sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ENTREVISTA COM PADRE DONATO RIZZI - Gilberto Cardoso dos Santos


GILBERTO: Padre Donato, o senhor foi muito importante em minha vida e formação durante o tempo em que exerceu o sacerdócio em Cuité - Pb. Então eu era jovem frequentador da Igreja Católica e tive muitas oportunidades de conversar com o senhor e ouvir sua palavra.
Na verdade, mais que ouvir seus sermões, tive a oportunidade de conviver com sua pessoa e  conhecer melhor suas idéias.
Gostaria, inicialmente, que o senhor nos falasse um pouco sobre sua pessoa, família, vocação e motivos que o trouxeram ao Brasil e á Cuité. 

PADRE DONATO: Resposta 1.a:

            Respondo às tuas perguntas com uma pequena “prevenção” que parte de um antigo ditado:”Gata escaldada, de água fria tem medo”, me faz pensar sobre:” De que jeito você vai aproveitar destas minhas respostas e notícias?”.
            Antes de mais nada gostaria de evidenciar a sua “expressão” usada na primeira pergunta:”Eu era um jovem frequentador”... frase que permite entender um quase seu não pertencer à Igreja, porque esta palavra:“FREQUENTADOR”, indica mais  ocasionalidade que  um pertencer de fato, nascido através de um caminho de fé assumido depois do Batismo
            Pode ser que esta situação seja consequência de uma iniciação à Catequese não muito aprofundada no início de sua vida cristã, coisa por outro lado não atribuivel à sua falha, mas talvez ao inadequado número de EVANGELIZADORES, de Padres e Catequistas existentes na época no Brasil.
            Acredito que você conheça que esta realidade brasileira tenha sido, por parte dos Bispos Italianos, o motivo para enviar PADRES FIDEI DONUM (sacerdotes colocados á disposição de outras dioceses irmãs mais carentes de Formadores: padres e catequistas), situação esta que lhes permitiu vir em “socorro” destas Dioceses irmãs, para uma verdadeira colaboração na formação de líderes para a Liturgia, a Catequese, a Caridade e sobretudo para favorece novas Vocações.
            Todos estes padres vinham “emprestados” por um período de no mínimo 5 anos: o tempo necessário para conhecer o lugar, a língua do povo, costumes e cultura e tudo o que é necessário para um Intercâmbio  e a formação de novas lideranças.
            Nestes termos o Concílio Vaticano II° foi uma ótima oportunidade para os Bispos de todo o mundo a troca de experiências: foi uma “ventania” de Espírito Santo.

            Eu nasci em 13/03/1943, em plena segunda guerra mundial, no sul da Itália, “invadida” pelos exércitos coalizados que combatiam a ousadia de um ditador chamado “Benito Mussolini”, aliado com outro ditador “Hitler” e do Imperador do Japão, para libertar a Europa e o mundo todo da “erva daninha”...
            A minha cidade natal se chama Castellana Grotte na Região Puglia e em Provincia de Bari. A infância foi marcada sobretudo pelas consequências da guerra: fome, miséria, doenças, falta de tudo.
            Meu pai era barbeiro e cabeleireiro ao mesmo tempo, mas só se comia, em casa, quando ele trabalhava. Mamãe tinha estudado magistério, conseguindo diploma de mestre para escola da infância e tinha trabalhado vários anos antes de se casar. Depois do casamento meu pai não quis que ela continuasse este trabalho, porque ensinava fora da nossa cidade natal e na época era muito perigoso viajar.
            Tive uma infância marcada por doenças pesadas: aos 3 anos uma infecção intestinal que me deu febre de até até 41,8° graus. Mamãe me dizia sempre:” Foi Deus que te salvou!!!”. Durante a segunda classe de I° grau, me hospitalizei por mais de dois meses, perdendo um bimestre na escola, mas apesar disso, conseguí vencer.
            Aos 10 anos entrei no Seminário menor, na cidade de Conversano, a 11 Km. da minha cidade natal, onde frequentei, como seminarista, a escola Media e o Ginásio (de 1953 até 1958).    Em outubro de 1958 passei ao Seminário Regional de Molfetta para os estudos do liceu clássico, o curso filosófico e o primeiro ano de teologia, até 1963. Os últimos 3 anos de teologia os cursei no Seminário para a América Latina, na cidade de São Massimo all’Adige-Verona, no norte da Itália.
            Na época a vida no Seminário era muito mais pesada em comparação á de hoje: só se voltava pra casa no final do ano letivo por apenas duas semanas, voltando para o Seminário estive na cidade de Alberobello, onde só “passava bem” quem tinha superado o ano sendo promovido para a classe superior. No final das férias, o gosto de saborear a vida em família por mais uma semana e logo depois a volta para o Seminário: iniciava o novo ano letivo...
            Terminei os estudos em junho 1966 e fui ordenado sacerdote o dia 03/07/1966, tendo que pedir a dispensa de 8 meses ao Papa Paulo VI°, porque não havia completado ainda os 24 anos canônicos pela ordenação.
            No dia 03/07/1966 fui ordenado sacerdote pelas mãos do Venerável e Inesquecivel Papa Paulo VI°: éramos 72 diáconos, todos destinados á trabalharmos na América Latina, 32 provenientes do Seminário de S. Massimo all’Adige e os outros, de todas as Nações da America Latina.
            O Papa Paulo VI° em pessoa presidiu esta ordenação, a primeira depois da conclusão do Concílio Vaticano II°. Na homilia o Santo Padre afirmou com voz profética :”América Latina, esta é a hora tua!!!”
            A escolha de trabalhar no Brasil, foi casual. Em prática, durante o 4° ano de filosofia, no final do ano, o Arcebispo de Táranto veio visitar o nosso Seminário da Região Puglia (tinha mais de 400 seminarista entre filósofos e teólogos), para nos comunicar que o bispo da diocese de Verona estava construindo um braço do Semirario menor da sua diocese, colocando-o á disposição das Dioceses italianas que planejavam enviar sacerdotes Fidei Donum.
            Do nosso IV° ano de filosofia na cidade de Molfetta, fomos 10 a manifestar a intenção de irmos para lá... O tempo passou, nem todos os bispo das nossas dioceses de origem “consentiram” a mudança de Seminário. Assim, terminado o 1° ano de teologia, somente 4 nos transferimos para o Novo Seminário da América Latina... em 1963.
            A vida no novo Seminário foi marcada pelas contínuas visitas de Bispos de toda a América Latina que vinham com a esperança de ter a sorte de “poder fisgar” algum Padre que os ajudasse nos trabalhos pastorais nas próprias dioceses.
            Eu e Pe. Domingos Ciavarella tínhamos recebido um pre-aviso para irmos trabalhar na Argentina, iniciando chamado o estudo da língua espanhola. Mas um dia veio para o nosso Seminário o então Bispo de Campina Grande, Dom Manuel Pereira da Costa, acompanhado por um seminarista teólogo chamado Berilo Ramos Borba que estava cursando a faculdade Gregoriana em Roma, (Berilo não se ordenou padre, mas chegou a ser Reitor da Universidade Federal da Paraiba em João Pessoa).
            O Reitor do nosso Seminário, ao ouvir a história do Bispo Dom Manuel á respeito da situação da sua diocese, ficou preocupado. Eu e Pe. Domingos ainda não tinhamos recebido a destinação definitiva. Então nos perguntou se estávamos disponíveis para TROCAR o nosso destino, da Argentina para o Brasil, para “SOCORRER” a Diocese de Campina Grande.
            Depois do nosso consentimento, começamos a receber informações seja do mesmo Bispo Dom Manuel Pereira, como também do teólogo Berilo Ramos Borba: estávamos já respirando o clima saudável  da Rainha da Borborema e da sua Diocese...
           
GILBERTO: O padre Donato que eu conheci era um cidadão altamente politizado e focado na Teologia da Libertação. Lembro, por exemplo, das músicas tocadas na difusora da igreja que cumpriam também um objetivo de conscientização política e dos muitos livros que me emprestou ("Deus, onde estás?", foi um deles). O que resta daquele tempo no Padre Donato de hoje? Mudou sua compreensão do mundo e da política? Há algum livro daquele tempo que hoje não recomendaria?

PADRE DONATO: 2.a Resposta:
            Aquele Padre politizado que você conheceu, não morreu...só que a politização da qual você fala, é, de fato, o carimbo que “a gente” (eu e Pe. Domingos) recebemos dos que detinham o poder na época. Acredito que você se lembra, ou pelo menos pode ainda estudar os documentos da Igreja do Brasil naqueles e de outras fontes, que te ajudariam a melhor recordar o que: “A gloriosa revolução de 1964”, colocou em ato: abolição de todas as liberdades, a extinção da Constituição do Brasil, a extinção de todos os partidos e etc....
            Eu e Pe. Domingos chegamos no Brasil em novembro de 1967. Poucos dias depois da nossa chegada, assassinaram o Segretário de Dom Helder Cámara, então Arcebispo de Olinda e Recife...
            Naqueles anos a IGREJA do Brasil SE TORNOU o único espaço de LIBERDADE...para o POVO e teve de SUPRIR a falta de tudo.


            Toda a Igreja do Brasil e não só os adeptos da Teologia da Libertação, deu espaço, voz e vez para ás pessoas que procuravam a liberdade, uma verdadeira independência... Dom Helder Cámara, no começo da Revolução, quando era Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, apoiou a Revolução dos militares, mas aos poucos chegou a perceber o que realmente estava acontecendo (uma verdadeira ingerência de forças estrangeiras e a exclusão de tudo o que tinha cheiro de comunismo) e então Dom Helder começou a se afastar da revolução, tornando-se aos poucos aos olhos dos militares, “O Bispo vermelho” (um comunista): por isto foi perseguido, ameaçado... e lhe mataram o Secretário e CANCELARAM o seu nome de todos os jornais, revistas, rádios, TV, e etc...  Muitíssimos Bispos na época, colocaram as catedrais e os ambientes reservados das paróquias para os encontros e a catequese, á disposição de todos os que “nas catacumbas” procuravam sobreviver e não sucumbir á dura repressão em ato na época. Não sei se você já leu o livro que alguns anos atrás o então arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns fez publicar:” BRASIL NUNCA MAIS”. Se não o leu, vai te fazer muita falta para um maior conhecimento dos acontecimentos daquela época.
            Dom Manuel Pereira da Costa, Bispo de Campina Grande, nos acolheu em novembro de 1967 e para podermos aprender a lingua portuguesa e a pastoral da diocese, nos enviou como “auxiliares” do Padre mais conhecido e respeitado da época: Mons. Manuel Palmeira, pároco da Paróquia de Esperança (depois Bispo de Pesqueira em Pernambuco).
            Dom Manuel, preocupado para que nós dois aprendêssemos o melhor possivel a “FALA” brasileira, nos enviou num instituto dos Salesianos, na cidade de Carpina em Pernambuco, onde se encontrava um irmão padre de Dom Manuel.. Alí ficamos por dois meses e tivemos a sorte de recebermos aulas de língua portuguesa pelo Bispo emérito de Fortaleza, Dom Lustoza, falecido em conceito de SANTIDADE á poucos anos...
            Assim a gente teve oportunidade de aprender discretamente a FALA DO POVO e em outubro de 1968 fomos enviados para a cidade de Barra de Santa Rosa, onde iniciamos o nosso trabalho pastoral ( Barra na época era uma Capela de Cuité).
            No começo eu e Pe. Domingos ficamos juntos na Barra e só em outubro do ano seguinte, 1969, Dom Manuel Pereira da Costa me nomeou Pároco de Cuité e Nova Floresta, no lugar de Padre José Rodrigues, passado á Catedral de Campina Grande...
            Os 20 anos que fiquei pároco em Cuité voaram e passaram, mas ficaram gravados na minha vida e, acredito, também nas pessoas que me ajudaram a trabalhar.       
            Os resultados de tudo aquilo que conseguimos semear ( falo sempre ao plural, porque juntamente ao Pe. Domingos e depois ao Pe. Lorenzo e Pe. Fedele Sforza, formamos uma verdadeira equipe e tudo o que fazíamos, era pensado e planejado juntos), só Deus é quem sabe.     São 7 os jovens que se tornaram Padres, e 16 moças ingressaram em várias Congregações religiosas e ainda hoje estão trabalhando para o Reino de Deus em todo o Brasil e até fora em terras de Missão e não conto os/as catequistas e os/as animadores das Comunidades.
            A Teologia da Libertação tem vários endereços e tem aberto muitas pistas. O que mais despertou a minha atenção, foi sobretudo o estudo da pedagogia usada por Deus Pai na condução do povo Hebreu desde a saída do Egito até a Terra Prometida.
            Esta PEDAGOGIA tem ajudado o Povo de Deus a entender melhor AS PALAVRAS DA LIBERDADE, os 10 Mandamentos, que constituem o fundamento da VIDA DE FE’ que qualquer cristão tem que aprofundar durante toda a sua vida, na sequência do Nosso Salvador Jesus Cristo Nosso Senhor. Foi Jesus Cristo ressuscitado que pediu aos Apóstolos de anunciar o SEU EVANGELHO, levando-o até os “confins da terra”.

            As músicas, aliás muito bonitas (e estou te respondendo ouvindo-as), ajudavam a memorizar os passos bíblicos, a tomar consciência e a receber a Luz que a Palavra de Deus dá para ligar a Voz de Deus com a VIDA de todos os dias... Se alguns chamam este trabalho de “politização”, é porque a PALAVRA DE DEUS faz CRESCER a fé que se torna motor para uma vida pessoal, socia e espiritual completamente RENOVADA. E’ isso que permite a qualquer pessoa de chegar á ter uma nova maneira de olhar a vida, fazendo assim brotar novas atitudes, assumindo mais responsabilidade na família, na sociedade e nas relações com os outros e sobretudo na Vida de Amor para com Deus e o próximo.
            A fé é o MOTOR DA VIDA E DE TODAS AS MUDANÇAS.
            Não é essa a mensagem de São Paulo na carta aos Romanos e aos Hebreus? Ainda hoje continuo acreditando na importância da política (no sentido de interessar-se também á realidade deste mundo que Deus colocou nas nossas mãos:” Para que todos tenham vida plena”) na vida de todas as pessoas pelas quais Jesus Cristo morreu e ressuscitou
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            Ultimamente o Santo Padre Papa Bento XVI°, tem alertado os católicos da Itália em modo especial, para que sejam mais presentes e atuantes na política nacional..., não se coalizando num partido, mas cada um assumindo e realizando opções pessoais de vida, as ações tomadas por todos os participantes das organizações existentes.
            E’ importante que os Sacerdotes não assumam em público posições partidárias, mas não podem deixar de ensinar e falar dos valores essenciais que a POLITICA nunca deve colocar de lado: a valorização da PESSOA na sua totalidade, a necessidade de defender a SACRALIDADE DA VIDA em todas as suas fazes, desde a concepção, até a morte, o valor do Amor e do Perdão, a solidariedade com os mais frágeis, o acesso ó terra e ao trabalho para que todos tenham condições dignas de vida, sem que ter de humilhar-se para pedir favores...

GILBERTO: Que lugar a Bíblia ocupa em suas mensagens e vida hoje? Lembro-me da interpretação que dava para a segunda vinda de Jesus e a interpretação histórico-crítica que nos incentivava a fazer de seus relatos. Apesar de seus esforços, eu e outros católicos acabamos enveredando por um caminho oposto, que nos fazia ter uma visão alienada, sectária da Bíblia. Por que  o mundo cristão (inclusive a Igreja Católica no segmento carismático), tende a seguir tal rumo?

PADRE DONATO: 3.a Resposta:

            Gilberto, a Bíblia para mim sempre tem sido A LUZ QUE CLAREIA TODOS OS MEUS DIAS!            E no Brasil teve ví e constatei a FOME que o POVO tinha de escutar ESTA PALAVRA.        Assim, colocá-la nas suas mãos, foi a tarefa mais gratificante que experimentei e tudo isso,  graças ao bom Deus e á Teologia da Libertação, toda fundada no ESTUDO da Bíblia. Foi a LUZ da Palavra de Deus que tem me ajudado no crescimento pessoal da fé e no endereço que pude dar aos “paroquianos”.
            Os Círculos Bíblicos foram a causa da multiplicação das Comunidades de Base promovendo o nascimento de Serviços: Cursos de Catequese, Liturgia, Bíblia, História da Igreja, Educação política, Batismos, Crisma, Matrimonio, Dízimo, Canto, Visita aos doentes, Pastoral da Criança, Caritas, Ministros extraordinarios da Eucaristia, etc.
            Na lembrança dos meus 25 anos de sacerdócio, coloquei uma frase de São Paulo:”Um é aquele que planta, outro é aquele que recolhe, mas é um Só Aquele que faz crescer: DEUS”... e a gente faz o que pode e o que Ele nos permite...
            Deus nos deixou a LIBERDADE como o maior dom depois da VIDA. Se você e outros trilharam outras estradas..., é só lembrar o que diz o Salmo:” Eu coloco diante de ti, a Vida e a Morte... se escolher a Vida, terás mais vida, se escolher a Morte”...
            A Bíblia é a Palavra que Deus deixou para todos nós para que pudéssemos nos orientar no Caminho de volta PARA ELE para aprendermos o jeito de fazer com que a VIDA seja reconhecida como DOM DE DEUS e a TERRA volte a ser AQUELE JARDIM DO QUAL FOMOS EXPULSOS, porque acreditamos na POSSIBILIDADE DE CHEGARMOS A SERMOS COMO DEUS, quando Ele já nos tinha criado á Sua Imagem e semelhança.
            Ainda hoje a Palavra de Deus é a estrela guia dos meus passos e da minha vida e deveria ser a mesma coisa para todos os cristãos. E’ claro que é necessário ter um guia que nos ajude a entender o que foi escrito muitos anos atrás e em condições de vida e de história bem diferentes das de hoje.
            Acredito que a reação tua e dos teus amigos foi mais uma revolta contra o Padre. Digo mais, foi mais uma ação de fanatismo cego, e não uma busca sincera e honesta da verdade. Jesus Cristo sempre se colocou contra os abusos do poder e as “mistificações” da Palavra de Deus.
            Jesus Cristo é a PALAVRA DE DEUS e quem aceitar de viver seguindo o Seu exemplo, será amado pelo Pai e receberá o cêntuplo nesta vida e a Vida Eterna.
            Deixei há tempo de PERDER TEMPO para converter os outros, lembrado do que Jesus Cristo nos disse:” Quem quiser me seguir, pegue a própria cruz e me siga”. Acredito que mais que sábias exposições da própria cultura diante dos outros, é preciso sobretudo levar uma vida “santa e exemplar”, pois, diziam os latinos, “verba volant, exempla traunt” isto é,:” As palavras voam, os exemplos passam”... Cada um depois coloca o acento sobre o aspecto que mais o interessa.
           

GILBERTO: A igreja no Brasil parece-lhe mais politizada que a igreja italiana? Qual a diferença entre o catolicismo na Itália e no Brasil? Aqui o senhor percebia uma maior ou menor espiritualidade? Não acha o senhor que o Cristianismo e em particular a Igreja Católica estão vivenciando uma crise de identidade?

PADRE DONATO: 4.a Resposta

            Acredito que não. Talvez algumas pessoas estejam continuando a pensar que aquela CARÊNCIA QUE A IGREJA EXERCEU NOS ANOS DA DITADURA, deveria continuar sempre. Estas pessoas não estão no rumo certo.
            Naquela época era necessário fazer o que Bispos, Padres e Comunidades de Base fizeram... Mas a Igreja tem que continuar a ser a GUIA de todos os que aceitam de seguir os ensinamentos de N.S. Jesus Cristo, deixando a organização do estado aos LEIGOS que, é claro, devem ser formados para assumir as tarefas que são próprias dos leigos, e os Padres as que são específicas deles.
            O catolicismo italiano é muito articulado em todos os setores e em todos os níveis. Não conheço bem o grau de articulação e de penetração da vida cristã em todas as camadas do povo brasileiro, á causa da antiga FALHA de uma preparação de base não profunda... Por outro lado, na Itália há uma longa Tradição e documentação histórica que mantém vivas as  tradições.
            Só que nestes últimos tempos estamos sofrendo as consequências de um materialismo prático e do bem estar extravagante porém agora ameaçado pela crise mundial e sobretudo italiana. Mas é também verdade que, se por um lado alguns estão se afastando da Igreja, é também verdade que muitos estão despertando e vão em busca de uma REDESCOBERTA DO DIVINO, DO SOBRENATURAL, do espiritual.  
            SIM, no Brasil é necessária uma maior espiritualidade, talvez porque o trabalho de SUPLÊNCIA, pode ter tirado muito tempo ao trabalho de ACOMPANHAMENTO PESSOAL, impedindo talvez um aprofundamento espiritual, individual, indispensável para qualquer vida cristã.
            Não acredito em CRISE DE IDENTIDADE da Igreja, mas existe a necessidade de uma conversão contínua e diária de cada pessoa á Palavra de Deus, a única que nos pede de estarmos sempre de olhos abertos para captar os sinais da presença das sementes do VERBO na história de hoje. A Igreja é feita por pessoas frágeis e todos necessitam sempre da Graça de Deus para permanecer FIRMES NO SEGUIMENTO DE JESUS CRISTO, único nosso SALVADOR.
            O modelo que a Igreja tem que seguir, não é o mundo, mas a pessoa de N.S. Jesus Cristo ressuscitado.

GILBERTO: Não acha o senhor que deveria haver alterações doutrinárias no que concerne ao celibato e á consagração de mulheres par ao sacerdócio? Isso não facilitaria o aumento das vocações? 

PADRE DONATO: 5.a Resposta:

            Não é a mudança da Doutrina que pode facilitar as coisas. Se Deus estabeleceu desde a criação que o papel de cada pessoa fosse bem definido, então assumir em plenitude estes PAPÉIS vai dar mais segurança e firmeza para tudo o que se realizar na vida.
            O Papa João Paulo I° afirmou que:” Deus é ao mesmo tempo Pai e Mãe”... Nós temos que aprender a conhecer ambos os valores mais profundos e específicos de cada sexo e ao mesmo tempo continuar a sermos assim como Deus nos criou: homens e mulheres.
            Para os que não se reconhecem nestes parâmetros, é necessário usar muita caridade e jeito, sem querer imitar o que já existe como ordenamento secular da realidade e organização do mundo.
            Facilitar soluções simplórias, não seria a melhor solução.
            Porque multiplicar o número de PADRES, se cada cristão pode e deve FORMAR as pessoas que nos rodeiam? O Batismo recebido e a Comunhão com o Corpo e Sangue de Jesus Cristo nos torna, pela Graça que Jesus Cristo nos dá continuamente, outros Jesus Cristo com a tarefa de levarmos para todos a Sua Mensagem através a nossa vida, o nosso exemplo, o nosso testemunho.
            Acredito que estamos esquecendo que o MANDATO que o Senhor Jesus Cristo deu para os Apóstolos, chega por meio deles a qualquer um de nós: é suficiente lembrar o que S. Pedro falou na sua carta: “todos nós recebemos e participamos do Sacerdócio de Jesus Cristo”.

GILBERTO:Como o senhor concilia hoje a crença na doutrina da infalibilidade papal e as muitas falhas cometidas por papas anteriores?

PADRE DONATO: 6.a Resposta:

            A infalibilidade não é um Privilégio, mas a certeza que a presença de Jesus Cristo Ressuscitado continua viva e atual quando o sucessor de Jesus Cristo e de S. Pedro, chega a proclamar uma verdade de fé, apoiado pela tradição, pelo consenso da maioria absoluta de todos os Bispos do mundo e do apoio de todas as denominações cristãs. Pessoalmente acredito que esta pergunta, você deveria tê-la feito uns 40 anos atrás e não agora...  
            Errar, todo mundo pode. Se levantar, pedir perdão e continuar a fazer brilhar a luz do Senhor Jesus Cristo Ressuscitado, é o cômputo essencial do sucessor de Jesus Cristo e de cada cristão. Quem não tiver pecado, lance a primeira pedra. Reconhecer os próprios erros é antes de mais nada um ato de humildade ao qual se pode chegar só com a Graça de Deus: e os Papas nestes últimos anos, realizaram muitos gestos fortes, pedindo perdão por erros cometidos no passado.

GILBERTO: Intimamente, como o senhor vivenciou e administrou aquela mudança brusca pela qual passamos eu, Luciênio e outros jovens católicos?

PADRE DONATO: 7.a Resposta:

            Na certeza que a Verdade e a Luz do Ressuscitado vos guiariam até encontrar um dia uma RESPOSTA certa na vossa busca trabalhada da verdade!!! Nunca podemos esquecer que:” Quem busca, encontra; quem pede, recebe; a quem bate, a porta será aberta...”.

GILBERTO: Que pensa o senhor sobre o fato de eu e praticamente todos aqueles jovens que então se converteram ao adventismo hoje não estarem mais em nenhuma igreja? Seja bem franco, como sempre demonstrou ser.

PADRE DONATO: 8.a Resposta:

            Tem gente que nasce para o cabestro, outros nascem para a plena liberade. O problema não é converter-se á uma Religião, mas CONVERTER-SE á Jesus Cristo e ENCARNÁ-LO na vida pessoal, para sermos de exemplos á todos.
            Sempre confiei na inteligência das pessoas, até quando não dá para compreender logo o porque das decisões tomadas. O Concílio Ecuménico Vaticano II° nos ensina:” A Igreja tem a tarefa de reconhecer as Sementes do Verbo espalhadas em todas as pessoas de todas as raças e culturas”. O que vale na vida de relação com Deus e com o próximo, é o amor que se demonstra para com todos.
            O que é bom, vem de Deus e graças á Ele, o Bem que existe é muito maior do mal... Faz muito mais barulho uma árvore que cai que uma inteira floresta que cresce. Acredito que os jovens de Boa Vontade terão mais chance de encontrar ótimas soluções, pois Deus ajuda os que sabem ousar.
            Se não estão em nenhuma Igreja, é porque a vossa busca PAROU, para pensar na Sobrevivência (pensar que A IGREJA “pague” bem, é sinal de um conhecimento visto com os olhos dos R$ R$ R$).
            Para entrar numa Igreja é necessário assumir o mesmo jeito que Jesus Cristo nos deu, quando, antes de INSTITUIR A EUCARISTIA, se cingiu com uma toalha e, Ele que era o Mestre, lavou os pés dos Discípulos e os convidou a fazerem todos a mesma coisa, antes de tudo cada um com todos os outros discípulos e todos os Discípulos para todo o mundo.
            E’ o que a Eucaristia nos ensina continuamente: Jesus continua se DOANDO a cada um dos que participam á celebração da Eucaristia e se doa em Corpo, Sangue e na sua Divindade, para os que O recebem na Comunhão, para que aquela pessoa permita de LEVAR a pessoa de Jesus Cristo em todos os ambientes nos quais cada um realiza a própria vida: é Jesus Cristo mesmo que continua vivo e presente no nosso mundo, através da ação e da Evangelização que cada um de nós consegui realizar, SE ACREDITAR NISSO.


GILBERTO: Depois que me converti ao adventismo, padre, ficou difícil para mim acreditar na possibilidade de conciliação entre fé cristã e ausência de fé na Bíblia como texto divinamente inspirado. No segmento protestante a que pertenci, se descartou a possibilidade de inspiração verbal para os profetas bíblicos. Isso foi feito para justificar umas tantas falhas apontadas na história da Igreja Adventista, relativas á inspiração de Ellen White. Não acha o senhor que o mesmo teria ocorrido com a Igreja Católica? Se a história cristã se alicerça na Bíblia, como manter a fé uma vez que se conteste seu valor histórico e  canonicidade?


PADRE DONATO: 9.a Resposta.

            Contestar tudo isso hoje é uma verdadeira “profissão de desinformação”. Acredito na Revelação de Deus, porque só Ele pode nos dizer coisa certas até através pessoas tidas pela maioria de PECADORES (veja o caso de Zaqueu, da Samaritana, da mulher que foi surpreendida em flagrante de adultério, o Samaritano que ajudou apesar de ser “inimigo” do homem caído nas mãos dos ladrões...etc. Escutar todos os sinos, todos os estudiosos da Sagrada Escritura é uma oportunidade que não pode deixar de perseguir, se quiser aprofundar e fundar mais ainda a tua fé. Procure escutar outros SINOS e verá que há muita coisa bonita escondida por aí... Tem outra coisa que vocês estão esquecendo:” Não aceitam a Tradição que para nós é importante tanto quanto a Revelação..., são as colunas importantes do nosso CREDO.

GILBERTO: Como o senhor explica hoje o fato de a Igreja Cristã (católica e protestante) ter cometido tantas atrocidades em nome de Deus? Não acha isso uma motivação suficiente para que se perca a fé no cristandade?

PADRE DONATO: 10.a Resposta:

            A “Cristandade” é uma realidade do Médio Evo que na época teve suas virtudes e seus defeitos ligados sobretudo á mentalidade do Sagrado Romano Império. Em nome desta realidade foram realizadas muitas coisas boas e muitas ruins. O estudo poderá fazer-te encontrar elementos suficientes para uma posição mais serena e menos sectária.
            Perder a fé por estes motivos acho demais... Os fatos históricos acontecidos no passado, não podem ser “julgados” com a nossa mentalidade de hoje:eu não os justifico, mas lamento terem acontecidos.
            Quem não tiver cometido pecados, lance a primeira pedra...Os Papas, nestes últimos anos, tem pedido varias vezes perdão publicamente pelos erros cometidos no passado... Acredito que chegou a hora não nos jogar reciprocamente poeira nos olhos, mas de arregaçar as mangas e trabalhar, rezar, acreditar no Bem que Deus colocou á tempo em cada um de nós ( os talentos, os Carismas) e fazê-los FRUTIFICAR.   

GILBERTO: Enquanto na Europa vive-se uma crise de fé sem precedentes (a ponto de alarmar o atual papa) vê-se no Brasil e em outras partes do mundo um espantoso florescimento do protestantismo pentecostal. Como o senhor vê isso? Por que a igreja teria perdido tanto terreno? Semelhante crise vê-se na Itália?


PADRE DONATO: 11.a Resposta:
            Pessoalmente chego a acreditar que o “espantoso florescimento do protestantismo pentecostal” seja mais uma busca afanosa de respostas por parte do povo (mais segurança física, um crescimento econômico), do que uma rejeição da fé. Este florescimento poderia se chamar quanto mais de “Mudança de jeito de viver”, mas não mudança de religião.
            Acredito que você saiba que nos anos “80” o Brasil viu o começo deste tipo de FLORESCIMENTO, graças á uma ação FINANCIADA pelos EUA que não viam por bem o crescimento muito rápido das Comunidades de Base e a difusão sempre maior da “palavrinha vermelha” (assim a chamava Goulberi de Souto e Silva), a palavra “Conscientização”.
            Eu acho que este rápido florescimento possa ser a antecâmara de uma tomada de consciência que leve a um materialismo prático... E’ o que tem acontecido aqui na Europa: o bem estar leva as pessoas á acreditar que TER TUDO seja a nova religião...e quando o Bem-Estar é ameaçado por uma crise mundial como esta pela qual estamos passando, se nota a perda de qualquer valor fundamental e uma verdadeira decadência...
            Aqui na Europa estamos já experimentando esta dificuldade, mas ao mesmo tempo nota-se uma vontade de recomeçar, de conhecer e acreditar nos valores mais profundos e reais da vida e da Fé.
            Por minha conta acredito numa Igreja menos expressão esterna, menos visível, menos opulenta e mais encarnada na vida do povo, mais pobre e voltada sempre mais para os pobres, para levar uma Nova Evangelização que poderá chamar a atenção e levar á conversão o mundo atual. Se o grão de trigo que cai no chão não morrer, fica só. Se morrer, produz muitos frutos”.

GILBERTO: Padre, no tempo em que o tive como pároco não ouvia falar em livros apócrifos, além dos sete contestados pelos protestantes. Hoje sabe-se de uma profusão de livros que foram excluídos do rol de textos sagrados. Houve um aprofundamento no conhecimento dos chamados Manuscritos do Mar Morto. O senhor abona  o modo como se estabeleceu o cânon e  a exclusão de tais livros?

PADRE DONATO: 12.a Resposta:

            Falar de livros Apócrifos para os que nem conheciam o testo normal da Bíblia, era, naquela hora, pelo menos uma perda de tempo. Desde sempre teve conhecimento da existência de livros apócrifos, sobretudo de escritos de “Evangelhos” apócrifos. Acredito que hoje, com a maior possibilidade de acessar á informações maiores, a existência destes livros tenha chegado ao conhecimento do grande público.
            Porém não se pode confundir o “achado casual e muito bonito” dos manuscritos de Quumram, perto do mar morto, e classificar este achado como “Livros Apócrifos”. Se assim fosse, Israel, que dedicou um monumento aos LIVROS SAGRADOS = REVELADOS, não o teria realizado se tivesse sabido que os manuscritos de Quumram fossem APÓCRIFOS... Acredito seja necessário um aprofundamento desta matéria...
            Pessoalmente confirmo o que a Igreja estabeleceu e aceito todos os livros que na Tradição cristã foram colocados no Canon. Os textos encontrados a Quumram, confirmaram os textos conhecidos desde a antiguidade.  


GILBERTO: Alguma vez, padre, a sua fé em Deus ou na doutrina da igreja foi severamente abalada? O que desencadeou isso? Outra coisa: há possibilidade de que um ateu ou agnóstico, praticante do bem e da justiça  venha a se salvar?

PADRE DONATO: 13. Resposta:

            Graças á Deus a minha fé em Deus e na Igreja de Jesus Cristo nunca foi abalada. ás vezes fiquei perplexo diante de alguns jeitos na gestão e na vivencia da fé, sobretudo quando á isso se acrescenta uma falta de caridade.
            Da Salvação eu pessoalmente não excluo ninguém, porque o Amor de Deus é imenso e todas as pessoas que na vida tiverem realizado qualquer coisa de bom:“ Até um copo d’agua dado ao menor dos meus irmãos em meu nome, receberá a sua recompensa”.
            O Bom Ladrão rubou o Reino de Céu na hora da sua morte, ao passo que o outro...
            Só Deus conhece o coração de cada um de nós. Pessoalmente conheci na minha vida muitas pessoas, que, apesar de declarar-se atéias, possuem uma seriedade e um altruismo na própria vida a ponto de muitos padres e pastores diante destes, simplesmente DESAPARECEREM.

GILBERTO: Que pensa o senhor sobre os caminhos trilhados por Leonardo Boff? O senhor contesta nalgum  aspecto sua filosofia? Acha que o atual papa procedeu bem ao discipliná-lo?

PADRE DONATO: 14.a Resposta:

            Sempre admirei o teólogo Leonardo Boff, porque soube, á partir da vida do povo mais simples, indicar novas pistas que podem ser trilhadas por todos...
            Não concordo com o fato dele ter deixado se ser padre... Cada um faz as escolhas que achar mais convenientes, assim como o Papa, quando era ainda cardeal e chefe da Comissão da fé,  cumpriu o seu dever...
            Estou convencido que só Jesus Cristo é o Salvador do mundo e que cada um de nós poderá ajudar na evangelização, se ficar ocupando o lugar que o Senhor Deus lhe concedeu. A árvore se conhece pelos frutos... e nós seremos julgados no juiz final, não pelos nossos pecados, mas pelo bem que tivermos realizados. Leia e aprofunde o cap. 25 de Mt, sobretudo os versículos do julgamento final...
            Pode acontecer muitas vezes que notícias sejam veiculadas em forma diferente e podem em seguida serem interpretadas segundo a realidade na qual se vive. Um diálogo verdadeiro e mais aberto, pode sempre resolver as coisas mais complicadas.

GILBERTO: Finalmente, padre, percebeu algo importante que deixei de perguntar? Diga-nos sua palavras finais e deixe algum texto, poema, música ou pensamento que lhe pareça muito significativo.

PADRE DONATO: 15.a Resposta
           
            Gilberto, não sei se você lembra aquela canção que a gente cantava tanto:” Sonho que se sonha só, pode ser pura ilusão. Sonho que se sonha juntos, é começo de solução. Então vamos sonhar companheiros, sonhar ligeiro, sonhar em mutirão”.
            Pois é, nos 27 anos que passei no Brasil, tentei sonhar com muita gente. E graças á Deus pude ver muitos sonhos (não só meus) se realizar. Hoje muitas daquelas pessoas com as quais sonhamos juntos, estão continuando a sonhar juntos com outras pessoas... Se número aumentar, mais soluções aos problemas que afligem as populações do querido e amado Brasil, poderão ser encontradas.
            O Papa João XXIII° de venerada memória, dizia sempre:” Vamos procurar tudo aquilo que nos une e deixar de lado o que nos divide”.
            Acredito que todos temos muito mais coisas em comum, do que coisas que nos dividem...

GILBERTO: Percebemos, ao conversar com o senhor, que a pessoa de Jesus ocupa um lugar bem central em sua fé e no modo de ver a revelação divina. Há um livro escrito por Philip Yancey (escritor protestante), intitulado "O Jesus que eu não conhecia". Há um Jesus, padre, que o mundo, mesmo o segmento cristão, desconhece? Alguns dão ênfase ao suposto lado político de Jesus enquanto outros enfatizam seu  lado místico. Ao falar no nome JESUS, o que lhe vem á mente? As discrepâncias entre um evangelho e outro (Mateus 20:29-30, LUCAS 18:35-43 e Marcos 10:46-47, por exemplo) não o incomodam e o fazem pôr em cheque sua historicidade?

PADRE DONATO: 16.a Resposta:
           
            A centralidade de Jesus Cristo está fora de discussão. Somos Cristãos porque chamados à seguirmos seus passos, sua vida, seus ensinamentos e viver do Seu jeito.
            Ele mesmo afirma isso tudo nos capítulos 14 a 17 de João:” ...Quem me ama, faz a vontade do meu Pai... E para quem me ama, Eu, o Pai e o Espírito viremos, o amaremos e nele e faremos a nossa tenda, a nossa morada”...
            Deus se fez nosso irmão, Emanuel, para caminhar ao nosso lado até o final dos séculos.
            Não conheço o livro do Sr. Philip Yancey e acredito que seria interessante poder ter acesso para uma boa leitura.
            Sinceramente não sei dizer qual o aspecto de Jesus Cristo que o mundo não conheça.             Acredito que Jesus Cristo foi também o maior POLITICO, no sentido de Ele ser a Pessoa mas versada em conhecimento de cada homem e do homem todo, em todos os seus aspectos... E a cada dia é possivel, com a Graça do Espírito Santo, descobri novo aspectos da Sua figura.
            O que mais me vem à mente, é o fato dele ser ao mesmo tempo VERDADEIRO HOMEM  E VERDADEIRO DEUS.
            As diferenças entre os escritos dos Evangelhos, nos mostram muito mais ainda a Multiplicidade do seu aspecto e ao mesmo tempo as diferentes sensibilidades que em cada pessoa existem, realidade que nos permite de perceber diferenças ao ouvir e lembrar-se das mesmas palavras pronunciadas por Jesus Cristo. Para mim esta é a maior confirmação da autenticidade histórica da existência de Jesus Cristo, e estas diferenças não me incomodam de jeito nenhum, ao contrário, me fortalecem.

            Gilberto, espero ter respondido ao teu pedido. As respostas te possam ajudar na busca da verdade. As escrevi não como mestre (Um só é o vosso Mestre, Jesus Cristo), mas como um amigo que tem amor pelo amigo.
            Nunca esqueça o que Dom Helder Cámara repetia sempre com profunda convicção:” Se tu discordas do que eu penso, me enriqueces”.
            Obrigado por esta oportunidade que me destes. Espero que as respostas te ajudem: as escrevi com o coração e não para fazer polêmicas ou me mostrar.
            Saiba fazer bom uso do que escrevi depois de ter rezado bastante.
            Um grande abraço e que o Deus da Vida te abençoe.

            Conversano, 21 de novembro 2011,

            dia depois da Festa de Jesus Cristo Rei do Universo e Festa da apresentação de Maria SS. ao Templo.

                                                                                              Sac. Donato Rizzi.

4 comentários:

  1. Gilberto e Padre Donato.

    Feliz fiquei em ler tão cativante entrevista. Um vislumbre do passado veio à mente. Nos minutos que duraram a leitura pude rever algumas de minhas práticas, bem como as do Padre e as de Gilberto.
    Durante meu doutorado pude me aproximar dos escritos de Luiggi Pareyson, esteta italiano e cristão. Os principais conceitos de sua hermenêutica versa sobre verdade e interpretação. Para Pareyson não há a possibilidade de posse da verdade, já que a única maneira de aproximação dela se dá pela interpretação. E esta última é pessoal e histórica. Em outras palavras, da verdade temos apenas interpretações.
    Por esta razão consigo, hoje, interpretar de maneira bem menos dogmática os eventos que protagonizamos.
    Hoje vejo a história de nosso tempo como essencial pra o que sou, viveria tudo novamente? Talvez, afinal de contas podemos escolher o que aprender, mas nem sempre podemos escolher o método.
    Parabéns, que esta entrevista se eternize em minha mente, assim como eternizado está a figura de Donato Rizzi, a quem admiro pela fé, pela brandura e pelas ações.
    De Gilberto só tenho a dizer que temos muito a trilhar ainda e que essas trilhas sejam despojadas de nossos preconceitos e nunca... nunca de forma fundamentalista - a viúva de verdades e, principalmente de interpretações.

    Abraços, paz e saúde!

    Luciênio, o menino de Mima.

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  2. Entrevista muito longa mas li tudo até ao fim pq a achei muito interessante, tanto pelas perguntas feitas que as respostas .O que não quer dizer que seja de acordo com todo !!! kkkkk
    Certamente, na Europa, o nível social da população é bastante elevado (embora eles tendem a regredir) as pessoas são muito mais ligados aos bens materiais que espirituais.Mas, pude constatar também que os representantes da igreja também tivessem perdido a sua vocação a evangelizar.Quero dizer por lá que vale melhor ser crendo e praticando para entender a palavra de Deus.Postos à parte alguns que terão a curiosidade de ler a Bíblia ou de fazer uma investigação pessoal pouco de pessoas terão a oportunidade de encontrar um padre.
    Isto é a nossa realidade, nosso vivido!
    Haveria muito a dizer!!!
    Parabens !!!

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  3. Lì hoje, depois de mais de um ano, esta minha "entrevista". O que vale na vida nao sao as "discussoes", mas aquilo que se realiza com amor e dedicaçao. Agradeço ao Deus da vida por ter-me dado a oportunidade de encontrar tantas pessoas com as quais TENTEI COMINHAR JUNTO POR UM PEDAçO DE ESTRADA. AGRADEçO TAMBE'M POR TUDO AQUILO QUE APRENDI JUNTO DE VOCES TODOS. UMA FELIZ PASCOA PARA TODOS.

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  4. Teologia da libertação é contrária a fé católica...muitos familiares meus se tornaram protestantes por causa de pessoas como Donato....tive o desprazer de conhecê-lo.

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