O TÍTULO ESTÁ LÁ EMBAIXO
O medo de
escrever não é saber se alguém irá odiar nossa produção literária. O desagradável
é escutar a folha em branco desafiando-me. Ela fica totalmente pálida com um
sorriso sarcástico dizendo: lá vem você me sujar com suas ideias ocas. Você
está perdendo seu tempo e tomando o meu. Eu poderia estar sendo usada em uma
tese de doutorado, mas não, estou servindo para fazer seus gostos. Essa forma
da folha criticar-me deixa-me com raiva. Eu não fico calado. Entro na briga e
digo: pior e seu primo papel higiênico. Nunca é sujo com ideias. Você pode
acabar lá como ele. Essa discussão vai noite adentro. Somente quando concluo
algo proveitoso ela vem me bajular. Ficou bom! Quer escrever mais? Pode ficar à
vontade! Estou ao seu inteiro dispor. Todos os dias sofro essas agressões. Não
sei se vou aguentar por muito tempo. Preciso ler bastante antes de sentar-me
para brigar com a folha. Ela quer saber qual é o tema. Fico em silêncio. Ela
pensa que estou sendo estrategista, mas sinceramente, nem eu mesmo sei. Vou
sorrateiramente colocando uma palavra atrás da outra. Apago uma vírgula,
acrescento um pronome e assim caminho nesse deserto cheio de armadilhas e
caminhos tortuosos. Vou plantando cada grão de palavra na ideia central. Quem
sabe colho um bom texto. Algumas palavras são ervas daninhas. Arranco-as,
muitas vezes até depois de publicadas. Conto as linhas. Vem a dúvida: será se
está longo!? Os leitores precisam voltar para as redes sociais. Estão esperando
receber um ok. Do outro lado do celular alguém está já querendo bloqueá-lo(a)
só porque está demorando na resposta. E tenho que ter cuidado para não falar em
religião, política ou futebol. Tento agradar a todos(as), inclusive, colocando
entre parênteses ( ) as terminações referindo-se a leitores e leitoras senão
serei taxado de machista. A folha veio me dizer que preciso usar o travessão
para indicar a fala dos personagens. Argumento que fui influenciado por José
Saramago, por isso aguente! Além da folha, fico sendo importunado pelo título
que quer saber como será ele no início desse escrito. Eu para mostrar quem
manda aqui resolvi colocá-lo no final. Ele discutiu fervorosamente contra esse
meu posicionamento. Chamou-me de anarquista literário. Está decidido e pronto!
Vai ser no final do texto que vou colocar o título. Você que leu até aqui,
saiba agora que o título desta crônica é: o título está lá em cima
Autor: Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 02/12/2020
Heraldo Lins é arte-educador
Zap:
84-99973-4114
Email: showdemamulengos@gmail.com
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