quinta-feira, 20 de outubro de 2022

VIGIEMOS UNS AOS OUTROS - Heraldo Lins

 


VIGIEMOS UNS AOS OUTROS


Hoje terminei de ler: “É assim que acaba”, de Colleen Hoover. Naquele aconchego da maternidade, a personagem perguntou ao marido se ele aceitaria que sua filha, quando crescesse, fosse espancada. Ele caiu em prantos ao se lembrar o que fizera com a esposa no início da gravidez. Não, não queria que a filhinha fosse estuprada. Quero o divórcio, disse ela.  

Nem sempre é assim que termina um relacionamento entre um homem opressor e uma mulher vitimada pela condição de querer amar alguém. Não se percebe a olho nu, mas acredito que é no silêncio do choro que muitas decisões de fuga acontecem a cada instante. Ruim é quando não se tem para onde fugir; onde o cativeiro de casa e comida faz a pessoa suportar maus-tratos. 

A problemática da violência irá se acabar quando outro meteoro cair na terra. Enquanto não, as campanhas são necessárias para evitar essa prática, principalmente, no lar. 

Na ficção, os temas cruéis nos fazem refletir onde estamos e que papel desempenhamos no espaço em que estamos inseridos.

Já me interessei por outro livro, iniciado há pouco, onde Anton Tchékhov, na “A ilha de Sacalina”, diz que é comum os homens emprestarem, em troca de dinheiro, a mulher para os amigos, além de ser comum também caçar chineses a bala. É o olho do artista que traz, para o nosso universo, assuntos que acreditávamos só existirem em “mundos pré-históricos.” 

Essa é mais uma utilidade da arte literária: de tanto expor temas proibidos, é que a população começa a se conscientizar do que é certo ou não, pois a exposição negativa é algo que ninguém quer. 

As redes sociais estão aí para policiar e inibir as ações de quem acredita que todos os pensamentos psicopatas devem ser colocados em prática. Um dos casos mais chocantes, recentemente exposto, é o vídeo de um candidato à presidência insinuar que a criança começou a fazer sexo logo cedo. A menina estava falando da profissão de ser repórter, e ele, com o sorriso de hiena: “quer dizer que você começou logo cedo, hahahaha?” E mais ainda, quando a eleita senadora comenta sobre crianças que supostamente tiveram dentes arrancados para não morderem exploradores durante sexo oral. 

Ao saber que essas pessoas ocupam lugar de destaque em nossa sociedade, nos faz refletir que alguma coisa está errada. Não precisa torcer para um lado ou outro, basta fazer uso do bom senso para se chegar a uma conclusão. 

Nossa sociedade está doente, poderíamos dizer assim. Diríamos também que a puta sociedade romana pariu Tibério César e que a nossa brasileira está parindo esses mesmos tipos de gente. Quando se compartilha uma tendência e há pessoas que concordam com o que está sendo exposto, esse é o problema. Sabemos que alguns seres humanos são doentes, o que não se pode deixar é essa doença se alastrar. 

Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 18.10.2022 — 13:48



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