segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

OS KUESTAS - Nailson Costa

 

Contar a saga de famílias famosas, importantes, não é novidade para ninguém, sempre aconteceu. A Rede Globo, algum tempo atrás, adaptou para a telinha a excelente obra Os Maias do escritor realista português Eça de Queiroz. Aliás, segundo as más línguas, essa adaptação despertou um grande ciúme da família Alves, tradicional oligarquia política do Rio Grande do Norte, que tinha como desafetos e adversários políticos a família denominada Maia. Conta-se que a família Alves ofereceu uma boa quantia em dólares ao canal de televisão SBT (que rejeitou de imediato tal proposta) para, também, adaptar para a telinha os seus feitos; claro, só os bons. É bom lembrar que naquela época os Alves ainda não eram detentores do canal de TV Cabugi. Talvez tenha sido esse o motivo de sua aquisição.
Apesar de a família Kuesta não ter a mesma fama de os Maias, os Alves, os Melos, os Ferreiras, os Souzas, os Medeiros, os Alcântaras, etc., a família Kuesta tem suas virtudes, suas façanhas, seus feitos dignos de registros.
Antes de discorrer sobre algumas das muitas virtudes dessa família, digo que ela emigrou de Portugal, veio de nau, naturalmente, com a colonização, e há quem diga que a expressão “Terra à vista, terra à vista” fora dita por um jovem rapaz dos Kuestas, designado pelo capitão da embarcação para aquele mister, exatamente por ser detentor de invejáveis cordas vocais. Graham Bell deveria ter pago à família Kuesta os direitos inspirais.
            Hoje, depois de espalhar várias sementes de sua árvore genealógica por todas as regiões do Brasil, podemos notar uma presença significativa dos Kuestas em terras potiguares, mais precisamente no interior do Estado, na Cidade de Acidadedojateve, ou SantoCrucificado, situada num pontinho insignificante do mapa, bem na transição do agreste com o sertão, ao norte de Santakorea (antiga São Bento dos Distraídos – nesta também verificamos uma forte presença dessa família).
            A maior qualidade dos Kuestas é, sem dúvida alguma, a honestidade, são extremamente honestos, a ponto de nenhum deles ter ficado famoso por  adquirir muitas posses.
            Loucos por fava, carne de porco, farinha e rapadura – alguns antropólogos da USP atribuem essa cultura alimentícia aos Kuestas – não dispensavam, aos domingos, uma peladinha depois do almoço, lá por volta do meio-dia.
            O futebol força, ou ação, como gostavam de chamar, era disputado entre eles no Sítio Oitifica, também conhecido como Lainói, propriedade do Sr. Alonso Kuesta.
            Lá em Lainói só era falta quando alguém quebrava a perna ou um braço, dedo não. Lá, muitas pernas e braços foram quebrados. A ortopedia potiguar deve alguns de seus avanços aos Kuestas.
 Alonso Kuesta,  que era dono do campo, da bola, do apito, etc. fazia as regras de acordo com as suas conveniências: se seu time, Cipódedaindoido Futebó Crubes, estivesse perdendo, tomava o apito e mesmo jogando, arbitrava a partida. Quando o adversário reclamava um escanteio ou um lateral a seu favor, ouvia um berro da autoridade:
<!--[if !supportLists]-->-          <!--[endif]-->Rã, (esse rã o leitor deve ler tossindo) aqui tudo é terra minha, a bola só sai
dispois daquelas serra lá!
            Geralmente a partida, que começava ao meio-dia, terminava, por volta das 10 horas da noite, isso quando não dava problemas.
            O currículo do Cipódedaindoido era bastante favorável. Só perdera uma vez para os seus parentes de Santakorea, e lá em Santakorea. Ainda hoje eles dizem que foram   traídos pelos Distraídos, pois levaram 11 jogadores e só puderam  utilizar 5.
            Na verdade, essa partida fora disputada em um piso de cimento queimado, e os Kuestas de cá, ou seja, o Cipódedaindoido, que só jogavam descalços, foram obrigados a usar chuteiras (arranjadas em cima da hora) o que dificultou bastante a permanência em pé dos atletas do Cipó. Peidum Kuesta, excelente lateral esquerdo, considerado por muitas fábricas de perfume francês tão bom quanto Nilton Santos e até melhor do que alguns dos seus novos lançamentos, de tanto bater com o frasco no chão, não conseguiu embebedar, ou melhor, marcar ninguém. Fora, com dez minutos de jogo, substituído por Rapapernum Kuesta.
            O futebol de salão, assim  como a alta qualidade das fragrâncias francesas, podem, portanto, ter  sido frutos das práticas dos Kuestas.
            - Rã, dá nas aicata dele – gritava do banco, Dedum Kuesta, especialista na artimanha de expulsar o craque adversário. Dedum só tinha um único dente, o do canto inferior direito.
            Alonso, preocupado em não tomar mais um gol, pois o placar já estava em 23 x 0, colocou Dedum, que tinha por função marcar o craque adversário Oidepimba. Na primeira jogada, Dedum enfiou o dedo no boga (do sânscrito “aquilo mesmo que você pensou”) de Oidepimba o qual reividou rodando a mão na boca de Dedum. Resultado: Oidepimba fora expulso e o placar mantido.
            A “Teoria do Medo de Alma” e “Introdução aos aspectos positivos da frouxidão”, desenvolvidas pela equipe de psicólogos da Universidade da Califórnia, baseadas em exaustivas observações do comportamento dessa família, são, como tantas outras, contribuições significativas dos Kuestas para o desenvolvimento da humanidade.
            Os Kuestas não são e nem pretendem ser como os Maias, os Alves, os Melos, Magalhães, Malufs, etc., ricos, eruditos, poderosos, famosos e televisivos. Porém, eles têm seus feitos, suas virtudes, suas glórias, e preferem contá-las todas as noites, reunidos em suas calçadas. Eu as ouço todas, rio e as respeito, mesmo estando a três quilômetros de distância.

                                                                                 ( Nailson Costa, 2003)

Um comentário:

  1. Uma bela história , nesse tempo as pessoas eran ginestas r corajosas ,não é como hoje ,onde você não tem nem ao menos a tranquilidade de ir a um estadio com a família.

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