Voltei a casa da gente
Pra lá da curva do venha
Pra ver um fogão de Ienha,
Do tempo de antigamente.
Pra lá da curva do venha
Pra ver um fogão de Ienha,
Do tempo de antigamente.
Depois que o tempo passou-se,
A casa quase acabou-se,
A casa quase acabou-se,
Caibo,ripa, telha e linha,
E pra minha recordação
Encontrei só o fogão.
No recanto da cozinha.
E pra minha recordação
Encontrei só o fogão.
No recanto da cozinha.
Cercado pelos remorsos
Sem ter brasa, sem centelhas,
Lágrimas e sentimentos nossos,
Com cinza e caco de telhas.
Nas brenhas os ratos correndo
Encima aranhas tecendo,
Teias com manchas amarelas
Que o vento como um capricho
Jogando ruma de Iixo
Onde botavam as panelas.
Eu disse velho fogão
Sinto muito a sua ausência
Eu pequei por inocência
Hoje choro a separação
E de você já fui lenheiro,
Ajudante, cozinheiro,
Te acendi nos madrigais,
Hoje entre nos é verdade
Tem um fogo de saudade
Que ninguém apaga mais.
E de você já fui lenheiro,
Ajudante, cozinheiro,
Te acendi nos madrigais,
Hoje entre nos é verdade
Tem um fogo de saudade
Que ninguém apaga mais.
Nossa casa modesta,
Quando o dia iniciava,
Você sozinho cozinhava,
Pra dia e noite de festa,
Do que o teu bojo pioneiro,
Tinha Ienha de pereiro,
De aroeira e de angico,
Teus painelões cozinhavam,
E os ventos pra longe levavam
O cheiro de um Sertão rico.
Depois que os tempos passaram
Pra te botar pra trás
Os invejosos criaram
O tal do fogão de gás
Cheio de brilho, floreio,
Chama acesa, cano cheio,
Com toda modernidade,
Sem aguentar repuxo,
Vendido a preço de luxo
Ao pessoal da cidade.
Cheio de brilho, floreio,
Chama acesa, cano cheio,
Com toda modernidade,
Sem aguentar repuxo,
Vendido a preço de luxo
Ao pessoal da cidade.
Cadê o teu dono ingrato
Que atrás da modernidade
Hoje mora na cidade
E deixa-te aqui no mato,
Cercado pelos vasculhos,
Vive escutando os barulhos,
Como quem seja um pagão
Que Deus abriu os ouvidos
Pra escutar os gemidos
Dos seres da solidão.
Você está se liquidando
Nos mais pequenos pedaços
Feito um velho se acabando
Entre dores e cansaços.
Salvando a sua memória
Pra não deixar a sua história
Ficar perdida na brenha
Me unir a seu dilema
Te transformei num poema
É você, fogão de Ienha.
Autoria: Coroné Cafuçu,
Esse blog é sensacional, parabens a todos os os que fazem a apoesc.
ResponderExcluirPedro Thiago
Belo poema, chega a emocionar. Parabéns ao Coroné Cafuçu.
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