sábado, 21 de novembro de 2020

SIMPLES E PROFUNDO - Heraldo Lins

 


SIMPLES E PROFUNDO


Obrigaram-me a falar dele. Fiquei apreensivo. Vou falar o quê? Não sei... te vira. FALE DO PINGO!  Quis argumentar que o pingo existe e pronto. Não precisa muito para explicar o pingo. O pingo é totalmente diferente da teoria da relatividade. O pingo é... simplesmente... como o próprio nome diz, um pingo. Uma escopeta foi colocada na minha cabeça. Ou fala muito do pingo, ou morre. Não fiquei intimidado. Até porque eu já estava até com vontade mesmo de falar dele. Não é por pressão que começo a falar do pingo. É por simpatia mesmo. Bom... o suporte é muito importante. Um pingo preto precisa de um suporte claro para ser notado. O pingo também serve para dar personalidade ao “ i ”. Se não tiver o pingo no “i” pensamos que é o número 1 (um) ou a letra l (ele).  Existem vários tipos de pingos. O de sangue deixado em um local de crime já desvendou vários assassinatos. O de água junto com outros da sua natureza, formam o mar. O pingo está em todo lugar. Nosso planeta é um pingo dentro do sistema solar. O sistema solar é outro pingo dentro do universo. Às vezes o rolamento não funciona por falta de um pingo... de óleo. Fulano não tem um pingo de vergonha. Sicrano não tem um pingo de juízo... e ainda completam: já imaginou o cara fazer uma crônica falando do pingo? Esse é doido mesmo. Por isso não queria fazer... mas os argumentos da escopeta foram convincentes. Escopeta muda muitas ideias. Pois bem! Eu particularmente nunca vi uma chuva despejando correntes d’água. Sempre vejo chuva de pingos. Às vezes o pingo leva o nome de ponto. Isso que coloquei depois do nome ponto é um pingo travestido de ponto. Para o pingo se transformar em ponto tem que passar por uma cirurgia. Arrancam o pinto do pingo e pronto. Está feito o ponto. O pingo é individualista. Sempre vem sozinho. Quando ele vem acompanhado deixa de ser pingo. Se há vários pingos de leite juntos, é apenas leite. Se sozinho, precisamos de mais tecnologia para nomeá-lo: é um pingo de leite. Ele não se mistura. Pingo é pingo. Estamos conversados. Se alguém disser: tem um pingo aqui. Logo perguntamos: pingo de quê? O pingo é arrogante por natureza... “se acha”. Mas por outro lado, não é muito usual colocar um pingo no final da redação. Coloca-se um ponto final. Até porque um pingo nunca termina nada. Ele aparece e começa tudo. Se pingar tempero na blusa, começa a correria para limpar. Se pingar esperma dentro, correria pra tomar a pílula do dia seguinte.  Menino, você vai tomar banho e pingo final. O certo é: e ponto final. O ponto e o pingo são inimigos. Onde um entra o outro sai. Existe pingo de tudo. Até de gente. Quando a criança não cresce é um pingo de gente. O cachorro pequeno é um pingo de cachorro. O que está dentro da escopeta são pingos de chumbo. Se eu falar em ponto vou tomar tiro e receber pontos. Estes já são outros tipos de pontos que ninguém quer amizade. Aqui eu finalizo, e por conveniência Pingo final   

 

Autor: Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 20/11/2020


Heraldo Lins é arte-educador 

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