domingo, 25 de dezembro de 2011

EDUCAR, PARA QUÊ?

Dando continuidade à troca de ideias  iniciada em APROVAÇÃO E REPROVAÇÃO EM DEBATE, temos aqui a importante participação de Marcos Cavalcanti, que é ex-professor, poeta e apaixonado pela questão educacional.





Talvez uma resposta muito recorrente para esta questão seja: educar para a vida, ou então, educar para que se viva o melhor possível no mundo. Tomemos, pois, como exemplo de nossa reflexão, uma espécie de Moogli. O menino lobo aprendeu com sua alcatéia e na interação com os outros animais e plantas, a viver e conviver com a natureza, seu habitat. Pôde viver toda a sua vida na floresta, enfrentando os desafios na luta pela sua auto-preservação, sem conhecer qualquer noção do que seja a tal da “felicidade” ou “o vencer na vida”. No dia de sua morte os lobos se reuniram, lançaram seus uivos lancinantes para o céu em agradecimento à existência daquele companheiro.
Muito bem, semelhante exemplo hipotético e menos ficcional podemos aplicar agora a um menino indígena. Viveu em sua taba, falou a sua língua, aprendeu a caçar, a cultivar, a colher, a amar, a dançar e também a cultuar a memória dos mortos. Finalmente morreu sem ser detentor de conceitos mais elaborados sobre a mesma felicidade e o vencer na vida. Em sua tribo havia muitos outros que faziam tudo que ele fazia em grau melhor ou pior do que ele, todos tendo recebido dos anciãos e dos pais, os mesmos ensinamentos e tendo passado pelas mesmas provas.
Agora, façamos uma intervenção radical no viver destes dois seres exemplificados acima. Retiremos-lhes de seus respectivos habitat’s e os coloquemos numa outra selva, a selva de pedras, uma São Paulo, por exemplo. Eles se depararão com um novo mundo e terão que se adaptar rapidamente para poderem sobreviver, ou do contrário, sucumbirão. A vida é isto meus amigos, uma série infindável de possibilidades, num espaço de tempo, que se somam aos acasos ou oportunidades, aos interesses pessoais, as condições físicas e psicológicas do sujeito e a interação com os diversos meios disponíveis (tecnológicos, paisagísticos, educacionais, humanos, culturais, etc) . Assim, a vida nos dá os Machados de Assis, os torneiros mecânicos, os garis, os PHDs em qualquer coisa,  o pajé, o padre, o juiz, o prefeito, o poeta,  o papa e o serial killer. Cada qual terá feito o seu percurso. Machado de Assis, por exemplo, por meio do famoso personagem Brás Cubas, diz, em outras palavras, que não deixará descendente, pois não pretende legar a outrem a herança da miséria humana. Portanto, meus caros amigos debatedores deste instigante blog, não vos apoquenteis em demasia se indagando sobre a aprovação de um aluno ou de outro, ou se o sistema educacional ao qual pertenceis como engrenagem procede corretamente ou não em suas determinações quanto às variantes do processo ensino-aprendizagem (cada país tem seu próprio sistema - público e privado) e estes não são estanques, pois sofrem constantes alterações pela ação e pensamento humano. Por fim, vos digo: fazei o melhor possível segundo a deontologia da profissão que abraçastes e segundo a tua consciência de professor, penso que este seja o melhor caminho para se evitar a frustração.
Se as regras do jogo estão dadas, cumpra-as como um imperativo categórico, ou como categórico imperativo, burle-as segundo também a tua própria consciência, mas não sofrais assim, ano após ano, pois, sinceramente, isso não vale a pena  não resolve o dilema. Se a sua avaliação for injusta, se reprove a si mesmo e modifique-a. Se a sua avaliação for justa, lembre-se, foi o aluno quem se reprovou a si mesmo. Os pais dizem a seu filho, menino, jamais consuma droga e lhe explica os porquês. O filho, despreza o conselho dos pais e torna-se um viciado. Os pais não deverão indagar-se  a si mesmos, onde foi que nós erramos? Pois não foram os pais que erraram. A culpa, nesta caso, está fora dos pais. Aos pais, por vezes, e isso é triste, resta apenas apanhar os cacos, aos professores, os pedaços de um diploma inútil.
Saudações a todos que contribuíram com tão interessante debate! [ver APROVAÇÃO E REPROVAÇÃO EM DEBATE] 

                                                                                                                 Marcos Cavalcanti

Um comentário:

  1. De maneira filosófica, Marcos vai além do tema posto, levando-nos a refletir sobre valores relacionados às inumeráveis formas de educar neste nosso “pequeno planetinha” chamado Terra.

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