AMOR NO TEMPO DO CHUMBO (Nando Poeta)
Num mundo em que os jovens
Acreditam nos seus sonhos
E para realizá-los
Almejam caminhos risonhos
Buscando a todo momento
Driblar os tempos medonhos.
Lutam, amam ao mesmo tempo
Sem abrir mão de um segundo
De viverem suas vidas
Na construção de um mundo
De igualdade e ternura
Na busca dum bem fecundo.
Numa época em que o Brasil
Naufragou na ditadura
Muitas lutas e paixões
Unidas numa mistura
Um amor no meio de chumbo
Alcançou plena ternura.
A moça embalando sonhos
Querendo realizá-los.
Acreditou que na vida
Se vive enfrentando abalos.
Mas sem nunca desistir
Persistiu, foi encontrá-los.
De Macau partiu
sonhando
Foi morar noutro
lugar
Com sua tia em Natal
Desfrutando a beira
mar.
Na praia de Areia
Preta
Abraçou seu novo
lar.
Encantou-se com a beleza
Daquele mar
natalino.
Naquele céu
estrelado
O seu olhar
cristalino.
E contemplou a
coragem
De mudar o seu
destino.
Quando o dia
amanhecia
O sol banhava o seu
rosto
Da janela do seu
quarto
Com quem batia
disposto
Junto aos carinhos
da tia
Acordava com mais
gosto.
Tomava café com
leite,
Cuscuz, com ovo
passado.
Tapioca e coalhada
O queijo de coalho
assado
Na mesa o amor
servido
Gentilmente
partilhado.
No caminho da escola
Colhia frutas e
flores
As belas rosas
levavam
Aos seus mestres,
professores
Cheiro de jasmim no
ar
Distribuindo
sabores.
Para estudar
escolheu
O colégio ATHENEU.
O seu ciclo de
amizade
Naquela escola
cresceu
A semente do amor
No seu mundo
floresceu.
Nessa turma de
calouros
Foram logo se
entrosando
No estudo do seu
curso
Dia e noite
mergulhando
Na matéria de amar
Seu conteúdo
abraçando.
Com o tempo se
passando
Brotou o
conhecimento.
As amizades floriram
No mais puro
firmamento.
Com a turma bem
atenta
Fez bom
relacionamento.
Aquela grande
amizade
Baseada no respeito.
Foi crescendo com o
tempo
O cordão de amor no
peito.
Com muita
sinceridade
Sem existir
preconceito.
Soledade e Flavinho
José, Edu, Mariana
Antonio, Bia e
Paulo,
Somavam na caravana
Numa pureza
crescente
A
cada dia e semana.
Nos sábados e aos
domingos
Ao som de um violão.
Dedilhando a beleza
Entoada na canção.
Encantando todo
mundo,
A mente e o coração.
No Porto do Potengi
Lá no bairro da
Ribeira.
A lancha deu a
partida
Na água morna e
maneira.
Indo parar na
Redinha
Naquela linda
praieira.
Numa palhoça na
praia
Abrigo do pescador.
Aconchegaram-se
todos
Na fervura do calor.
Mergulharam no mar
verde
Como um peixe
voador.
Era a festa do caju
E da santa
padroeira.
Um som frenético no
parque
Animando a
brincadeira.
Natal toda
desembarca
Nessa praia
hospitaleira.
O dia passou tão
rápido
A noite veio à
seresta.
Na beira mar o
namoro
Fazia no peito a
festa
Na madrugada, o
sereno
Tão forte batia a
testa.
O raio do sol
cedinho
Foi refletindo na
praia.
E até Genipabu
Caminhou-se na
gandaia
Cada parada no mar
O nado era de
arraia.
Toda turma
acompanhava
A alegre brincadeira
Subiu dunas e
desciam
Bolando numa ladeira
E durante o dia
inteiro
Ninguém sentia
canseira.
A Soledade foi tendo
Uma queda por
Flavinho.
E no caminho da
lagoa
Trocaram um doce
selinho
Que alimentou o
desejo
Daquele imenso
carinho.
Ele muito enamorado
Parou num pé de caju
Começou chupar o
fruto
Ouvindo um pio de
nambu
Mordeu e tomou um
gole
Da cachaça de Pitu.
Levou o caju a boca
O mordeu suavemente.
Sugando todo o seu
sumo
Subiu um calor
ardente.
Os dois ficaram
sorrindo
Um beijo bom de
repente.
Debaixo daquele pé
Deleitam naquelas dunas
Os dois ali se abraçam
Carícias são as fortunas
E os carinhos trocados
No recital das craúnas.
No domingo a tardezinha
Regressavam as suas casas
Nessa volta o belo rio
O pôr-do-sol cria asas
Vestindo as paixões latentes
Com o fogo em meio a brasas.
Com o seu jovem amor
À noite a deliciar
O tempo passou voando
Fez o sonho evaporar
E ficando no pensamento
A vontade de voltar.
Sentou na sua mesinha
Pegou lápis e papel
Escreveu à sua mãe
Falando do doce mel
Da boca daquele moço
Chamado Flávio Miguel.
A Soledade escreveu:
— Manhinha nesse momento
Dentro de mim sinto forte
Um formoso sentimento
Nos braços desse rapaz
Tenho grande acalento.
Mãe lembra, quando
pequena?
Você falou de amor.
Explicou que essa
riqueza
Trazia um forte sabor.
E quando chegasse o dia
Eu saberia dá valor.
Hoje entendo o que
falava
Pois estou sentindo
agora
Uma paixão fulminante
Disparou bem nessa hora
Encontrei o meu amor
Como dizia a senhora.
Pra viver junto com ele
Sei que ainda é muito
cedo.
Somos dois jovens
amantes
Da paixão não temos
medo.
Revelo a ti minha mãe
Esse meu nobre segredo.
Parto agora à escola
Com o coração
palpitando
E no caminho do colégio
É nele que vou
pensando.
Sem sentir nenhum
cansaço
Só sei que estou
amando.
Saudade de meus irmãos
Eu sinto tremendamente
De papai e da senhora
Que nunca me saem da
mente
Das amigas lá da rua
De toda essa nossa
gente.
Apesar dessa distância
Tenho andado tão feliz.
Aqui fiz belos amigos
Que minha amizade quis.
Conheci muitas pessoas,
Mas não perdi a raiz.
Mando um beijo aos meus
avós
E a vó doce, Pretinha.
Diga que eu tenho
saudades
Pois ela é minha
rainha.
Lembro sempre das
histórias
Contadas lá na
pracinha.
A carta foi concluída,
Levada para o correio.
Só pensando livremente
Sem ter na vida aperreio.
Gamada no novo bem
Que fez soltar o seu freio.
Saindo feito um foguete
De casa muito atrasada.
Parou, colocou a carta
Devidamente assinada.
Chegou no portão da escola
Encontrou a força amada.
Olhando um para o outro
A força de uma paixão:
— Bom dia meu bem querer
Foi logo lhe dando a mão
Ela carinhosamente
Beijou-lhe com emoção.
Acertaram que no
pátio
No horário do
recreio
Marcariam um
encontro
Para saírem em
passeio
Mas houve um
desencontro
E o Flavinho não
veio.
Ele pediu ao amigo
Um precioso favor
Para levar um recado
À sua mais bela flor
Um bilhete foi
entregue
Acalmando o seu
amor.
Nas poucas linhas
descreve
O porquê da sua
ausência.
Um pedido de
desculpa
Escreveu com
reverência.
Por ter tido um
contratempo
Num assunto de
urgência.
A Sol ficou muito
triste
Lendo o comunicado.
Porém marcou novo
encontro
Para um momento
agendado
E na Praça Pedro
Velho
Foi o cenário
adequado.
No dia do novo
encontro
Flávio não vem a
escola
A Sol quase que
aflita
Pensou em não dá
mais bola
Pois no seu juízo
vinha
Que a paixão se
descola.
Mas a dúvida na
cabeça
Soledade sem saber
Se estava confirmado
Se o encontro iria
ter
Mas pensou: — Eu vou
cumprir
Ele deve aparecer.
Quando a aula
terminou
Seu coração
palpitando
Soledade se apressou
Pelos amigos
passando
Correu logo para a
praça
No seu amor foi
pensando.
Enquanto o tempo
voava
A Soledade ansiosa
No banco bem à vontade
Aguardava-o para a
prosa
Mas seu amor atrasou
Deixando a pobre
nervosa.
Num instante ela
percebe
Sua turma de amigos
A frente de uma
marcha
Falando de inimigos
Que golpearam o
poder
Chegando com seus
perigos.
Atenta ficou ouvindo
Sem quase nada
entender.
Sobre o Golpe
Militar
Que se instalou no
poder.
Sua curiosidade
Lhe
daria esse saber.
Contou que dias
atrás
Lá na Central do
Brasil.
O Presidente Goulart
Fez um discurso
viril.
No Rio prometeu
reformas
Deixando o milico hostil.
Ana informou que no
rádio
Estavam anunciando
Que as tropas do
Exército
Ao Rio estavam
marchando
De São Paulo e das
Minas
Estariam já
chegando.
Vão querer destituir
Esse presidente
eleito
Para instaurar no
país
Um regime em que o
respeito
Aos direitos
democráticos
Perderiam todo
efeito.
Edu fez o seu
chamado:
— Todos estão
convocados:
Faremos aqui a
marcha
Contra os
golpistas irados
Abaixo essa
ditadura
Pra não sermos
torturados.
Na praça chegaram
todos
Os alunos do ATHENEU
Com faixas, gritos
de guerra
Parecia um coliseu
Dispostos a
enfrentarem
Sem achar que já
perdeu.
O Paulo gritou do banco:
— Abaixo essa
ditadura.
Fora a corja de milicos
Querem impor a vil censura,
Instalando no país
Um regime de tortura.
Soledade vê amigos
Nessa batalha de rua
Cada um erguendo os punhos
Falando da falcatrua
Daqueles homens fardados
Que com golpe tumultua.
Ela é pega de surpresa
Quando vê Flávio Miguel.
Discursando na plateia
Contra esse golpe cruel.
Gritando que os militares
Retornassem a seu quartel.
Ele narra vigoroso
O seu posicionamento
Do que estava acontecendo
Naquele exato momento
E de um banco da praça
Expôs o seu argumento:
— Meus queridos camaradas
Queremos democracia
Junto a classe operária
Que trabalha todo dia
Não queremos esse golpe
Perverso de tirania.
Meus amigos
companheiros
Nesse primeiro de
abril
O Exército
Brasileiro,
Cavalaria e fuzil
Quer impor uma
derrota
Escravizando o
Brasil.
Ao seu redor se
ajuntava
Uma massa de
estudantes
Aplaudiam e gritavam
— Vamos todos
militantes.
Derrubar os
militares
Essa corja de
farsantes.
Cada discurso
inflamado
Aquecia toda a luta.
Uma revolta se
impera
De maneira absoluta.
Contra o Golpe
Militar
Que usou da força
bruta.
Durante várias
semanas
Nas ruas desse país.
Foram travadas
batalhas
Buscando lá na raiz
Derrubar a ditadura
Constrangedora,
infeliz.
No rádio se
anunciavam
Todo o
acontecimento.
Da queda do João
Goulart
Trazendo um grande
tormento.
Porque o Exército
usava
A bala como
argumento.
13
Soledade perguntou:
— O que estava
acontecendo
Você não tem
nenhum medo
Desse tempo tão
horrendo?
Precisamos
conversar
Sobre o que estou
percebendo.
Miguel diz: —
Quando acabar
Essa manifestação.
Eu com toda
paciência
Faço a minha
explicação.
Você ficará por
dentro
De toda essa
confusão.
A marcha seguiu em
frente
Na Avenida Deodoro.
Centenas de
estudantes
Dava seu grito
sonoro
Destruiu-se a
liberdade
Na força de um
meteoro.
O comando militar
Pelo jornais da
cidade,
Ameaçou usar a força
Com toda
brutalidade.
Contra a quem
resistisse
A ordem da
autoridade.
Naquela manhã de
abril
Foram as ruas de
Natal
Ocupadas brutalmente
Pela tropa Federal
Levando a “caça as
bruxas”
Usando
a força total.
Saíram de casa em casa
No maior clima de horror.
Prendeu líderes sindicais
Os trataram com terror
Cruelmente agredidos
Na mão de torturador.
Toda manifestação
Chegou ao fim da manhã
Muitos voltaram as casas
Mas sentindo aquele afã
De poder ter posto um fim
A ditadura vilã.
Para a tarde, o movimento
Convoca uma reunião
Marcou-se as dezesseis horas
A pauta é a reação.
Sendo o ATHENEU o ponto
Da nova aglomeração.
Flávio disse a Soledade:
— Vá pra casa meu amor
Estarás bem mais segura
Por mim faça esse favor.
Hoje à noite eu te procuro,
Oh! minha querida flor.
— Flavinho não aceito isso
A luta também é minha
Eu quero ficar por dentro
Não sou de fugir da linha
Posso ir a reunião?
Ou me achas tão burrinha!
— Sol assim
não pode ser
Somos um grupo fechado
E com o Golpe Militar
Ficou agora arriscado
As reuniões são secretas
Por isso, todo cuidado.
Sol revelou que a marcha:
— Havia aberto a cabeça
A mente agora me empurra
A tudo que se mereça
Minha consciência aberta
Fará que eu não esqueça.
Aquele momento marca
Para sempre a minha vida.
Eu decidi me somar
E não ficar dividida
Ao lado do povo pobre
Que tem a vida sofrida.
— Minha querida eu sou
Da batalha um militante.
Quero transformar o mundo
Por isso sigo adiante.
Sou integrante do MAR
Um grupo de caminhante.
Sou parte do Movimento
De Ação Revolucionária
Atuamos nas escolas
Falando em luta operária
Também batalha no campo
Querendo Reforma Agrária.
— Meu dedicado
Flavinho
Quero estar ao
seu lado.
Achei essa luta
justa
Tudo é do meu
agrado.
Sou filha de
camponês
Sei onde corta o
machado.
Os dois juntos
caminhando
Param num caldo de
cana.
Pediram caldo e pão
doce
Matando a fome que
esgana
Soledade ouvindo
tudo
Sem bater nem a
pestana.
De volta ficam na
praça
Conversando num
banquinho.
Falaram de amor, de
luta
Trocaram um doce
carinho.
Chegou a hora
marcada
Saíram devagarzinho.
Daí eles foram
juntos
Assistir a reunião.
Quando vão se
aproximando
Todos olham com
atenção.
Pela presença de Sol
Pedem uma
explicação.
Flávio na fala
explica
O motivo da
presença.
É que a jovem
Soledade
Com toda sua
sabença,
Espera que o grupo
aceite
Sem
nenhuma diferença.
17
Foi aceita a adesão
Dessa nova companheira.
Agora ingressou ao
MAR
Sendo parte da
fileira.
A mais jovem
combatente
A frente dessa
trincheira.
Uma voz se levantou
Trazendo, o
questionamento.
Da nova incorporação
Sem ter um
engajamento.
A maioria discorda
Do jovem e seu
argumento.
Os militantes
presentes
Aprovaram a sua
entrada.
Começa a reunião
Da necessária
jornada
De resistência ao
golpe
Para a sua
derrubada.
Os planos são
aprovados
Pra pôr fim a
ditadura.
Todos saíram
imbuídos
De toda luta futura.
O golpe que se
inicia
No regime de
tortura.
Os estudantes nas
ruas
Aumentaram a
resistência.
No combate as
prisões
Lutou com
intransigência
Exigindo o fim do
golpe
Chamou
desobediência.
18
No ano de meia cinco
O Flávio e a
Soledade.
Fizeram vestibular
Foi grande a
felicidade.
No curso de Medicina
Passaram na
faculdade.
Na UFRN
Foram fazer
militância
O MAR foi ganhando
força
Tendo a maior
substância
A atuação de Sol
Foi de grande
relevância.
Construíram o CA
No Curso de
Medicina.
Soledade e Flávio
eleitos
Nesse tempo de
botina,
Onde a ação dos
milicos
Era feito de rapina.
A força da baioneta
Não deixou ninguém
em paz.
Pois caçavam a
militância
Com seu ódio mais
voraz.
Os tanques saindo às
ruas
Na violência tenaz.
Dentro da
universidade
A luta era muito
intensa.
Por democracia
urgente
Moradora na dispensa
Dos porões da
ditadura
De
onde arrotava ofensa.
A perseguição aumenta
Aos integrantes do MAR
Diante das ameaças
Procuraram outro lugar.
Deixando a terra natal
Foi noutro mar navegar.
Quando a Sol ficou sabendo
Da proposta de partir.
Resolveu comunicar
Aos seus pais que vão sentir.
Com a partida da filha
Fez dor no peito fluir.
Sentou-se à mesa e escreveu:
— Minha família querida.
Irei para uma viagem
Estou hoje de partida.
Não sei ainda o destino
Onde farei minha guarida.
Ao lado do meu amor
Sonho pela igualdade.
Talvez vocês não entendam
A nossa finalidade
De lutar pela justiça
Na nossa sociedade.
Assim que tiver notícias
Aviso do paradeiro.
Qual o local da morada
Minha e do meu companheiro.
Com a saudade tamanha
Vou deixando um grande cheiro.
20
Pediu para uma amiga
Ser a sua portadora.
Uma colega de curso
De Macau foi
moradora.
Prontificou-se em
levar
Sua carta a
genitora.
Num sábado chega a
Macau
Corre e não se
atrasa:
— Dona Flor, seu
Chico Antonio
Tem alguém aqui na
casa
Sou Zule, trago
notícias
Quentinhas feito uma
brasa.
Seu Chico abriu a
porta
E mandou a moça
entrar.
Sorrindo falou pra
Zule
No banco pode
sentar.
Vou atrás de minha
esposa
Que no quintal deve
estar.
Dona Flor chegou
alegre
Com o rosto de
paisagem.
Ansiosa pega a carta
Seus olhos fez a
viagem
Em voz alta lê
todinha
E o pai mudou de
imagem.
Uma tristeza abateu
Foi choro nesse
momento.
Zule mais reflexiva
Vendo aquele
sofrimento.
Despede-se e leva ao
peito
Uma
carga de lamento.
21
A Sol e Flavinho
constroem
O cenário da
partida.
Com os camaradas
fazem
A festa de
despedida.
Na beleza da Redinha
Nos encontros dessa
vida.
No outro dia cedinho
Prontos vão para a
viagem.
Quando chegam no
Recife
O ônibus vai a
garagem.
Passa horas no
concerto
Ajeitando a
engrenagem.
Era meia sete, o ano
Quando chega a
Salvador.
Cai na
clandestinidade
Fugindo do vil
terror.
O casal de
militantes
Vive seu intenso
amor.
Neste ano o Costa e
Silva
Assumiu a
presidência.
A terrível LSN
Promulgou obediência
E em nome dessa lei
Atuou com
virulência.
Agora o Flávio e a
Sol
São o Beto e a
Raquel.
E com o novo
codinome
Cumpriram um forte
papel.
Lutando por dia e
noite
Contra
as forças do quartel.
22
Mas passaram pouco
tempo
Logo foram
transferidos.
Depois de um
tiroteio
Que os deixaram
feridos
Decidiram que no Rio
Estariam mais
protegidos.
No ano de meia oito
Ainda no seu início
Em pleno Rio de
Janeiro
Passaram por
precipício
Levaram uma vida
dura
Pautada no
sacrifício.
No bairro de Olaria
No local que o
partido.
Garantiu como
refúgio
Para viverem
escondido.
A militância
política
Dava-lhe novo
sentido.
Grandes mobilizações
De milhares de
estudantes.
Nas ruas ganharam
força
Com suas ações
brilhantes.
Lutando por
liberdade
Caminharam
irradiantes.
No RU Calabouço
A repressão
violenta.
Matou um jovem
estudante
De maneira virulenta.
Edson Luís L. Souto
Foi
vítima da mão sangrenta.
As ruas foram se
enchendo
De revoltas e
batalhas.
Denúncia de
truculências
Encheram várias
mortalhas
Sangrando gente
inocente
Nas afiadas
navalhas.
Já no quarto
aniversário
Da ditadura no Rio
Abriu-se um forte
confronto
Um momento tão
sombrio
PM’s deixam feridos
Descobertos passam
frio.
O Exército ocupou
A grande Rio de
Janeiro.
E no Centro da
cidade
Foi do mal o
mensageiro
Pisoteou a liberdade
Do terror foi
escudeiro.
O movimento chamou
Uma missa em
homenagem.
Ao jovem Edson Luís
Vítima da cruel
moagem
De tirania e pavor
Na arte da
camuflagem.
Nesse ato de
protesto
A missa de sétimo
dia
Policiais a cavalos
Sobem a escadaria
Da Igreja Candelária
Semeando a tirania.
24
As prisões feitas em
massa
Um mar de
prisioneiro.
Os ataques
virulentos
Ecoou no
estrangeiro.
Mas seguiu a
ditadura
No seu ato
corriqueiro.
O Beto e Raquel
tiveram
Presente no
movimento.
Atuando passo a
passo
Na luta sendo o
rebento.
Em prol de organizar
tudo
E provocar
crescimento
Vários grupos de
esquerda
Convocaram um
congresso
Sendo
clandestinamente
Organizado o
processo.
Unificou-se as
tendências
Para impedir
retrocesso.
Deu origem a Frente
Unida
Ampla na reunião.
Selou-se o
compromisso
Buscando conexão
Na luta contra o
regime
Totalitário em
questão.
A FUA ganhou espaço
Tendo mais as
condições
De fazer
enfrentamentos
De promover as ações
Contra os tiranos de
fardas
E
as suas maldições.
25
A FUA marcou a noite
A pichação na cidade
De “Abaixo a
ditadura”
O centro da
atividade
Pintaram muros,
fachadas
Dando visibilidade.
Mas no breu da
madrugada
Surgiu uma viatura.
Querendo impor sua
ordem
Com carimbo de
censura.
Proibiu e fez
prisões
Na marca da
ditadura.
Beto e Antonio
escaparam
Ana e Raquel foram
presas.
Na mão da cruel
tortura
Elas não ficaram
ilesas
Pau de arara, choque
elétrico
Com as dores ficaram
tesas.
Pensaram que não
saíam
Com a vida da
prisão.
Depois de quase dois
dias
Soltaram, abriram
mão.
E as duas militantes
São livres da
repressão.
O que deixaram
escapar
Por parte dos
ditadores.
As duas seriam
usadas
Pra descobrir os
mentores
Do “grupo de
criminosos”
Vermelhos
agitadores.
A FUA se antecipou
Já se tinha
orientado
De quando alguém
caísse
Fosse ao local
combinado
E ficasse por algum
tempo
Do partido isolado.
Elas seguiram a
cartilha
E ficaram
escondidas.
Distantes da
militância,
Mas sempre bem
protegidas.
A FUA depois
descobre
Que estavam
recolhidas.
Nisso discutem um
plano
Melhor para
resgatá-las.
Preparam a operação,
Do canto vão
retirá-las
Do aparelho vigiado
A FUA foi
libertá-las.
O sucesso foi total
Dessa operação de
risco.
Para a repressão, as
duas
Era apenas um
petisco
Ditadores não
queriam
Se molhar em um
chuvisco.
Naquele momento o
povo
Aumentava a
resistência
E pelo Brasil afora
Um ciclo de
consciência
A juventude lutava
Em
busca de providência.
27
O Maio Francês
floriu
Na luta da
juventude.
Banhou o Brasil de
ânimo
Na força da
plenitude.
Mostrou o caminho
certo
E a generosa
virtude.
Os militares agiram
Na sexta-feira
sangrenta.
As mortes no Rio
fizeram
Jorrar um mar de
tormenta.
E pelo Brasil afora
A resistência
aumenta.
Passeata dos cem mil
Eram artistas,
estudantes.
O clero e
sindicalistas
Marcharam
irradiantes
Da luta por
liberdades
Foram forças tão
constantes.
Raquel e Beto de
frente
No cordão de abre
alas
Nas esquinas que
passavam
Pronunciam suas
falas
Denunciando o
Exército
Seus ataques, suas
balas.
No meio da multidão
Beto parou numa
esquina
Lembrou-se dos
metalúrgicos
De Osasco fez a sina
De ocupar a Cobrasma
E para toda oficina.
Lembrou outra luta
forte
Dos peões lá de
Contagem
Que em plena
ditadura
Mostrou a sua
coragem
De lutarem contra o
arrocho
E o regime da
moagem.
Os presentes vibram
muito
Com a luta operária
Raquel de punho
erguido
Gritou: — A luta
é diária
Queremos salário
e terra
Para a reforma
agrária.
Ficou conhecida em
junho
Por sexta-feira
sangrenta.
Dezenas de jovens
mortos
Pela ação truculenta
De militares cruéis
De prática tão
violenta.
Em São Paulo os
operários
Atiram pedra em
Sodré.
O governante
atingido
Em plena Praça da
Sé.
Saiu com toda
urgência
Pois lá não dava
mais pé.
A luta em todo país
Continuou muito
quente.
Na UNB de Brasília
Prenderam o
presidente
Da UNE, uma entidade
Lutando
incansavelmente.
A FUA foi a São
Paulo
Com o Beto e a
Raquel.
Para discutir com um
grupo
Sua entrada no
plantel
Somando-se as
fileiras
Na militância fiel.
Com o ingresso do
grupo
Para a organização.
Terminou Beto e
Raquel
Em São Paulo e
região
Construindo o
partido
Visando a revolução.
Escolheram pra morar
Marquês de Paranaguá
Cruzando com a Rua
Augusta
Seu endereço era lá
Um apartamento
seguro
Onde a luta vingará.
Os dois na batalha
intensa,
Não param nenhum
segundo.
A FUA fez seu jornal
Querendo mudar o
mundo.
Abordando cada
assunto
Com o olhar bem
profundo.
Tiveram no desafio
De travarem a
batalha
Na rua Maria Antonia
Contra a corja de
canalha
Do grupo vil da
Mackenzie
Que cortou feito
navalha.
Foi no Centro de São
Paulo
Na USP, Filosofia.
Seus alunos atacados
Num ato de covardia
E a PM intervindo
Com a força da
tirania.
José Guimarães é
morto
Pelo tiro do chacal
Era um secundarista
Que a vida chega ao
final.
Assassinado na rua
Da São Paulo
capital.
Aumentou-se a
repressão
Aos grupos de
estudantes.
Eles muito
bravamente
Enfrentam os
comandantes
Por esmagar os
direitos
De todos os
caminhantes.
A UNE realizou
Seu congresso em
Ibiúna
Em um sítio mais
seguro
Supria toda lacuna.
Para combater o mal
Que ao bem não
coaduna.
Com o seu grito de
guerra
Gente A UNE somos
nós
Completando ainda
a frase
Nossa força e
nossa voz
O estudante
aguerrido
Luta contra o seu
algoz.
A força da repressão
Prendeu todo o
congresso.
Foram oitocentos
jovens
Deixando o seu nome
impresso.
Nos arquivos
militares
Gerando um
retrocesso.
Raquel e Beto
detidos
Com os demais
estudantes.
Foram à delegacia
Sofrerem os mais
humilhantes.
Insultos, empurrões,
socos
Presos como
meliantes.
Em seguida liberados
Procuraram proteção.
Alugam um quarto na
Lapa
A luta não era em
vão.
A vida de militância
De fazer revolução.
Na época os jovens
vibravam
Em seus festivais de
artes.
Suas canções de
protestos
Eram grandes
baluartes.
Foram logo
censuradas
No Brasil em várias
partes.
Os artistas
perseguidos
Com as canções
censuradas.
São expulsos do país
As honras tão
humilhadas.
Por seus cantos de
protestos
As vidas são
castigadas.
O governo em meia
oito
Já no finalzinho do
ano.
Decretou o AI-5
Em seu ato desumano.
Cassações, fecham o
Congresso
Com sua ação de
tirano.
Suspendeu o Habeas
Corpus
Reprimiu com
violência,
Extinguiu muitos
direitos
Sem ter nenhuma
clemência,
Intensificou os
ataques
Com a mão da
virulência.
Cria asas e endurece
Golpeando o
movimento.
Desmantelando a
esquerda
Aumentando o
sofrimento
Da militância
aguerrida
Que mergulhou no
tormento.
As prisões
abarrotadas
Viram locais de
torturas.
Gente desaparecendo
Nesse mar de
amarguras.
Fecham a boca de
quem grita
E se abrem
sepulturas.
Os grupos de
resistência
Abriram o amplo
debate.
Alguns apontam a
guerrilha
Como forma de
combate.
Contra essa posição
Outra corrente
rebate.
33
A luta política abre
Uma cruel ruptura
O amor de Beto e
Raquel
Cai no tanque de
amargura
Pois o caminho
bifurcou
Por causa da
ditadura.
Eles acharam melhor
Cada um buscar seu
lado.
Beto e Raquel
divergiram
No destino separado.
Entre um amor se deu
trégua
Forçados pelo
Estado.
Beto e Raquel se
dividem
Ele assumiu a
guerrilha.
Admirando Fidel
Vai fazer curso na
Ilha.
Com outros jovens
treinados
Para a luta armada
trilha.
Entrou em um grupo
armado
Passou a fazer
ações.
Fazendo assaltos em
bancos
Expropriou munições
Sequestrou pra
libertar
Muitos jovens das
prisões.
Foi preso e
torturado
Fora de circulação
Beto sofreu as
pancadas
Alojado na prisão
Sem saber seu
paradeiro
Ninguém
avistou mais não.
No ABCD paulista
Raquel arranjou
trabalho.
Numa grande
montadora
Encontrou seu
agasalho.
Na metalúrgica
firmou-se
Não tendo mais
embaralho.
Tentou a paixão de
novo
Mas não fazia
sentido
No seu peito só
brilhava
O que já tinha
vivido
Com o seu Flávio
Miguel
O tal desaparecido.
Era o ano de setenta
O Brasil Tri-campeão
Os dois amores
distantes
Mas acesos na paixão
Porém tinham a
certeza
Da força da união.
Uma repressão cruel
Desmantelamento
forte
De todo grupo de
esquerda
Sendo vítima até da
morte
A militância acuada
Muitos perdendo seu
norte.
O povo alegre na rua
Vibrando com a
seleção
E nos porões do
poder
Habita a escuridão
E a taça erguida de
fato
Tinha
o fel da repressão.
Desse período em
diante
A luta era
clandestina.
A esquerda
dispersada
Com o peso da
botina.
A cautela vira a
marca
Para se erguer da
ruína.
Ninguém entregou os
pontos
Forças foram
ressurgindo.
A militância atuando
No dia a dia
intervindo
Cada bloco de tijolo
A parede foi
subindo.
A Raquel firme na
luta
Adere a Liga
Operária
Com um peso
estudantil
Na militância diária
A reconstrução da
UNE
Tão urgente e
necessária.
Um grupo de
militantes
Foi fazer a
panfletagem
Abril de setenta e
sete
Uma blitz faz
abordagem
Os três militantes
presos
Direto pra
carceragem.
Vivia-se um momento
Que a hostil
ditadura
Desejava que o país
Iniciasse uma
abertura
Estreita, bem
limitada
Para não sofrer
fissura.
A revolta foi geral
Na assembleia de
estudantes
Na USP logo
aprovou-se
A corrente dos
gigantes
No Largo de São
Francisco
Convocou
manifestantes.
O ato surpreendente
Pedindo a libertação
Dos três jovens
presos a força
Por fazer divulgação
De um Primeiro de
Maio
De abaixo a
repressão.
Raquel a frente do
ato
Viu um rosto
conhecido
De alguém vestido de
monge
Seus olhos viu
parecido
Teve a certeza que
era
O amor desaparecido.
Mas continuou a fala
— Meus amigos
companheiros
Vamos virar esse
jogo
Dar fim a esses
vespeiros
Ditadores
sanguinários
Com apoio de
estrangeiros.
A anistia
política
De quem está na
cadeia
É urgente, é para
ontem
Não dá pra viver
na peia
A prisão desses
três jovens
É
o fim da desgraça alheia.
É hora de retomar
Toda a luta
estudantil
Fortalecer nossas
forças
Na entidade
juvenil
Acendendo a
liberdade
Aqui em nosso
Brasil.
Raquel terminou a
fala
Entrou, foi na
multidão.
A procura de um
rosto
Que lembrou sua
paixão.
Os seus olhos
viajaram
Naquela imensidão.
Já estava desistindo
Quando parou numa
esquina
Viu o tal monge
parado
Num posto de
gasolina
Sua voz soltou: — É
Beto?
Esse rapaz de
batina.
Um silêncio invadiu
Naquele exato
momento.
Era Beto e Raquel
Não pediu nem
documento
A paixão saltou aos
olhos
Vindo lá do
firmamento.
Num abraço apertado
Os dois revelam o
amor
Que a luta e a
paixão
Unidas, fazem o
fervor
Alimentando a
justiça
De um mundo
libertador.
Contato com o autor:
Tel/Fax: (84) 98753-4116 e 84-99817-1692
Site: http://tributoaocordel.blogspot.com.br/
E-mail: nandopoet@gmail.com
https://www.facebook.com/nando.poeta
Tel/Fax: (84) 98753-4116 e 84-99817-1692
Site: http://tributoaocordel.blogspot.com.br/
E-mail: nandopoet@gmail.com
https://www.facebook.com/nando.poeta
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”