segunda-feira, 6 de abril de 2020

NOVO TEMPO - Lindonete Câmara


NOVO TEMPO


Manhã do dia 03 de abril, em direção ao trabalho, atravessando as ruas desertas, refleti mais uma vez sobre a situação em que estamos mergulhados. Fiquei me perguntando: Quantas mudanças estão ocorrendo dentro e fora das pessoas diante desse vazio que o momento nos impõe? Logo respondi: Acredito que um rio de emoções, de pensamentos, sentimentos, sensações, percepções, de crenças e descrenças esteja fluindo diariamente do íntimo de cada uma delas e em mim. Veio um desejo: Espero que a humanidade esteja revendo os valores essenciais da vida para fazer diferente e proporcionar uma resposta sensata ao planeta terra, que ecoa por transmutações e implora por uma fonte expansiva de amor e luz.
 Lembrei do nosso desrespeito em relação ao universo e à maravilhosa natureza, sobre a falta de consciência de que estamos todos juntos num mesmo entrelaçamento de vidas e energias. Nessa perspectiva entendi que além do vírus em circulação, o egoísmo do ser humano, aliado com a ganância, competição, vingança, falsidade, entre outras terríveis atitudes têm ajudado a gerar esse confinamento, com o objetivo quem sabe de nos desconectarmos da sombra que tem adoecido o mundo.
Estive repensando sobre aqueles que continuam numa fase de negação do problema e continuam levando uma jornada “normal”. Mantendo o devido respeito à singularidade de cada indivíduo, indago o que se passa na mente de muitos, de acordo com os comportamentos adequados e inadequados frente a expansão da COVID-19.
Por um lado, imagino que hajam indivíduos rígidos que só acreditam no que veem em seu estrito lado e não buscam as medidas de proteção, se expondo, de forma irresponsável ou por pura ignorância frente às consequências de uma contaminação. Outros estão arraigados unicamente na fé e sem a compreensão das demais complementações existenciais que integram o ser humano. Muitos estão envolvidos apenas com as informações científicas sem a devida atenção a questão biopsicossocial e espiritual tão inerente a pessoa. Dessa forma, me chama a atenção o quanto é importante nos vermos por inteiro.
Neste sentido, ainda visualizo o quanto a humanidade precisa evoluir, cada um com seu processo individual e no seu tempo. Levando em consideração a paralisação mundial, percebo uma movimentação além do nosso limitado olhar clamando por transformações individuais e sociais. Mas, infelizmente, parece que a insensibilidade de alguns não consegue identificar esse chamado.
Sem julgamentos, com muito respeito e com intuito de ajudar, quero fazer um convite para silenciarmos por um instante. Convite este para adentrarmos numa dimensão construtiva e fidedigna conosco sobre a lição que devemos de fato aprender com esse ensino universal. Olhando profundamente para o nosso EU, perguntemos: O que preciso aperfeiçoar em mim? Não tenha medo de mergulhar na pessoa mais importante dessa vida: você. E se diante da sua profundidade emocional não conseguir processar o conteúdo exposto ou latente e desejar ser escutado por alguém, interaja de acordo com as suas possibilidades.
Vale salientar que nesse momento de estresse coletivo, nem toda sintomatologia apresentada se transformará num diagnóstico. No entanto, é preciso que seja reconhecida e processada com todos os cuidados possíveis. A livre expressão exteriorizará as preocupações, medos e todos os conflitos interiores trazendo leveza e ressignificação ao próprio ser nesse momento de sofrimento, e desde sempre. 
Esse novo tempo que intitulei nesse pequeno texto, de maneira prática, nos abre espaços para atentarmos às escolhas baseadas no bom senso, nas mudanças pessoais e na compreensão de uma nova realidade. O presente tempo é de insegurança. Então, se sentir vontade de chorar, chore. Lave não apenas as mãos e o corpo, mas também a alma. Quando as lágrimas cessarem, volte a sorrir com as coisas mais simples da vida, dê gargalhadas, se reinvente, faça algo inusitado, mesmo que as dificuldades continuem, valorize o que há de saudável em você.
Vamos nos conectar com a paz interior, com o amor e a solidariedade para salvarmos a nós e o planeta.

Lindonete Câmara, Psicóloga.

João Pessoa, 06 de abril de 2020.


Email: lin.dearaujo@hotmail.com

Adquira o livro Centelhas Poéticas, da autora, que será lançado após a quarentena





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