O PÓLEN DA CRIAÇÃO
Recentemente, descobri a grandiosidade da minha ignorância. Entretendo-me com problemas de física, deparei-me com a partícula de Deus, conhecida desde 2012, e da qual eu nunca tinha ouvido falar. A partícula Bóson de Higgs, como é nomeada cientificamente, mudou a percepção de como vejo o mundo, e ninguém veio me dizer: Olha, agora a fome deixará de matar gente na Terra.
Segundo os cientistas, existem partículas menores do que o átomo que formam a matéria, e imaginar que uma belíssima donzela nua é formada por partículas de Deus deixou-me ainda mais confuso. Essas partículas existem desde que o mundo é mundo, então, por que só agora vieram me atormentar, dizendo que tudo o que eu estudei foi pura perda de tempo? Ah, não! É revoltante ter que me atualizar constantemente para poder prosseguir em uma simples conversa na mesa de bar, já que todo menino, hoje em dia, sabe sobre essas partículas.
Enquanto me debatia com essas revelações, uma sensação de impotência me invadiu, como se o conhecimento se transformasse em um fardo, em vez de um alicerce. O pior é perceber que, em muitos aspectos, estou ficando para trás. A cada nova descoberta científica, vejo o tempo corroendo minha capacidade de compreensão. A física quântica faz-me questionar se há realmente um limite para que eu a compreenda, ou se não é tudo mentira fabricada em laboratório para dividir a humanidade entre inteligentes e zurradores – e eu estou quase me colocando nesse segundo grupo.
Esse turbilhão de incertezas me faz refletir sobre o lugar que ocupo nesse vasto universo de saberes e descobertas. Em tempos antigos, bastava saber ler e escrever para ser considerado erudito, mas agora, parece que é necessário entender as flutuações quânticas para não ser desprezado. A sensação de estar cada vez mais distante do conhecimento verdadeiro me assombra, como se o mundo, em vez de se abrir, se tornasse mais incompreensível. O mais curioso é que, quanto mais me esforço para entender, mais me deparo com dúvidas. O que antes era simples, agora parece uma teia inextricável de informações, causando-me medo de não conseguir acompanhar tudo isso.
São tantos nomes que surgem a cada descoberta, que preciso fazer um questionário diário para ir incorporando-os ao meu repertório, sob ameaça de ficar com cara de paisagem em um debate qualquer. Os férmions, os quarks e tantos outros nomes utilizados na física quântica estão me deixando com dores de cabeça. Os prótons e elétrons tornaram-se gigantes depois que descobriram a matéria-prima que os compõe. Daqui a pouco vão descobrir a matéria-prima da matéria-prima, e a compreensão vai deixando um rastro de loucos pelo caminho.
O mais inquietante é perceber que, enquanto a ciência avança a passos largos, a compreensão dos meus dilemas pessoais parece estagnada em um debate já superado há milênios. Tudo se resume a uma busca frenética por respostas, mas essas respostas, em vez de clarear o caminho, acabam gerando ainda mais perguntas. Se a física quântica diz que o universo é composto por partículas que podem estar em vários estados ao mesmo tempo, então eu não sou eu. Inclusive, as dores do parto, utilizadas aqui como exemplo, não passam de um turbilhão psicológico envolvidos pela ideia de parir.
O pavor toma conta de mim quando adentro nessa busca por um saber absoluto. Afinal, se o universo é infinito e misterioso, e eu sou parte desse todo indecifrável, no dia em que eu conseguir encontrar as respostas sobre meu "eu", estarei encontrando as respostas sobre como o mundo foi criado. Será que é isso mesmo?
Essa busca me remete à ideia de que, talvez, nunca entenderei realmente a totalidade do cosmo ou de mim mesmo. A cada teoria, mais percebo como é fugaz a linha entre o que sei e o que ainda está além da minha compreensão.
O consolo é que ainda tenho a capacidade de maravilhar-me com o desconhecido. Quem sabe, então, o segredo do universo não esteja nas leis da física, mas na maneira como aprendo a aceitar minha pequenez diante da vastidão do universo. Talvez o maior ato de sabedoria seja reconhecer que, no final das contas, o que realmente importa é que sou capaz de perceber um segredo indecifrável, e não, necessariamente, o que consigo entender de forma definitiva.
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Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 21.11.2024 - 10h52min