sábado, 13 de agosto de 2022

FUGA DA PROPOSTA INICIAL - Heraldo Lins

 



FUGA DA PROPOSTA INICIAL


Estou escrevendo, é óbvio, e você lendo, eis outra obviedade. O texto de hoje trata de obviedades. Quero me pautar em algo que seja de fácil entendimento. Se você quiser desistir, vou ficar triste sem saber que estou triste, mas não posso obrigá-lo a seguir algo totalmente fora de seu interesse. Disse mais uma e registrei apenas para você entender que estou atento ao propósito inicial. 

Pois bem! Nesse momento tomo fôlego, porque até para falar do óbvio está difícil. Nem sei se vou conseguir sem me decepcionar, mas se isso acontecer você deve vibrar, desculpe-me, espero que vibre. Sim, porque para mim é bem mais confortável ir falando, falando... mas para quem está lendo é estranho alguém se ocupar em construir um texto que não terá final surpreendente, apenas finalizar-se-á igual a uma estrada asfaltada que vai parar no meio do nada. 

Minha opção por esse assunto, vou confessar, é que desde ontem que tento escrever algo excêntrico, mas infelizmente só saiu obviedades. Parece até que este texto estava gritando para ser escrito. Foi preciso eu dormir, acordar, ir ao banheiro e depois fugir dele para entender a gritaria que a obviedade estava fazendo em busca de atenção. Tem coisa na vida que chupa para acontecer... Acho melhor usar o termo "clama" ao invés de "chupa". Então fica assim decidido: clama. Vamos seguir!... Bom!!!!!!!!!!!!!!!!!!!... 

Parei nesse "Bom" por tanto tempo que achei melhor ir acrescentando pontos de exclamação para expressar a sensação de demora, e ainda acrescentei reticências... como você notou né? Isso é que é saltar à vista! 

Aqui houve uma vontade enorme de me perguntar o que direi agora, mas isso você não pode saber porque faz parte dos bastidores do texto. Não interessa o que pensa o escritor, o que importa é o que ele consegue produzir. 

Se você pensa em desistir, não faça isso, pois vou tentar levar você o mais confortável possível até o final dessa jornada. Essa tarefa de asfaltar e de dar manutenção à estrada, cabe a mim. Mesmo que precise de muito trabalho para entregar pronta essa rodovia, a satisfação compensa. É muito bom vê-la cheia de usuários trafegando sem precisar pagar pedágio. 

Não, não corra! Nessa estrada, o máximo permitido são três minutos por página. Se você quer se ver livre dela, agora é tarde. Entrou no túnel, e, ou continua, ou morre de curiosidade para chegar ao nada. Lá no nada, para onde está indo a estrada, nada será exigido de você. Suas preocupações serão todas retiradas e você ficará em contato direto com a verdadeira essência. O nada estará pronto para servi-lo no que precisar, tanto no tempo presente quanto daqui a milhões de anos. É ele que esteve no início e estará no final de cada coisa que você pensar ou fizer. Ele será, como sempre foi, seu verdadeiro amigo. Não estou lhe dando falsas esperanças, aliás, nunca dou nada a ninguém, sempre dou estradas para trafegarem, e você continua, satisfeito ou não, viajando nessa.  

Daqui a pouco você encontrará um desvio que o levará à casa do dinheiro, mas não se deixe levar pela ganância. Evite esse desvio porque ao entrar nele você pensará que tem direito a tudo e o dinheiro nunca deixará você satisfeito por completo. Com o passar do tempo estará escravo da medida do TER que nunca enche, porque o tudo e o nunca passam a ser sócios majoritários da sua vida. Se você se deixar levar pelos três — dinheiro, tudo e nunca — desculpe-me lhe dizer, nunca terá nada de saúde, discernimento ou amor-próprio. A estrada está a lhe levar para o nada de ganância, inveja, rancor... aproveite enquanto há tempo.  


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 13.08.2022 — 14:45



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