terça-feira, 6 de setembro de 2022

RETAS ONDULADAS - Heraldo Lins

 


RETAS ONDULADAS


Uma explosão, de forma lenta e sem barulho, ocorreu há pouco. Todos os dias, fico observando e tomando nota dos resultados. Quer se queira ou não, até um piscar de olhos são explosões no mundo sutil das interligações. 

O conta-gotas diário permanece pingando em mais outras explosões sem existir um freio para essa multiplicação desenfreada. Só não sei o lugar onde buscar a sabedoria inibidora delas, mas sei que devo permanecer perguntando: "onde estás que não respondes?" 

O que recebo são imagens da casa construída por lençóis brancos. Naquela bolha, tudo permanece quase inalterado e o privado restabelece a vontade de expulsar o coletivo. As moedas de troca são adestradas durante uma existência travestida de aparências e domesticada pela educação dos sentimentos.

As elucubrações mentais permanecem direcionadas para o autoconhecimento que vai buscando a salvação da consciência pela própria consciência, e daí se exige mais e mais sofisticação para conservá-la em perfeita coerência.   

Os ventos vão e vêm embalando os caminhos oferecidos e aplaudindo quem souber escolhê-los, mas isso é totalmente intuitivo e não há escola para ensinar a matéria do se conhecer.

Por trás, há os corpos desgastados pelo mau uso do instante que não tem tempo para olhar quem se perdeu nos arrependimentos.  

A sabedoria aparece para gritar que a indiferença corrige a estrada das opções desviadas. Lá está o silêncio concordando em seguir escondido. Nem os fragmentos são encontrados para saber o roteiro da fuga.   

Com o tempo passando em ritmo acelerado, só a imbecilidade permanece jogando ideias na fogueira e reprimindo outras para evitar a verdadeira libertação. 

Não é projeto de quase ninguém se alforriar do conformismo coletivo para transformar-se num ser imparcial.    

Traduzir tudo isso chega a ser desafiador. São fragmentos pressionados pelo mal-estar de estar bem, estado incomum que deveria ser a regra. As preocupações reivindicam: olhem para nós porque precisamos mastigar os seres que nos possuem. 

É comum viver com problemas elaborados de forma infinita, e mais comum ainda é criar ramificações que justifiquem possíveis saídas tangenciais. 

Da janela do barco, só há água escondendo muitos mistérios da sobrevivência. Ali estão sendo avistados os afogados e os famintos por aventuras extracorporais. 

A área de conforto está mais do que confortável, chega dá medo dizer que assim é o sonho transformado em realidade. Não é fácil acreditar que isso permanecerá diante de uma realidade volátil administrado pela pausa da dor. 

Já vai longe o tempo do início. Daqui a milhões de anos pessoas continuarão nos cômodos das responsabilidades e se manterão protegidos por questionamentos sem fim.

É lento o processo de tomada de consciência, e a dor serve para ir orientando esse caminho. Pergunta-se se a alma vive para o corpo ou o corpo para a alma. Mil e uma noites para responder de forma errada essa questão, até por que só nas perguntas é que a verdade está presente.  


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 05.09.2022 - 16:50



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”