domingo, 13 de novembro de 2022

ACOSTUMAMO-NOS COM A FEIURA - Heraldo Lins

 


ACOSTUMAMO-NOS COM A FEIURA


Passando o olho no que falei ontem, percebi que o poste colocado naquele momento, trouxe-me, hoje, uma sensação de frenagem. Se fosse pelo menos uma porteira abrindo e fechando, poderia haver empolgação em torno dela, porém o poste com um tijolo próximo é realmente um assunto que não desperta interesse.  

O poste, por si só, não existe. Ele precisa estar envolto em uma grande necessidade para ser fincado no meio do caminho. Acredito que Drummond pensou logo nele, só que a má fama do “varal de fios” fez o poeta optar pela pedra. Pode “olhar” que sempre há acidentes automobilísticos juntos aqueles espantalhos.

Quem me multou recentemente foi um equipamento instalado em um deles. Se eu pudesse, pendurava as lâmpadas no ar e dispensava aquela estrutura que é adorado pelas cartomantes para afixarem suas propagandas. As visitas aos orixás seriam diminuídas se não houvesse aqueles “troços” no meio das calçadas.   

Diferentemente das montanhas que servem para estimular o desejo de escalá-las, quase ninguém tem vontade de subir em postes. Eles estão enfeando a paisagem há muito tempo, é tanto que Nikola Tesla disse que havia descoberto uma forma de transmitir energia elétrica através do ar, entretanto esse projeto lhe causou prisão domiciliar. 

A indústria que os fabrica é muito poderosa por contar com as coirmãs do concreto e ferro, e caso a energia elétrica não precisasse pendurar seus fios, deixaria milhões de desempregados, esse é o argumento utilizado pelos seus simpatizantes.  

A discriminação em relação a essas torres é tão intensa que quando estamos indo para um teatro ou uma recepção importante, sempre existem uns trajando preto, óculos escuros e escutas nos ouvidos. São a eles que jogamos nossa indiferença exatamente porque a denominação porteiro tem sua origem na função de ficar plantado nas portas observando quem chega e sai. Postes, porteiros e portas são primos legítimos, não restam dúvidas. 

Minha raiva contra os postes não tem nada a ver com a cabeçada que eu dei em um deles hoje pela manhã. Ia eu bem entretido conversando com meus fantasmas quando uma “pecadora” passou com seu shortinho desviando meu olho para a vala. Se existe o vale do rio doce, aquele era o que mais definia a direção do meu olhar. Estava chacoalhando pela corrida empregada e só não fui atrás porque a dor na testa me puxou para trás. Eu queria me oferecer para acompanhá-la, dar-lhe proteção mesmo sem ela precisar. No caso eu é que estava precisando, mas fingi que não, tudo bem? perguntei-me. 

Jurei vingança e agora estou fazendo uma análise discriminatória contra meus agressores. Isso eu faço sem nenhum medo, tendo em vista que eles jamais sairão dos seus lugares para correr atrás de mim, a não ser quando eu estiver dormindo. Sempre acontece eles aparecerem nos meus pesadelos fazendo discursos mentirosos, aliás, os discursos perderam credibilidade depois que um poste utilizou palavras não correspondentes com a verdade, por isso não votei naquele que estava fincado na avenida fake news, número 22.  

   

Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 11.11.2022 – 16:09



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