domingo, 2 de janeiro de 2022

AS VOZES DO SERTÃO NA MINHA INFÂNCIA... - Jair Eloi de Souza

 

   Fotógrafo 


AS VOZES DO SERTÃO NA MINHA INFÂNCIA...


"O papa sebo é o maior cantor da natureza" (Luiz Eloi de Souza), meu pai.

Nos píncaros de uma galhada de mandacaru, numa manhã qualquer do outono de 1959, no "Riachão dos Borges", meu pai, vez por outra, parava a colheita de feijão macassar, para observar um papa sebo, que dava seu show de canto...e um canto diversificado, que imitava não em sí, só o seu canto de sabiá branca, mas, cantos imitando outros pássaros.
Aí, entendi porque essa deferência ao papo sebo, que pelo próprio nome, já faz muita diferença se chamado e comparado ao seu nome verdadeiro que é uma espécie de sabiá.
Meu pai tinha uma verve poética, fazia do canto daquele pássaro que não era preferido dos infantes, uma apologia como bom trinador.

Mas, outros cantos, naqueles tempos, me atraiam e logo ao amanhecer. Madrugada invernosa, ainda, deitado numa rede de três panos, tecida em tear manual, me encantava o canto do "caboré de orelha", canto vexatório, morrendo de frio.

Mas, sem dúvida, na hora vesperal, nada nos traduz mais encanto, do que o canto alongado de um juriti, convidando seu parceiro ou parceira, para o dormir no anoitecer. Isso sim, é um canto de muito romantismo.
Isso, eu ouvi no meu Sertão de outrora.

J.E S.


Jair Elói de Souza

É professor da UFRN e advogado;
Especialista em Direito e Cidadania;
Ocupou importantes cargos no RN;
É prosador, poeta e profundo conhecedor da cultura sertaneja."

2 comentários:

  1. Mais uma boa prova do estupendo homem do direito, mas acima de tudo, grande conhecedor e amante da aldeia nordestina, que faz questão de dizer que cresceu ao lado do seu avô, transportando rapadura, charque e outras mercadorias nas veredas do Sertão " no coice da burrarada".

    João Maria de Medeiros Dantas

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  2. Aplausos para o canto do papa sebo e tb para o poeta, que o descreve tão bem!

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