Como de costume, quando acontece algo com a
gravidade desse atentado da madrugada de domingo, logo se levantam vozes
revoltadas dizendo que "a religião é o que desgraça a humanidade" e
conclamando, geralmente através de frases de impacto, que a evolução do
pensamento reduza sua influência até que desapareça. E por incrível que pareça
esse raciocínio é compartilhado até por pessoas de Fé, que fazem questão de
dizer que a religião não é necessária para adorar ou conhecer a Deus. São
opiniões fortes, ditas por convicção e que têm cada vez mais adeptos, mas serão
verdadeiras?
Talvez não. É preciso reconhecer que em todas
as religiões (inclusive as consideradas "politicamente corretas",
como é o caso do budismo) existem os "sepulcros caiados", que querem
posar de modelos irrepreensíveis de conduta mas tem personalidades intolerantes
e opressoras, não aceitando ninguém que pense diferente delas por um milímetro
que seja, e até nem são tão "puros" assim. E tampouco podemos
esquecer que em muitos casos a religião foi usada como pretexto ou até
incentivo para se cometer o mal, inclusive contra pessoas de Fé, como é o caso
de Joana D'Arc. Mas penso que se basear apenas no que as pessoas religiosas
fazem de mal para emitir esse juízo é se esquecer no heroísmo de inúmeros
religiosos e leigos, desde os tempos do Cristianismo primitivo, como os
missionários que viajam para diferentes partes do mundo, enfrentando todo tipo
de privações, para difundir a palavra de Deus, não raro enfrentando o martírio,
ou das ordens e associações religiosas que cuidam de doentes e famintos. Aliás,
alguém esqueceu das pessoas que, por sensibilidade religiosa, ajudaram ou
protegeram judeus e outros perseguidos durante a II Guerra Mundial, ou de Irmã
Dulce, Dom Bosco, a Dra. Zilda Arns e o papa Francisco, entre tantos, que sem
sombra de dúvida ajudaram ou ajudam o mundo a ser um lugar melhor?
Ah, mas alguém dirá: "São as exceções
que só confirmam a regra". E onde está escrito que a Igreja vai ser sempre
perfeita? O Novo Testamento deixa bem claro que o comportamento dos apóstolos
enquanto Jesus era vivo muitas vezes era extremamente repreensível, e mesmo
depois do Pentecostes eles muitas vezes precisaram se reunir para resolver
conflitos. Se você só quer encontrar pessoas em estado de graça nos ambientes
que frequenta, vai ter de ser paciente e esperar até chegar ao céu.
Sem mencionar que há uma coisa que poucos
reparam: mesmo para quem declara que adora a Deus e não precisa de uma religião
para isso, ele só conheceu a Deus porque alguém, seja pessoalmente ou por outro
meio (livros, discos, Internet) apresentou-o a ele, e essa pessoa só o
apresentou porque alguém já tinha feito isso com ela anteriormente, ou seja,
através de um conjunto de crenças religiosas preexistente transmitido por mais
de uma geração - traduzindo: UMA RELIGIÃO. Até porque, ao dar a Deus
características excessivamente personalizadas ("criar" um sistema
religioso próprio), o "fiel" corre o risco de tirar o D e o S de Deus
e deixar só o "Eu", usando Deus apenas para satisfazer suas próprias
necessidades. E principalmente, adorar a Deus só faz sentido se você se deixa
tomar por ele para atuar de forma positiva no seu meio, algo que só ocorre de
forma plena se você vive entre outras pessoas. E como católico, ainda tenho um
argumento mais específico da importância da religião: é só no contexto de uma
celebração religiosa que posso receber o Corpo de Cristo, dado por Ele aos
fiéis na última ceia.
"E os países onde a religião está
desaparecendo e parecem não ter problemas com isso?" Mas será que eles
realmente são exemplos a serem seguidos? O "paraíso laicista" que é a
Europa está sofrendo com a crise demográfica, pois os casais são tão
individualistas que quase não querem ter filhos, e, sem algo em que se apoiar,
principalmente nessa época de crise econômica, muitos jovens passam por crises
existenciais graves, às vezes chegando ao suicídio, às vezes usando drogas, e a
esterilidade intelectual parece progredir no velho continente através de
movimentos iconoclastas na arte e na política, onde ninguém tem medo de ser
gratuitamente ofensivo, como é o caso do Femen. Na verdade, o fato de que cada
vez mais jovens estão demonstrando simpatia por grupos radicais islâmicos
(alguns nem sequer sendo descendentes de árabes), pode demonstrar que a
secularização aparentemente "salvadora" no fundo talvez não os
satisfaça. Já há quem fale que futuramente a Europa "ateia" de hoje
se tornará muçulmana. Só espero que da linha moderada, e não da xiita...
Talvez minha opinião seja incompleta, ou
mesmo imperfeita. Mas, antes de qualquer teórico iconoclasta, prefiro ficar com
o poeta abaixo. Podem me chamar de "simplório" ou
"ignorante", mas em muitos aspectos essa música é o meu retrato e me
orgulho disso:
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