SUPER-SADIO
Heraldo Lins – 15,10.2018 -Natal/RN
Na idade adulta, muito trabalhador. Hora marcada para cada trabalho que se propunha a fazer. Estava sempre a pensar no próximo compromisso. Agenda na cabeça. Não esquecia nada. Oito filhos para criar imprimia-lhe um ritmo acelerado em busca do sustento de domingo a domingo. A única festa era trazer refrigerantes para a ninhada que saltitava de alegria ao vê-lo apontar na esquina. Ao chegar à casa havia briga dos menores disputando o colo. Cada um tinha seu tempo para passar com ele e contar-lhe como foi a semana. Se havia denúncia de alguma travessura, com paciência mostrava-lhes o caminho correto a seguir. Para àqueles descendentes ali estava o super-herói. Músculos caracterizando homem familiarizado com o trabalho braçal.
Denunciado, certa vez foi preso. A inveja o levou à prisão. Não conseguiram prendê-lo por muito tempo. A verdade veio à tona e o soltaram duas horas depois. No dia seguinte Judas passou em frente à sua casa e o cumprimentou. O mesmo respondeu “BOM DIA” como se nada houvesse acontecido. Homem sem rancor. Foi ensinado que o ódio é contra quem carrega.
Seu objetivo era manter todos estudando tendo o que comer. Mesmo sem saber ler fluentemente, admirava quem sabia. Trouxe todos para a cidade. Lá prosperou. Comprou um sítio e uma casa. Algumas cabeças de gado faziam-lhe a felicidade. De casa para o trabalho. Paciente, ouvia a todos. Seu filho caçula fora assassinado. Tiro na nuca. Meteu-se com coisa ruim. Não derramou uma lágrima. Cada um segue o seu caminho.
- Por falta de conselho não foi, apenas murmurou.
Os dias foram passando. Aglomeraram-se em semanas, meses, anos, décadas empurrando-o para a velhice. Vendo os netos gritando hoje dentro de casa para ele é o seu divertimento. Às vezes se refugia no seu quarto, mas os menores vão perguntar-lhe: _ Vovô! Já tá dormindo?
Mas quem pensa que os compromissos acabaram, ficou enganado. Hoje ainda visita o sítio.Olha os animais. Dá ordens, mas sua preocupação maior está voltada para os dezesseis comprimidos diários que tem que ingerir. Na sua maioria são horários diferentes. Sua atenção está voltada para não esquecê-los. Quando esquece um deles o marcapasso dá sinais de que não está bombeando o sangue. Se esquecer outro as dores na coluna voltam. Se não tomar àquele a infecção urinária invade o sistema. Anda com bastante dificuldade. Mas se perguntarem o que sente, ele diz:
- nada... “tô bonzim”.
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