domingo, 4 de agosto de 2024

SEM BRINCADEIRA

 


SEM BRINCADEIRA 


Um pote. Sim, apenas um pote junto à parede da sala de jantar. Uma mesa comprida, ao lado, poderia ser vista como sendo mais importante, mas o autor agarra-se ao pote para fazer o mundo girar em torno desse. As pessoas passam e só o notam quando estão com sede. Tiram a tampa e o pano, enchem o caneco e depois falam: que pote esfriador d'água, benza a Deus! Gut, gut, gut.

Para montar um boeing 737 são necessárias seis milhões de peças, cada uma mais sofisticadas do que a outra, e o cara vem me falar de um pote!?  Pois é, se não quiser ler, basta parar, mas saiba que é do pote que se vai continuar falando. 

Ele é de barro. Lógico! Não tão lógico assim, pois saiba que há de cimento, fibra, e até barriga dilatada é também assim chamada. No nosso caso, repito, é um pote de barro. Se há um objeto no mundo mais simples do que um pote, pode levantar a mão para disputa de argumentos. Até um alfinete ganha de longe em matéria de sofisticação, porém o pote...Ah, o pote! Que simplicidade! Suas curvas lapidadas a mão deixam qualquer um admirado. É gostoso abraçá-lo, principalmente cheio d'água e na sombra. 

Alguém pode dizer que estou usando metáfora, mas não, estou falando daquele mesmo que fica emborcado na feira esperando um dono para ser levado para a casinha do alto da serra onde há um violão, um banquinho e uma musa há pouco conquistada pelo vozeirão do poeta. 

Quem já foi sapo, em outras gerações, sabe quão gostoso é ficar no pé do pote curtindo sua revência. É ali que também a cachaça fica guardada para um pouco de euforia quando a vida precisa ser maquiada. Há luto quando se tem acidentes envolvendo o danado do pote. Um homem violento não é aquele que mata, mas um que tem coragem de quebrar um pote.

Não falo da brincadeira de São João, mas daquele que é pensado bem antes da cerimônia aos pés do padre. Já comprou o pote?, perguntam os mais íntimos, deixando a cama em segundo plano. Numa relação de necessidade, a cama é supérfluo junto a ele. Pode-se dormir no chão, porém ninguém guarda água espalhada no piso.

Muitas nações perdem a guerra porque não conseguem levar um pote para as trincheiras. Na melhor das hipóteses, um cantil, e todos sabemos que soldado preparado é aquele com um pote na cabeça, pois a bala do inimigo será atraída para lá não lhe acertando, diz a lenda. 

Gisele Bündchen ficaria eternizada se fosse fotografada com um em cima daqueles cabelos loiros, claro, com uma rodilha entre os dois. Deveria ter o dia internacional do pote e da rodilha, assim como 31 de julho se comemora o dia do orgasmo. Os dois têm uma relação muito íntima, pois ninguém sente um sem estar com o outro. Quem não entendeu vai ficar sem, já que aqui não é sala de aula.

 Por favor, explique. Não vou explicar. Continuando... É melhor não. Não o quê? Continuar. Por que não? Porque não! Isto aqui é sobre um pote e não sobre o uso dos porquês, está entendendo? 

Pois bem! O pote só fica com raiva quando o utilizam nas comparações maldosas: como está fulano? Gordo igual um pote, e se alguém achou este texto sem graça, por gentileza, evite dizer que o autor só escreve miolo de pote. 


Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 04.08.2024 - 07h11min.

Um comentário:

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