quarta-feira, 24 de novembro de 2021

JOGO NO RIACHO DO FEIJÃO - Heraldo Lins

 




JOGO NO RIACHO DO FEIJÃO 

 

No último domingo o jogo de vôlei foi disputadíssimo. Dois a dois e partimos para a “Nega”. Ponto vai, ponto vem, discussões acaloradas, dezenove a dezessete, numa partida de vinte e cinco pontos, estamos falando dos "finalmentes". A partir daí as reclamações triplicam: foi bandeja; rede; invasão; dois toques. Cada um fazendo dos argumentos uma arma para tomar ponto do outro. Não tem jeito. O espírito guerreiro entrou na quadra de areia e os apelidos vieram naturalmente: vai, Preguiça; corre, Pé de Bolo; adianta, Melissinha. Nessas discussões sadias, porém acaloradas, surgiram palavras de provocações: aqui não, papai; vai errar, Mão de Alface; pega essa, otário! 

A turma que estava contabilizando os pontos também se envolveu nos xingamentos e esqueceu de fazer o registro. Lá em cima, do outro lado da tela de proteção, a arquibancada estava lotada, tanto de gente quanto de gritos.    

Eu, com o pé machucado, jogando lá atrás e pensando: já faz mais de meia hora que ninguém grita o placar, esse negócio não vai terminar hoje não? “Lá pras tantas” alguém perguntou: 

_Quanto está? 

_Vinte e quatro a dezenove para o time de cá. 

_Ah, não, estão roubando! Nós estávamos na frente! Que negócio é esse? Vão roubar outro! 

_O placar é esse mesmo! Está certo! Vocês acham que essa “ruma” de gente ali está enganada? Um dos nossos disse apontando para a turma responsável pela contabilização dos pontos. 

Finalizamos a partida como vencedores, entretanto, a dúvida persistiu até altas horas. No grupo do WhatsApp ainda ouvi alguém dizer: 

_Vocês roubaram, ladrões!

Assim que finalizou a partida um amigo, que estava no outro time, chegou rindo e disse: 

_Rapaz, essa contagem ficou meio atrapalhada.

Um dos registradores argumentou:

_ É que o placar eletrônico deu um apagão. 

Mesmo sendo um encontro entre amigos, os argumentos não convenceram. Os “derrotados” saíram num blá blá blá que permanece até hoje.  

Lá é assim: quando nós não ganhamos pela habilidade, ganhamos na contagem. Domingo tem mais!        



Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 24/11/2021 – 05:38




4 comentários:

  1. Kkkkkk parece um futibó de lá in nói, na caiçarinha de Afonso Boca Rica. nos idos de 1970. Muito bom, meu caro Hera!

    ResponderExcluir
  2. É complicado, amigo Heraldo. Um escritor querer fazer operações matemáticas, ainda mais de forma mental.

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”