quinta-feira, 24 de março de 2022

FAROESTE RÁPIDO - Heraldo Lins



 FAROESTE RÁPIDO


Por mais que tentasse prosseguir, sua disposição não o ajudava. Essa vida sem lar está me matando. Seja bem-vindo! Posso encher o tanque? Um dia de chuva, outro de sol. Temos ração para cães. Ele pode beber água ali naquele balde. A mesma rotina por estas estradas sem fim, já está lhe deixando entediado. Lá distante vê uma nuvem de poeira.  Você é a segunda pessoa que passou por aqui esta semana. O movimento está fraco depois dessa pandemia. Suas recompensas vêm até ele, naturalmente, como os que estão se aproximando. 

Aceita mais um café? Prefiro uma cama. Suas pálpebras pedem descanso. Depois pensará nessa questão dos arruaceiros. Aqui está a chave! Depois do corredor, apartamento cinco, à esquerda. Bem lubrificadas, suas duas pistolas são deixadas debaixo do travesseiro. Quantos serão naquela gangue? Há uma rota de fuga pela janela. Ao fechar os olhos, escuta, por baixo do sono, o cão latindo. É normal quando chega alguém. Um disparo, um latido de cão ferido, outro disparo, o silêncio. Adormece sabendo que não está na hora de agir.

Traga cerveja gelada. Sim senhor! Os que chegaram com sede, fazem parte do bando que vive cobrando pedágio naquele trecho esquecido pelas autoridades. Há muito não dorme um sono tranquilo. Os coiotes aproximam-se para rasgar o cão assassinado. Assaltantes de banco que deixam as coisas esfriarem para agirem novamente. 

Cadê o dono da Picape? É um homem de bem. Não respondeu a minha pergunta. Quer que eu estoure seus miolos ou de sua filha ali? Por favor, o deixem dormir. Dentro do cesto de costura está a arma que a filha manuseia como ninguém. Vamos velhote, mostre também se tem algum dinheiro. A agulha é espetada na camisa deixando descansar dentro do cesto. Seu semblante de adolescente fria a deixa separada dos algozes pelo balcão à sua frente. Não temos dinheiro, a não ser vocês que chegaram agora. Só fiz negócio a semana passada. Nem pude ir comprar mantimentos por falta de dinheiro. Esse seu hóspede deve ter. Vá e traga o dinheiro dele para nós que o deixaremos em paz.   

Não precisa ir buscar. Aqui está, mas me deixem dormir sossegado. Joga um pacote de dinheiro nos pés do chefe do bando e sai para o quarto. Todos puxam suas armas e ficam estarrecidos com aquela atitude. Então velhote, desce cerveja e desconte do pacote nossa dívida. Não queira nos roubar. Eu conheço trapaceiro pelo olho baixo. 

Está escurecendo e a rapaziada joga e bebe sem se preocupar com mais nada. Ele acorda já bem tranquilo do enfado. Ainda estão lá, com certeza, todos bêbados. Quem sabe se consigo recuperar o investimento. Abre a porta devagar e, sorrateiramente, observa que estão quase todos dormindo no chão e por cima das mesas. Calcula as ações e sai disparando nas dez cabeças que mal têm tempo de reagir. É assim que sempre faz, e dessa vez deu certo novamente, com a ajuda da garota. 

Confere os que estão com suas cabeças a prêmio, coloca-os na carroceria da picape e parte deixando os outros para o velhote enterrá-los. Sua nova namorada, satisfeita, sorrir por estar indo embora daquele lugar que quase não aparece ninguém para ser morto. 

       

Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 23.03.2022 – 18:58



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