JOÃO MONTEIRO, UMA VIDA DIGNA DE MUITOS CAUSOS
Minha mãe deu-me hoje à tarde (sábado 18-06-2011), a notícia do falecimento de seu João Monteiro, o que me deixou triste, aliás, sentimento oposto ao que seu João costumava cultivar nos outros, com o seu humor peculiar, traço marcante de sua personalidade. Foi através de Lindóia, sua filha, que tivemos a honra de tê-lo como colaborador do nosso jornal Memorial Santacruzense. Ele, que assinava seus textos em coluna intitulada João ANEDOTA Monteiro (contando estórias e histórias), nos brindou algumas vezes com seus causos, como este publicado na edição de março de 1999, que fiz questão de redigitar para prestar uma singela homenagem à memória desta grande figura humana. Eis o texto:
Sempre gostei de um violão. Quando jovem, era um companheiro fiel nas minhas farras. Ainda hoje quando bate a saudade daqueles tempos, faço de conta que sei tocar e velhas e lindas canções fluem na minha mente, rejuvenescendo o meu espírito. É quando bate uma saudade braba daquilo que não volta mais. Mas, falando de violão, lembro de um episódio que envolve pessoas do município de Campo Redondo-RN, que sempre tive muito carinho e respeito. Fernando Costa (hoje falecido) era um deles. Era uma criatura adorável e apaixonado por um violão. Como se excedia nas farras, um dia o seu pai, Sr. Manoel Noberto, um senhor bastante conhecido naquele município e no qual deposito bastante respeito, pediu-me que eu evitasse emprestar o violão ao seu filho. E assim fiz. Um dia chegou uma figura, conhecido pela alcunha de Zé Soldado e entregou-me um bilhete mais ou menos assim: Sr. João Monteiro, por favor empreste-me o seu violão. Assinado – Fernando Costa. Como eu havia prometido ao seu pai, inventei uma desculpa e neguei. Dez minutos depois, chega novamente Zé Soldado e diz: Seu João, olha aqui que mandaram para o senhor. Era outro bilhete pedindo o violão. Dessa vez foi bem caprichado e contava com as assinaturas de Ibanez Gomes (falecido), Tico de Sabiá, Tico de Benedita, Tico Plácido, Bomba (Fernando de Tio) e Fercosta (Fernando Costa). Zé Soldado, como era analfabeto, colocou sua impressão digital. Todas essas criaturas eram possuidoras de uma jovialidade invejável e uma das coisas que tinham em comum era gostar de “uma branquinha”. Li o bilhete, refleti um pouco e como num passe de mágica, o pensamento me transportou para junto daquela turma maravilhosa a espera de um violão. Não resisti. Entreguei-o ao portador. Se era um violão que precisavam, estava ele ali. Depois encontrei Manoel Noberto, mostrei o 1º bilhete e ele perguntou:
_Como você agiu?
_Respondi: Não mandei.
_Muito bem João, obrigado!
_Mas, espere aí. Tem outro bilhete.
Quando ele leu, perguntei:
_E aí, no meu lugar o que você faria?
_Mandar, né, João Monteiro, afinal para umas personalidades dessas, não se pode faltar.
Como este pequeno conto humorístico, muitos outros devem estar na memória dos que tiveram o privilégio de ouvir seu João Monteiro contar pessoalmente. Neste momento, se os violões entoam notas de despedida, que elas sejam suaves para confortar toda a família. À Lindóia, especialmente, o meu agradecimento por ter tido seu pai como colaborador de nosso jornal, e o incentivo para que continues escrevendo as histórias que ele contava. A alegria delas, evocarão as boas lembranças de seu estimado pai.
Marcos Cavalcanti
Meus sentimentos a Aparecida, Lindóia, Risada e aos demais familiares. Que Deus amenize a grande dor que fica!
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