terça-feira, 17 de janeiro de 2012

PRESEPADAS DO CAPETA NO SHOW DA FÉ - G. C. dos Santos


       ORIGEM DA FOTO: BLOG DO WASHINGTON GERALDO CARDOSO


Eu, G.C. dos Santos, estive no Show da Fé de Romildo Ribeiro Soares, ocorrido em 2011 no Ginásio Marcílio Furtado. Como poderia deixar de ver, ainda que movido por curiosidade e não por fé, o show daquele que figurou nas páginas da Veja como o homem que mais aparece na TV e que, pela primeira vez, se achava entre nós? Visto de perto e sem o auxílio das estratégias de filmagem, pareceu-me menor e menos imponente.

Quando entrei, ele ainda não se achava no palco. Um outro pastor tentava estimular a generosidade dos fiéis vendendo dvds que falam da importância de contribuir com a obra de Deus, uma contribuição que gera contribuição. "Vinte reais", dizia ele, e gracejou: "Se você não tiver uma nota de vinte, não tem problema. Nós aceitamos duas de dez." Naquele clima de bom-humor, abriam-se os sorrisos e os bolsos.
Quando Romildo assumiu o palco, houve um verdadeiro frenesi. Esperto e já experimentado no contato com aqueles que o veem como um embaixador do céu, iniciou com uma seção de fotos para, em seguida, com os ânimos mais acalmados, iniciar sua conversa com a plateia. Conversa, digo, porque ele fala com todos como se falasse apenas com um. É de uma naturalidade impressionante. Com muita facilidade consegue penetrar nas almas e bolsos dos fieis.
Isto é o que entendidos em oratória chamam de técnica de dissolver multidões. Jesus a teria usado no episódio em que quiseram apedrejar

a pecadora. O indivíduo, antes de sentir-se parte do grupo, está a ouvir o missionário em tom quase confidencial, coloquial, como se fossem amigos há longo tempo, conversando a sós. Além disso, ele não cansa o ouvinte com sermões longos. Entre uma reflexão e outra, faz apelos de caráter financeiro.

Autoridades municipais estiveram presentes no palco com ele. Pediu que pusessem a mão na cabeça e ordenou em oração que todos seus pecados fossem perdoados; todas as enfermidades foram repreendidas; tumores receberam ordem para se retirar de imediato. Caso tenha valido a prece, saíram completamente limpos, reciclados, saudáveis, prontos para liderar o povo.

Mas algo triste, dissonante, ocorreu. Uma mulher endemoninhada começou a gritar e a esbravejar na entrada do ginásio. O missionário, ao invés de libertá-la, delegou a responsabilidade a obreiros locais. A atenção no ginásio ficou dividida entre o missionário e a possessa. Optei pela mulher, que se contorcia toda e rangia os dentes.
Em vão, pastores, obreiros e obreiras tentaram expulsar o intruso. Às vezes ele parecia sair - ou saía - mas logo retornava com todo gás. Fiquei bem próximo, acompanhando tudo. Não detectei qualquer sinal de fingimento na mulher. Se era farsa, estávamos diante de uma atriz perfeita, digna da Record. Parecia algo bem real. Vi o suor escorrendo dos obreiros e obreiras, a humilhação diante da multidão, a ineficácia de suas preces e gritos. Uma obreira da Assembléia gritou a plenos pulmões no ouvido da mulher, mas o demônio parecia surdo.
A indiferença de Romildo diante daquela cena grotesca também me chamou a atenção. Pôs-se a cantar com a multidão, como a querer abafar os sonidos horrorosos que a possessa emitia. Não pediu que a trouxessem até ele nem foi ao seu encontro. O tempo se arrastava e o milagre não acontecia. Romildo pediu que fechassem os olhos enquanto um outro pastor oraria e, como sempre ocorre em suas palestras, saiu de fininho do palco durante a oração. Quando os irmãos disseram amém e abriram os olhos, o homem havia desaparecido!

Uma criança, filha desta mulher, chorava em meio ao burburinho. Doeu-me ver tudo aquilo, a mulher exposta ao ridículo, às vezes semidesnuda, jogada ao solo, protagonizando um vexame que parecia interminável.
Como já passasse do meio-dia, precisei retirar-me. Saí, mas o demônio ficou.

Na manhã seguinte, encontrei um ex-gay, hoje convertido ao pentecostalismo, que estivera no evento, e troquei com ele algumas palavras:
- O que achou do culto de ontem?

- A-do-rei! Foi uma ma-ra-vi-lha! O missionário tem muita unção, não é?
- (...) E o demônio que estava naquela mulher, saiu?
- Saiu não, professor. Quer dizer... saía, mas voltava. Eu acho que aquela mulher já esteve envolvida com catimbó, tem o corpo preso. Antes de ser crente tem que levar ela no centro espírita pra quebrar as correntes.
Depois vi na TV, no canal da denominação, a gravação desse culto. Quantas bênçãos foram mostradas! Naturalmente não iriam passar tudo que ali ocorreu, mas só o que interessava à fé.
Uma das coisas que gostaria de ter visto e não ví foi esse episódio com a endemoninhada.

7 comentários:

  1. Belíssimo texto, Gilberto! Há uma passagem na Bíblia, não sei se no apocalipse, que diz mais ou menos assim: No fim das eras aparecerão muitos demônios travestidos de pastores, que enganarão os menos menos de tudo, inclusive de inteligência! E eu acrescento: Enquanto houver otários, haverá pilantras, saqueadores da fé e dos bens dos ababacadamente incautos!

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  2. Esse profº é bom mesmo,escreve bem demais,sô!
    Dizem que vc é ateu,mas acho que vc é uma pessoa consciente,pé no chão e cheio de opiniões e não é fácil de se alienar com qualquer coisa como essa,por ex.
    VC É O CARA GILBERTO!
    PARABÉNSSSSSSS!

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  3. Que texto, Gilberto!

    Por que demorou esse tempo todo para publicá-lo?!
    Suas reflexões são as minhas (sem querer colocar-me no mesmo nível que você nesse “quesito espiritual”, afinal suas experiências são enormes nesse campo!): quem afinal fala de Deus desprendidamente, sem nenhum interesse financeiro, sem transformá-Lo em um objeto venal?! Creio que uns poucos!

    Parabéns!

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  4. Eu tb penso como vc,mestre Gilberto!
    Não me engano com religiões e com charlatões e mesmo assim,sou cheia de Deus. Ser ateu é algo totalmente diferente.

    Maria Rosa

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  5. O capeta é presepeiro e ao que parece escolheu o lugar certo , embora que , a pessoa errada.

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  6. esse pastor é da IGREJA BISCATERIANA DO NORDESTE.
    eita cara de pau, e os besta ainda vão bater pamas.
    zeca de parelhas

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  7. Numa cena de atos tão cruéis
    Um larápio explora seu rebanho
    Num teatro de farsa sem tamanho
    Rouba a cena e usurpa seus fiéis
    Recolhendo dinheiro em seus tonéis
    Um pilantra percorre a multidão
    E um pastor com voz de charlatão
    Vende um lenço suado em plena praça
    No comércio da fé Jesus não passa
    De um produto vendido a prestação

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