sábado, 10 de setembro de 2011

11 de Setembro – Nasce uma Esperança - Marcos Cavalcanti



O século XXI teve início, precisamente às 10:45h do dia 11 de setembro de 2001, data em que a perplexidade mundial se fez sentir e se expressar na sua máxima intensidade em todos os quadrantes do globo terrestre, face a um acontecimento sem precedentes na história da humanidade. A data, por sua importância poderia ou poderá marcar num futuro próximo os livros de história com a denominação de uma nova era, substituindo o que chamamos atualmente de contemporaneidade por uma outra designação ainda não conhecida. Esse traumático marco histórico de consequências permanentes tem vários ingredientes belicosos e desastrosos para a humanidade, dentre os quais, destaco o ódio e a ambição humana nascidos da ideologia político-religiosa, como os principais responsáveis por gerar o terrorismo e todas as suas desgraças, pretensamente “justificadas”.

São 8 horas da manhã de 11 de setembro de 2001, acordamos tensos, ansiosos pelo porvir. Foram meses de preparação minuciosa, com acompanhamento especializado, aquisição de produtos, leitura de manuais, escutas, relatórios e tudo o mais que uma operação deste porte requer daqueles que estão engajados e conscientes do tamanho de suas responsabilidades. Sem que soubéssemos exatamente o que nos esperava, eu e minha companheira partimos para o local previamente agendado. Era o princípio das dores que começava. O trânsito horrível aumentava ainda mais a nossa tensão, a nossa angústia. Felizmente conseguimos chegar sãos e salvos ao nosso “Marco Zero”, espaço de um novo tempo que ia surgir, banhado pela luz intensa de um sol suspenso num céu de brigadeiro, refletido no grande espelho da costa atlântica que nos circundava.

Passava das 9 horas quando recebemos a ordem peremptória de nos separarmos e de nos prepararmos para a operação que daí a pouco iria se desencadear de modo irreversível na vida dos vários envolvidos. A minha companheira mostrou-se vacilante, apertou-me a mão com lágrimas no rosto, embaçando ainda mais o olhar de pavor que de suas pupilas saltavam ante ao desconhecido. Disse-lhe para ser forte e que acontecesse o que acontecesse, eu estaria, em pensamentos, ao seu lado. Um último argumento lancei para mudar os planos e seguir em frente junto com a minha parceira, mas fui impedido pelo encarregado-chefe da operação. Restava-me a resignação e seguir o meu caminho solitário, com todas as incertezas e temores de um principiante, mesmo tendo me preparado tão bem durante o longo aprendizado.

Dirigi-me à antessala do grande prédio e me prostrei no balcão de atendimento. Os ponteros do relógio na parede à minha frente se arrastava lentamente. Eu sabia que em instantes entranhas seriam rompidas pelos golpes cirúrgicos de mãos firmes e determinadas. Gritos nos corredores; sirenes nas calçadas. Eu andava de um lado para o outro aguardando notícias do desencadeamento da operação. Já havia passado quase duas horas de nossa despedida. Perguntava. Não me diziam nada.

No ápice de minha aflição, finalmente pude ouvir da recepcionista que a Esperança havia acabado de nascer, exatamente às 10:45h daquela manhã de 11 de setembro de 2001. Ela pesava 4,70kg, media 52 cm e era a cara do pai coruja. Para esse momento especial havia preparado uma camiseta com a imagem de minha esposa grávida, com uma mensagem que dizia mais ou menos assim: Na cidade dos Reis, eis que nasce uma Rainha, se tua mamãe assim desejar, terás por nome Nadiajda, que se traduz por Esperança. Sede bemvinda querida filha ao jardim de nossas vidas. Nossa doce e linda Esperança. Nadiajda era o nome que havia escolhido para minha primeira filha, 10 anos antes de seu nascimento, a partir da leitura que fiz do livro Viagens, de Graciliano Ramos, e cujo significado de origem russa remete à Esperança.

Não havia televisão na sala da maternidade Januário Cicco, mas em toda parte, o mundo boquiaberto tomava consciência de que jamais seria o mesmo após o terrível atentado. Para mim e minha esposa Sueli, naquela instante em que a morte marcava para sempre a vida de milhares de pessoas de várias nacionalidades e que trabalhavam nas torres gêmeas, bem como de outras tantas em consequência dos tresloucados atos; era a vida em forma de Esperança que brotava em nosso jardim, linda e forte como uma rosa contrastando com esse dia louco e despedaçado. Parabéns filha por mais este aniversário!!!!

Marcos Cavalcanti



3 comentários:

  1. Que experiência interessante, Marcos! Duplamente inesquecível para você e família tornou-se esse dia! Belo texto.

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  2. Confesso que a narrativa me deixou com suor na testa, só respirei aliviado no final do texto, pois o mesmo nos trouxe a Esperança, parabéns primo e a Esperança!

    Wilson Filho.

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  3. Marcos, há alguns marcos que marcam a vida da gente, né? Por exemplo, no dia 11 de setembro de 1963, D. Emília Mariano, mãe de Assis de Milu, parteira sem diploma de academia, (naquela época nem hospital havia na cidade, e nasci na segunda casa vizinha aos Correios na Rua Senador João Câmara, em Santa Cruz), uma quarta-feira de sol escaldante, às 15he15min, puxou-me, com as suas benditas e competentes mãos, para este nossos mundo. Durante toda a minha infância admirava muito um tio paterno, que lembrava bastante um grande astro do cinema italiano, Terence Rios, acho que o nome dele era esse, e o seu meu melhor personagem era Trinity, tipo faroeste. O cara atirava como ninguém. Meu tio parecia-se tanto no aspecto físico como em habilidade de pontaria com o famoso. Eram alvos certeiros. Os fictícios bandidos cinematográficos e as reais rolinhas/nambus não tinham chance para esses dois ídolos meus. Com Terence Trinity meu último contato se deu no dia 11 de setembro de 1979, no Cinema Santa Rita, no filme "Trinity não perdoa", presente de aniversário de meu pai. Nunca mais tive notícias suas. Do meu Tio, a última lembrança foi sua frase não concluída a mim e ao meu primo dirigida, "... a estrada está uma pista e...", e ele caiu para sempre, do tiro certeiro e fulminante no coração, que só os traiçoeiros infartos terroristas são capazes de alvejar. Naquela manhã de 11 de setembro de 2001, no Sítio Baixa verde, Zona Rural de São Bento do Trairi, eu comorava, com eles, meu aniversário. Era, para mim, a primeira grande torre que desabava. Em seguida, questão de minutos, o mundo, perplexo com os aconteciemntos, chorava a perda de muitas vidas. 11 de setembro, Marquinhos, é uma data muito especial. A sua linda filhinha veio para amenizar os muitos traumas daquele dia. O nascimento de uma criança é como uma poesia alegre, colorida e cheia de esperança e de vida. Parabéns pelo texto e um abraço.

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