Crônica
ao Sol
Estou
farta! Olho a folha em branco: é a primeira coisa que penso em escrever. Estou
exausta! As muitas cores me entontecem Logo eu que sempre fui marrom, preta ou
cinza. Logo eu que sempre fui silêncio, mistério e calmaria. Logo eu que sempre
calei por fora o que gritava por dentro. Justo eu... Decidi, por fim, me pintar.
Joguei uma cor na minha face, meus cabelos refletiram a mudança. Joguei cor na
minha pele, que a cada flash multicoloria. Joguei uma cor nas minhas palavras,
que antes só pintava de melancolia... Nessas em especial, joguei luz, mil tons
de ousadia.
Eu
lembro que noutro tempo já fui multicor, embora cá fora ninguém tenha notado
minha rebeldia, ela sempre esteve aqui dentro, censurando meu aparente estado
centrado, minha aparente apatia diante das coisas que disfarçava não perceber.
Vieram, porém, os invernos, e minha em alma choveu constantemente, tanto, que
encharquei meu coração de dores incomunicáveis, as mesmas que povoaram meus
escritos por anos e cá estão iniciando um novo compor, pois, como disse, estou
farta...
Tornei-me
a moça sem cor, do sorriso expansivo e do olhar tristonho, sempre à margem de
qualquer ambiente, sempre à margem de qualquer decisão. Deixei que decidissem
que cor eu usaria não somente nos meus cabelos e unhas, mas na alma... E como se
isso aparentemente me custasse menos do que custaria enfrentar os conflitos,
deixei que escolhessem todo o resto por mim. Nem a última palavra a mim me
coube. Apenas o silêncio me pertencia. Assim fui sendo forjada: à ferro, fogo e
marretada. Quem olhava de longe, não me percebia, quem de perto, se
aproveitava...
Mas
um dia, sonhei com o Sol e Ele iluminou dentro de mim sonhos há muito
esquecidos, então, estremeci. Não sabia como fugir. Todas as noites, um pedaço
despedaçado desse coração era iluminado e eu percebia o quanto havia deixado de
mim pelos outros, outros que já nem caminham mais comigo...
Após
meses de angústias, decidi abrir a janela; na verdade, uma pequena fresta. Mas
foi suficiente para trazer a lume toda uma existência vivida em segredo, nos
conflitos da timidez, e uma vida timorata decidiu ousar pela primeira vez.
Ninguém acreditou quando eu acordei. Eram tão tímidos aqueles primeiros passos,
quantos quiseram dissuadir-me, mas eu prossegui. Resistência e resiliência
tornaram-se minhas palavras de ordem e uma busca quase incansável pelo amor
próprio teve início. Ainda não o encontrei, mas cada postagem, cada verso, cada
flash é a tentativa de encontrá-lo dentro de mim, em alguma parte ainda oculta
e obscura do meu coração coadjuvante.
Em
momentos de lapso olho no espelho e não reconheço essa face, essas cores, esse
brilho que minhas feições adquiriram... Mas noutras ocasiões, sinto que sempre
fui e sempre serei a mesma pessoa de sempre, cheia de positividade, outrora mal
aproveitada, mas hoje tentando se reencontrar e se reencantar com a vida.
Nesse
percurso me canso diversas vezes, como hoje, que estou farta de lutar. Mas algo
me diz que esse Sol que um dia perturbou meus sonhos ainda me iluminará muitas
boas novas, que por mais que o velho pessimismo queira me convencer de
desistir, algo latente dentro de mim insiste em pagar pra ver. Vamos nessa!
Cecília
Nascimento
16/10/2016,
17h57min.
Ficou excessivamente boa esta crônica, cronipoetista Cecília. Muito bem construída. Não tem rima nem métrica, mas tem (c)oração.
ResponderExcluirRsrsrs. Muito obrigada, Gilberto! <3
ResponderExcluirSurpreendente!
ResponderExcluirSurpreendente!!!
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