois já consegui convencer, influenciar algumas pessoas. De muitas outras ( a maioria) ganhei o título de sabichão, arrogante. Enfim, ganhos e perdas.

    Parabéns pelo belo texto.

    Abraços.

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  7. MUITO BOM,CARA!
    VC É DEMAIS...PARABÉNS PELO MARAVILHOSO TEXTO!

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  8. Francisca Joseni dos Santos7 de fevereiro de 2012 às 10:52

    Parabéns! Gilberto!

    Texto exemplar!

    Ao pronunciarmos a frase "EU odeio política" e ao fazermos disso uma ação verdadeira no nosso cotidiano estamos, em verdade, fortalecendo o jogo "politiqueiro" daqueles maus políticos que se beneficiam no poder através da aquisição do voto do povo em época de eleição.
    Uma outra frase bastante conhecida é: "Não faço política"... e, muitas das vezes estas pessoas que se escondem atrás do muro da neutralidade, não sabem que qualquer posição que o cidadão toma seja ela de direita, de esquerda, de centro-direita, entre outras, inclusive a posição da neutralidade, estão tomando uma POSIÇÃO POLÍTICA, pois ou faço ou deixo de fazer e qualquer uma dessas ações terá uma resposta no futuro. Resposta esta que poderá beneficiar a população ou não.
    Temos que pensar melhor e refletir sobre as nossas posições e ações políticas. Temos que pensar que diante de nós existe diversos exemplos de má gestão e de malversação do dinheiro público, e que estas verbas públicas estão sob o poder de gestão do poder executivo (prefeitos e governadores) e que o direcionamento das políticas públicas em saúde, lazer, esporte, educação e demais direitos sociais garantidos constitucionalmente estão sob o poderio daqueles que elegemos para compor o Senado e a Câmara legislativa estadual e federal.
    Se a realidade do nosso dia-a-dia nos mostra a falta de atendimento na rede pública de saúde (bons médicos, remédios, exames de pequena, média e alta complexidade); esta realidade mostra também a falta de escola pública de qualidade e ausência de segurança pública, então nós erramos em algum momento e, com relação a esta "falta sincronizada" do acesso aos direitos legais para se viver em cidadania plena, o nosso erro se ocorreu no momento em que escolhemos alguns representantes políticos para defender nossos direitos, não sou do time que defende "todo político é igual" faço parte da equipe que defende: se o representante que eu escolhi não fez por merecer meu e os demais recebidos escolherei outro para votar.
    Francisca Joseni dos Santos - Professora

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  9. Obrigado, Joseni! Gostei de sua complementação.

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  10. Francisca Joseni dos Santos7 de fevereiro de 2012 às 14:44

    errata... "o nosso erro ocorreu no momento em que escolhemos..." "...se o representante que eu escolhi não fez por merecer o meu VOTO e os demais recebidos..."
    Francisca Joseni dos Santos - Professora

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