terça-feira, 24 de agosto de 2021

TERMINA EM CASAMENTO- Heraldo Lins

 


TERMINA EM CASAMENTO


Não sei por que doenças existem. Seria menos mal se aparecessem para serem descontadas somente nos dias restantes de vida. Depois de feitas as contas, igual a um vampiro ao sol, desapareceríamos esfumaçados. Mas não! Começa uma tosse, hospitais... é verdadeiramente um corre-corre permanente. Só pode ser a morte mandando mensagens do WhatsApp dela. Eu não tenho o número, mas acho que ela tem o de todo mundo: as dores nos dedos são os bons-dias; dor de cabeça são Emojis. Hoje pela manhã ela me enviou um fake: achei que fosse gases, veio diarreia.

 

Quem tem a capacidade de sentir dor nunca está sozinho. Para tirar isso a limpo é só bater a cabeça na parede para certificar-se que a morte está sempre por perto. Nascemos, e a partir daí, vivemos um romance sem chances de separação.

 

Alguns preferem a velha com uma foice na mão, outros, uma bela mulher, sim, porque a morte se disfarça tentando conseguir um casamento. O segredo é desconfiar até de um cachorro-quente. A sinistra avisa que está disfarçada de salgadinhos quando, em vez da pista de dança, corremos para o sanitário durante uma festa.


Mas não adianta brigas, revoltas ou aborrecimentos. O importante é manter o diálogo. Quem me flagrava conversando sozinho nem sabia, inclusive eu, que era ela a minha interlocutora. Ela ficava fazendo planos para que eu fosse desportista radical. Queria se ver livre de mim, e o quanto antes isso acontecesse, ficaria sem o trabalhão de me seguir.


Agora, cada vez que minhas pernas doem pergunto-lhe o que está fazendo de cócoras mordendo meu joelho. Logo cedo começa a esmurrar meu estômago me forçando a comer. Sei que o único jeito de bloquear suas mensagens é casando-me com ela, mas, por enquanto, nada de compromisso sério.            



Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 21/06/2021 – 09:25



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