sábado, 8 de outubro de 2022

PASSEIO POLÍTICO - Heraldo Lins



PASSEIO POLÍTICO


O dia de hoje começou com um típico caminhar na praia. Para qual lado devo ir? fiquei em dúvida ao me deparar com o mar. Não podia seguir em frente, a não ser que quisesse chegar à África, então escolhi o caminho da esquerda. 

Depois de não mais ver os biquínis com tanta frequência, decidi voltar e encontrei-me com o mesmo par de pernas de quando ia, mas os olhos da dona pouca atenção dispensou aos meus. Outra beldade, quase nua, passou com fones de ouvido causando murmúrios de "ai meu Deus!" entre os marmanjos.

Lá no pé do morro, parei para observar a mata nativa com seu esplendor de um verde pintado com flores brancas servindo de pano de fundo para uma borboleta-amarela. Ali deve ter saguis, pensei olhando também para a areia que fazia fronteira com aquele matagal esquecido. Mais adiante, encontrei alguns pescadores com as pernas cansadas levando sacolas nas mãos. Uns vigiavam seus barcos à procura de turistas para um passeio enquanto se entretinham com o vai e vem das ondas.

Duas jovens vinham ao meu encontro de mãos dadas no maior companheirismo. Oh! que pena essas lindas optarem por descartar o bicho homem. Bem feito, pensei, essa é a tendência das humanas. Esse senhor, pensou uma delas, acha que somos lésbicas. Fingimos muito bem, irmã. 

Algumas espalhafatosas, com excesso de comida na mesa, carregavam suas almofadas naturais que se despejavam por cima das roupas curtas e apertadas. Logo em seguida, percebi pais vigiando filhas branquelas que resolveram se deixar pegar pelo sol das oito da manhã. 

Encontrei uma mãe exposta aos olhares. O garoto branco dava exemplo de miscigenação brincando “chiqueirado” pelas torneadas pernas da mãe. Pleno meio de semana tendo o mar como testemunha de quanto ela era bela, de bruços. Não gostei nem um pouco daquele homem olhando para os glúteos de mãe, pensou o menino magro de cabelos cacheados enquanto construía castelos.

Uma ducha deu-me a sensação de paz ao levar minhas preocupações para o ralo. Já refrescado pela sombra da toalha limpa, entrei no rolo compressor das informações e vi que ontem houve manifestações por mais verbas para as Universidades. Enquanto o mundo todo valoriza o conhecimento, alguém vai na contramão. De qual lado ele está mesmo? 

À tardinha fui repetir a dose caminhando com a patroa ao lado. Disse-lhe que precisamos unir corpo e mente senão essa última reclama em forma de tontura. No calçadão, tomei o lado oposto do coração, para não dizer que fui para a direita, e saí caminhando atrás de uma cadeira de rodas empurrada por três idosas com um homem jovem sentado nela. Quanto é? perguntou uma delas ao ex-pescador transformado, por falta de disposição, em vendedor de coco. Ele desanimado em dizer três reais, fez-lhes optarem em continuar empurrando a cadeira.  

Decidi caminhar à frente para não chamar a atenção das “oferecedoras” de passeios. Quando elas veem um casal, mostram-se mais insistente. Família, quer dar um passeio de barco? de triciclo?... daqui que as convença que não temos interesse já perdi a paciência. Digo não, balançando o dedo indicador sem fitá-las, e prossigo.   

À noite saí para as compras e me deparo com uma briga no trânsito. Um vendedor de pipoca discutindo com um motorista por ter quase atropelado seus filhos no sinal. Soube, por um dos ocupantes do meu veículo, que uma pessoa orientou para passar por cima de pedintes, pois esses votam em favor da paz.  

No supermercado, checo as mensagens e assisto um vídeo rápido onde um “cara” me chama de filho disso e daquilo outro; que eu fosse tomar onde a galinha toma, que eu era um nojento etc, etc, etc. Acredito que todo o seu repertório de malcriações ele despejou em mim, mesmo sem me conhecer, simplesmente por eu ter nascido no Nordeste brasileiro, segundo ele, uma raça de preguiçosos que votam na esquerda. É... nem tudo é praia e sol.   


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 07.10.2022 — 11:41



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