quarta-feira, 2 de novembro de 2022

ARRUMANDO AS MALAS - Heraldo Lins

 


ARRUMANDO AS MALAS


Depois que comecei a ver que existe grande possibilidade de apagar, fiquei mais à vontade para ir escrevendo sem medo de ser criticado.

É bom ir postando o que chega à cabeça, sem filtros, doa a quem doer. Se eu fosse registrando o que vem pelos sentidos diria que estou vendo um cursor piscando à minha frente e os dedos se mexendo de acordo com o que o cérebro manda. 

Há pouco, escutei uma teórica falando do tom das vozes de ambos os candidatos, enquanto um levava para o lado da violência, o outro, não por covardia, mas por inteligência, optava pela confraternização. 

Vou falar da planta com sua flor na ponta. Não, isso não chama a atenção e também falar de fuzil cuspindo fogo não devo, porque os tempos mudaram. Estamos passando por uma nova era da tranquilidade, fogo e fumaça só combinavam antigamente. Preciso manter-me ocupado até chegar perto das seiscentas palavras para entregar esta tarefa. 

Todos os dias é a mesma luta. Faço questão de escrever uma página para logo em seguida apagar, mas hoje prefiro deixar. Nem sei se o editor vai permitir que seja publicado, mas se não for, não tem problema, tudo vira pó e minhas ideias não devem ser exceção. 

Veio-me a ideia de escrever de trás para frente, entretanto não deu certo porque fomos educados em ler só da esquerda para a direita e, para minha decepção, o cérebro nega esse outro padrão. 

Fico sempre vagando igual a zumbi pelos assuntos sem assuntos para manter a corrente das palavras juntas. O sufoco é grande em permanecer nesse posto. Escuto algo lá longe e parece que são os golpistas que desde domingo foram por mim descartados. 

Alguém pode dizer que estou fazendo pura literatura, a expressão do artista, e quem defende que é isso mesmo, sou eu. Eu que optei em manter-me falando sem falar, dizendo sem dizer, sou quem posso defender esse ponto de vista. 

Este discurso tenta mantê-los entretidos e ainda dizem por aí que ler é bom para a mente. Se é bom mesmo, qualquer leitura deve ser boa, inclusive a desse texto. Essa é uma forma de correr para o esconderijo, fugir do massacre das urnas. Se alguém entendeu diferente, perdeu seu tempo. 

É um direito que temos não nos informar, mas isso provoca a solidão cultural. Sem as informações, o homem se sente sozinho no mundo. Que pena que somos escravos das notícias ruins, e eu, não só as trago, mas produzo muitas delas com o único objetivo de manter a sociedade correndo sem saber para onde. 

Não quero ser o responsável em criar um ambiente onde existam pessoas pensantes. Ninguém se sente no dever de aprender com essa fala, decorar datas ou nomes, até por que não existe nada por aqui que se possa aprender. 

Quem aprendeu, aprendeu e pronto. A ordem é ficarmos burros, imbecis e outros adjetivos que só servem para enfatizar como devemos ser. A felicidade, gerada pela inocência, é mais importante do que os mais profundos pensamentos. O homem inocente, longe da mesquinhez de todos, deve ser preservado. Se a ordem natural é um homem ligado aos instintos, então tá! deixemos assim. Alguém falou aí? Não? Então por gentileza, tenho que “dar no pé e ir simbora.” 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 02.11.2022 — 11:50



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