quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aos amigos - Cecília Nascimento





Nesse momento de in-temporalidade, vem-me uma ânsia de escrever... Mas, sobre o quê? Que poderia aliviar-me dessa angústia sem nome?
Amigos... Parece-me bom pensar neles... Então, escreverei aos amigos... Àqueles que, pensando tê-los, não tenho; àqueles que, quero e não terei; aos que me querem sem que eu saiba e aos raros que sei que são meus.
Começarei por dizer que sinto uma melancolia profunda ao imaginar o “Amizadear”. São tantos os tipos de amigos não diria Times New Roman, Comic Sans MS ou Arial, mas pensá-los-ia dessa forma: Os amigos duradouros trazem lembranças mistas com gostinho de salada de frutas, produzem o ranço do caju, com o doce do leite condensado, uma contradição que fortalece e agrada.
Os recentes soam como lindas canções ao som do saxofone... Suaves, adocicam a alma; fortes, impactam-nos as recorrentes lembranças de frases, sorrisos e breves despedidas.
Os de tempo médio cheiram a rosas, lindas, mas nos espetam com a hipótese do murchar... Não sabemos se essas Rosas seguirão a Lei da Natureza e desfalecerão, ou se a Lei do Amor e Eternizarão.
Os amigos que não temos são um suspiro solto no ar... Deixam uma lacuna que nem sabemos se as vão ocupar. Essa falta faz doer, mas poderá se tornar em uma linda canção, tocada naquele velho saxofone.
Os amigos que sabemos ter e temos... Ah, deixem-me respirar para neles pensar... São Um, Dois, Três, ou nem tanto ou nada mais... Não são tipos, não precisam ser antigos, mas precisam ser Amigos. Amigos num sentido que não se explica, nem se conceitua, só se sente e se percebe em atos e não atos. Nascem de surpresas afetivas, que não são essenciais à vida, mas plantam sementes de vida. Crescem à luz de muita verdade, regados pela sinceridade e adubados com afeto e perdão. Fortalecem-se a cada passo conjunto, a cada segredo calado junto, a cada desejo frustrado que a dois ou a três foi esquecido. Uns frutificam em um grande e lindo amor... Outros preservam na Amizade o mesmo fiel sabor.
E, quando morrem, passam-se anos e a amizade permanece na memória dos filhos, dos colegas, dos vizinhos, dos livros daqueles sinceros amigos. E, após gerações a fio, é possível captar nos resquícios sepulcrais um doce aroma destilado pela Amizade que jamais sucumbirá.
Aos meus Um, Dois, Três, ou nem tanto, ou não mais que isso: Meus Amigos.


(Cecília Nascimento)

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