quarta-feira, 9 de novembro de 2022

MUITA LENHA AINDA VAI SER QUEIMADA - Heraldo Lins

 


MUITA LENHA AINDA VAI SER QUEIMADA

Caminhemos na criatividade com as palavras. Sim, porque com os sons são os músicos que têm essa responsabilidade. Nós, que ficamos com essa parte, somos um pouco de tudo. Análise política é o que gostamos mais de fazer, só que esse assunto dos golpistas está ficando saturado, mesmo assim não quero deixar de lado porque há ameaças à democracia. É sempre desse jeito: quando uma lei entra em conflito com os poderosos, tenta-se mudá-la. Aconteceu com as algemas. Era normal serem colocadas em quem estava sendo detido, porém quando os braços vieram envoltos em ternos de marca famosa, houve pressa para mudanças. 

Agora tem gente que defende um governo que não deu certo e nunca dará. Para não entrar no calor da discussão, prefiro ir caminhar onde as marés não mudam seu ciclo. Falar nisso, eu soube que a engorda da praia de Camburiú originou uma lagoa. Em Dubai também o mar está destruindo os aterros que foram construídos. Detalhes geográficos que levaram milhões de anos para se formarem, não tem “cabimento” o homem querer modificar em poucos meses. Eu até aplaudi esses empreendimentos, contudo vejo que “o buraco é mais embaixo.” Os quereres humanos nem sempre se harmonizam, por isso é necessário o amadurecimento das discussões para se tomar decisões plausíveis, e isso só se obtém quando há respeito pelas opiniões contrárias, tanto em relação à força do mar quanto à administração pública.

Durante esta escrita, fiquei querendo evitar falar do livro “A cidade sitiada” de Clarice Lispector. Recorri aos assuntos acima, entretanto meu pensamento puxava para a lembrança em decifrar o estilo dessa escritora. Muita gente diz que não entende o que ela escreveu, e fui atrás do segredo. Li e reli para ter certeza que é uma técnica onde o fio condutor da trama se apega aos pensamentos dos personagens.

 Aqui, por exemplo, é quase o mesmo que eu passasse a dizer que quando vi o homem pendurado na frente do caminhão, eu não fosse descrever a ação propriamente dita, mas criar um mundo originado na introspecção de cada um:

Vou me transformar em herói depois que esse caminhão parar, dizia o homem achando que seria louvado pelos amigos quando conseguisse seu intuito. Saia daí, disse o outro. Esse “cara” querendo fazer sua fama em cima do meu para-choque, é demais. Se souberem que ele deteve meu caminhão apenas com o corpo, serei motivo de chacota. A probabilidade de ser atropelado está me deixando com medo. Esse "filho da mãe" está doido para me matar. As mãos estavam suando e os pés começavam a dar sinais que iriam ter câimbras. Desde cedo, quando saiu de casa, o homem sentia uma pequena dor de barriga. Naquele momento de aflição, a dor veio com mais intensidade. Quando o motorista lhe perguntou se queria descer, ele não pensou no seu ato, mas em um banheiro limpo e confortável respondendo apavorado: sim, sim!

É necessário organizar a vida em sociedade para podermos respeitar os resultados das urnas. Não precisa ir se mostrar num para-choque para estimular que as armas assumam algo que é de responsabilidade da inteligência. É uma questão de adaptação, do mesmo jeito que tentei me adaptar ao descaso administrativo ocorrido nos últimos anos, Júnior Peixoto, comerciante em Caruaru, deve se adaptar à vergonha que os filhos sentiram ao vê-lo ali pendurado.

 

Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 08.11.2022 — 11:52



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