Ao
sineiro da mensagem lutuosa:
“Os sinos dobram por Ribeiro”
Caríssimo Doutor Professor
José da Luz, certamente o precoce falecimento do Professor Ribeiro (22/07/1940*-14/08/1984†)
pode ser considerado como um dos momentos de maior comoção na história de Santa
Cruz.
Na qualidade de um
familiar próximo, sendo ele primo carnal da minha mãe, te agradeço
profundamente não apenas por me permitir fazer a releitura da sua homenagem póstuma
ao Professor Ribeiro, mas principalmente pela oportunidade de também te dizer o
quanto as junções das famílias Dias, Ribeiro e Damasceno foram acalentadas naquele
dia por esta sua preciosidade literária.
O último conselho que
recebi de Ribeiro foi durante uma visita, quando ele esteve internado no
Hospital Ana Bezerra. Estava com a minha
mãe, Lindomar Ribeiro Dias. Minha idade era 16 anos e meses. Visivelmente com
dores, quase sussurrando, por alguns minutos ele apertou bem forte a minha mão,
falou várias coisas, mas uma me marcou naquele instante: —
Roberto, estude para você passar no vestibular e futuramente poder também
ajudar a sua mãe, ela batalhou muito por vocês!
Veio o falecimento, o
vazio do luto, passaram poucos meses, veio o vestibular de dezembro de 1984.
Minha mãe sempre nos ensinava a rezar em todas as provas para pedirmos que “o Espírito Santo iluminasse nossa
inteligência”. Ela também passou a dizer por várias vezes que eu também “pedisse
para Ribeiro interceder por mim”, ao
realizar o vestibular. Confesso que só pedi ao Espírito Santo, mas não havia
como não me lembrar dos conselhos e lições de Ribeiro naqueles dias,
principalmente na Redação e na Língua Portuguesa. Deu tudo certo. Pedagogia foi
meu primeiro curso e marco na minha trajetória acadêmica. Obrigado, Ribeiro,
por tudo o que você fez por sua família. Foram muitos os que contaram o quanto
você foi um bom filho, um bom irmão, um bom tio, boa amizade, referência para
todos por sua inteligência e por amor aos estudos.
Ao meu pensar e sentir
espiritual, depois de tudo o que foi dado como honras e preitos de
solidariedade pelos santa-cruzenses, representantes da chamada classe política
do Trairi, de outras regiões do estado e da própria capital, autoridades e
representantes religiosos, caso pudesse e de forma surreal diria Ribeiro a
você: — Zé da Luz, Zezinho, após tudo o
que ouvi em minhas exéquias, só tenho mais que agradecer a Deus por ter me dado
muitos amigos e tantas realizações. Eu, que vim de origem familiar humilde,
pude ultrapassar inúmeros obstáculos até chegar aqui. Dê-me a sua homenagem,
guarda-a no bolso do meu paletó, pois
é ela a que quero para levar nessa
viagem. Tenho dito!
Obrigado, Doutor,
Mestre e Professor José da Luz, pelos sinos que dobraram por Ribeiro através do
deslizar da sua caneta no papel. Não deve ter sido fácil para você expressar
tantos sentimentos. O sonido marca a saudade ao nosso coração, contudo parece ainda
soar aos nossos ouvidos para nos fazer relembrar do valor de um bom professor e
seu legado, ora representado por Ribeiro.
Obrigado, Ribeiro,
gerações te agradecem!
Obrigado, Ribeiro! Abençoada
seja essa herança genética que me fez amar os estudos.
Em, 24 de julho de 2020.
Roberto Flávio Dias Câmara
Achei muito bonita o registro da história da vida de Ribeiro, escrita por José Luz -- Santa Cruz, 1984.
ResponderExcluirMostra que Ribeiro era um homem simples, e foi dessa simplicidade que emergiu todo o seu talento.
Tinha o caráter humano. Ele construiu o seu caminho na sua cidade. Sua vida é um exemplo de inspiração.
Professor da Escola Estadual e atuante nas atividades culturais, normais do município, conquistou o carinho e o respeito da população.
De repente, o futuro, que é oculto, chegou! A vida desaparece! Desígnios de Deus. Cobriu com a manta da tristeza a cidade de Santa Cruz.
Como disse José Luz: "de repente o tempo galopou e tua ausência gerou saudades".
"Os sinos dobram por Ribeiro"
Roberto Flávio Câmara, seu artigo tem fatos interessantes.
Recebeu, aos 16 anos, um conselho de Ribeiro, já doente no hospital: "Roberto, estude para passar no vestibular....."
É o maior conselho que podemos receber na vida.
O estudo é um caminho sem erro. É um diferencial na nossa vida. Nada mais transformador do que o estudo. Meu pai sempre me perguntava: estudou? Essa preocupação passei para meus filhos.
Outro fato muito bonito: a mãe pedindo que o Espírito Santo iluminasse a inteligência do filho para vencer na caminhada da vida.
A mãe é o maior dom de Deus. Está sempre ao lado do filho em todos os momentos.
Sua família, Roberto, foi uma força na sua formação profissional.
Realmente, foi uma herança genética que o levou a amar os estudos. Abs. Chicão
Desde a juventude ouvia falar em Ribeiro. Ainda não o conhecia pessoalmente, por isso as narrativas sobre o prof. Ribeiro sempre me motivavam a imaginá-lo como um vulto famoso da História.
ResponderExcluirDepois de conhecê-lo de vista, na praça, na quadra de esporte, na igreja, nos palanques cívico e político, e ouvindo sua voz na Difusora municipal, de repente, em 1978, no Colégio Técnico da CENEC, vejo-me numa turma, cujo professor de Português/Redação era nada mais nada menos do que o ilustre cidadão Francisco de Assis Dias Ribeiro.
Pude constatar pessoalmente todo o valor intelectual que as pessoas lhe atribuíam. Sábio e sério, irônico e ético, alegre e amigo. Tudo numa mesma face. Sem recalques. Foram três anos como aluno de Ribeiro. Aprendi muito. Principalmente, adquiri o gosto pela aventura de escrever... Eu já gostava muito da leitura. Ele me disse que “Valia mais escrever vinte linhas mal traçadas do que nenhuma”.
Veio o primeiro vestibular da UFRN no Campus de Santa Cruz. Fui candidato ao curso de Letras, concorrendo a uma vaga com Dinamérico Medeiros (meu professor de OSPB}, com Ivahy Ferreira (professor de Geografia), Maria Soares, Fátima Costa, Dudé, entre outro(a)s futuros colegas. Mas quem estava na disputa por uma vaga certa era o .prof. Ribeiro! Veio o resultado: Ribeiro aprovadíssimo! E todos os outros aqui citados também. E, por Deus, lá estava eu no meio dessa turma, mais madura e mais sábia. Foi urna glória! Estava eu sentado lado a lado com meu renomado professor de Redação no 2° grau. Foram anos maravilhosos! É impossível descrever aqui todos os acontecimentos inesquecíveis da vida acadêmica durante aqueles quatro anos de convivência.
A morte de Ribeiro foi um golpe terrível para todos de Santa Cruz e região Trairi, especialmente para nós, colegas concluintes de curso.
No dia da morte dele, quando soube da triste notícia, eu estava em casa. Coloquei um papel numa maquininha Remington e de uma tacada só redigi a crônica OS SINOS DOBRAM POR RIBEIRO. Dinamérico fez o grande favor para mim, (fiquei muito emocionado) lendo-a no sepultamento de Ribeiro, que culminou com a inauguração do cemitério novo. Uma multidão reverenciava o seu ilustre conterrâneo. Muitas autoridades presentes.
Nestes dias de lembranças, quando Ribeiro completaria 80 anos, fui buscar no meu baú de alfarrábios essa crônica de memória. Lá também encontrei mais uma crônica, UM DIPLOMA PARA RIBEIRO, que redigi e li na aula da saudade em janeiro de 1985, quando uma cadeira com uma flor representava a presença indispensável de Ribeiro. Agora, após a publicação da primeira crônica neste importante Blog (APOESC), disponibilizo também essa segunda crônica, para demonstrar com carinho e respeito a minha admiração pelo nobre e colega e amigo RIBEIRO.
Com estas palavras quero agradecer imensamente a Gilberto dos Santos, que gentilmente aceita e publica meus textos neste Blog, e ao Roberto Flávio, pela gentileza de registrar seu emocionado comentário (missiva) sobre a primeira Crônica e pela amizade de sempre, um desejo que eu estendo a toda a sua família. E, a tempo, aproveito a oportunidade para agradecer a todos que se manifestaram, solidarizando-se comigo e, principalmente, com a memória viva de Ribeiro, após a publicação da crônica. Cito, entre eles, Joseni Santos, Francisco Seráphico, Francisco Medeiros, e a direção e funcionários da Escola Estadual (prof. Ribeiro), onde fiz todo o meu ginasial, voltando lá para ser professor durante a década de 80.
Fica aqui este registro, simples mas sincero, corno testemunho da minha amizade por todos vocês.
José da Luz Costa