quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Preguiça Judicial - Zenóbio Oliveira



A Deusa não é cega, é lenta.

Maria de Seu Chico três vinténs,
Casou-se com Titico de Honório,
E resolveram os dois, que o casório,
Devia ser com repartição de bens,
Consolidada a partilha dos teréns,
Documento em cartório foi lavrado,
Terras, imóveis, troços, gado,
Pertenceria, assim, a cada qual,
Só que a primeira querela do casal,
Foi parar no birô do magistrado.

É que Maria ganhou uma novilha,
Doada pelo pai, ele, seu Chico,
Que cruzou com um garrote que Titico,
Também tinha ganhado da família,
Só que o documento da partilha,
Não previa esse tipo de emperro,
E justamente por causa desse erro,
Estão, há tempo, na justiça a debater,
Num processo de litígio pra saber,
Qual dos dois é o dono do bezerro.

E enquanto espera uma sentença,
Essa novela de Maria com Titico,
Passeia pelas rodas de fuxico,
O que aumenta mais a malquerença,
A demora consolida a desavença,
E a lerdeza forense, essa preguiça,
Atiça neles o fogo da cobiça,
Pois no gado foi num foi nasce uma cria,
Tanto é meu patrão que hoje em dia,
Quase todo o curral ta na justiça.

6 comentários:

  1. Que alegria Zenóbio ver seus versos reinando novamente por aqui, poesia pura e cristalina.

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  2. Poeta Zenóbio, seu poema é belo. Gostaria, entretanto, de fazer uma observação no que vai sendo dito. O Judiciário brasileiro tem muitos problemas mesmo, inclusive, padece de carência de servidores, isso posso lhe assegurar. Aqui em Santa Cruz, por exemplo, há um déficit de, pelo menos, 15 servidores, entre magistrados (no RN faltam 80 magistrados para compor o quadro) e a peãozada. Aliás, se não fossem os cedidos pelas prefeituras e outras secretarias do estado, a coisa não funcionava mesmo! Aqui a Juíza da Vara Cível está afastada do trabalho há quase 01 ano, por motivo de licença gestante, férias e outros direitos seus. A Juíza do juizado e o Juiz da Vara Criminal assumiram a Vara Cível, um ficou com os números ímpares e o outro com os pares. Digo-lhe que não dão conta de tanto enredo, isto é, processos. Eles se matam de trabalhar!Digo, com certeza, que os R$ 24.000,00 que percebem são uma esmola do estado. São montanhas de processos em cima de suas mesas para despachar. A peãozada, garanto-lhe, não dá conta de tantas obrigações. E ainda há aqueles que apanham do cônjuge, faz-se o procedimento, e, depois de alguns dias, vem a vítima com a cara toda cheia de hematomas, chorando, retirar a queixa. Eu passaria um dia todo dando justificativas, mas lhe garanto: não há preguiça não, meu nobre! Aliás, vai haver concurso público para o TJRN. Venham pra cá. Serão todos muito bem-vindos!Um abraço.

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  3. NAILSON BOTOU PRA TORAR NO CARA. EU,HEIN! ESSE NAILSON É DEMAIS,POR ISSO...E A PEÃOZADA FOI O Ó DO BOROGODÓ! ACABOU GERAL!
    SÓ P/ VC MESTRE! RSRS

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  4. Meu caro Naílson.
    Sou um cientista social que gosta de fazer poesia e, como tal, não posso discorrer, sobre qualquer tema que seja, amparado nos casos específicos. Ou seja, não tem como se analisar a coisa pela exceção, em detrimento da regra geral.
    No ano passado, o maior acúmulo de processos foi verificado na Justiça Estadual – o ramo do Judiciário com maior demanda. No total, 72% dos processos nos tribunais dos estados permaneceram sem julgamento. O estado em pior situação foi Pernambuco, onde 82,4% das ações não foram concluídas. O Rio vem em segundo lugar, com uma taxa de congestionamento de 78,7%.
    O número de casos pendentes aumentou 2,6% em 2010 em relação ao ano anterior. Em todo o Judiciário, havia 59,2 milhões de processos aguardando julgamento. Nos três ramos da Justiça – federal, estadual e trabalhista -, 83,4 milhões de processos tramitavam no ano passado. Na Justiça do Trabalho, 47,6% das ações não tiveram solução e na Justiça Federal, 69,5%.
    Estes são dados do Conselho Nacional de Justiça – CNJ e os números falam por si.
    No poema conto uma história fictícia para justificar a morosidade da justiça brasileira e uso o termo PREGUIÇA obedecendo a polissemia da palavra sem querer dar-lhe a conotação pejorativa, preferindo muito mais o significado de LENTIDÃO do que o de AVERSÃO AO TRABALHO, por exemplo.
    Portanto meu caro, a opinião deste escrevinhador de poesias continua a mesma: a justiça é lenta sim e, ainda que, respeitadas as ações de seus representantes, que em momento nenhum foram ofendidos no poema, constitui-se um fato que não pode deixar de ser dito. No mais, dificuldades existem em todas as os setores, o que não justifica a prestação ineficiente de um serviço à sociedade, que paga muito caro por isso.
    Zenóbio Oliveira.

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  5. É VERDADE! A SOCIEDADE PAGA CARO E PRECISA DE RETORNO NOS SERVIÇOS PRESTADOS. A JUSTIÇA QUE REBOLE P/ DÁ CONTA.

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  6. Concordo. A Justiça é lenta sim. Tenho uma ação trabalhista contra o Estado do RN desde 1999. Hoje, porém, quando me aborreço dessa lentidão, não me dou mais ao luxo de fazer uso da riqueza polissêmica da palavra preguiça, ou dos termos lerdeza forense e preguiça judicial, justamente por trabalhar lá e conhecer in loco o quão dão duro os servidores desse poder. E quero acreditar, também, que o conhecido por mim não seja exceção. Em todo caso, ilustre poeta, não me senti ofendido não. Apenas quis dizer que, dentro dessa lerdeza forense e da preguiça do judicial, nós, servidores, não compactuamos com ela. Apenas isso! Ah, outra coisa, o colega anônimo que disse que eu tinha botado pra torar no colega poeta, sem essa camarada! Esse blog não existe pra se torar ninguém, pois ninguém é demais ou de menos aqui. Somos todos debatedores de ideias e produtores de arte literária. Um abraço a todos.

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