GCS: Chagas, em conversa com Maurício Anísio, eu aprendi coisas
interessantes a seu respeito. Informe-nos sobre suas origens santa-cruzenses,
laços familiares e formação.
CL: Nasci em
Santa Cruz na casa da esquina da Av. Rio Branco com a Rua João Bianor Bezerra,
em um domingo as 7:00 h da manhã. Sou filho de Manoel Lourenço Lima e Maria do
Livramento de Medeiros Lima (Marinete). Neto paterno de Manoel Ferreira Lima e
Maria Cidalina de Lima, de Sitio Novo e materno de José Paulino de Medeiros (Zé
de Gan) e Maria Estela de Medeiros, de Santa Cruz.
GCS: Seu
pai foi uma figura importante na história de Santa Cruz. Fale sobre ele,
das recordações que tem a seu respeito. Conte-nos como ele conseguiu
superar condições adversas e tornar-se um homem rico. O que seria
importante sabermos a seu respeito?
CL: Lourenço,
meu pai, nasceu no Sítio São Pedro em Sitio Novo, concluiu apenas o curso
primário e logo cedo começou a trabalhar. Trabalhou em loja de tecidos, pertencente
ao seu irmão José Ferreira Sobrinho (ex-prefeito de Santa Cruz e Lajes
Pintadas), em Campo Redondo, depois como auxiliar administrativo da Usina
Theodorico & Bianor. Com a venda da usina para o grupo Nóbrega & Dantas,
em 1950, ele passou a ser gerente e depois sócio do grupo. Tinha um pequeno
sitio, chamado Santo Antônio, próximo da cidade, em Santa Cruz. Em 1951 comprou
outro sitio no distrito de Melão (hoje Coronel Ezequiel) em um lugar chamado
Lagoa de Santo Alberto. Em 1959, foi morar em Natal e assumir a Diretoria
Financeira do grupo e se tornou sócio.
GCS: Nos textos que escreve você demonstra ter
grande amor pela cultura popular. Fale-nos das razões deste fascínio e de seus
gostos músico-literário.
CL. Sempre convivemos com a vida do campo, as férias todas eram
vivenciadas no sítio o que nos fez conviver desde criança, com o modo de vida
do interior. A culinária, a música e os versos em cordel que eram abundantes
nas comunidades rurais. A leitura frequente de literatura e poesia popular
enfatizou o gosto pela arte e cultura popular.
GCS: Você vive na capital, mas parece viver ruminando saudades.
Aliás, fui informado por Maurício Anísio que tem uma memória fantástica. Que
gratas e más recordações guarda de Santa Cruz?
CL: Não guardo más recordações da minha terra, só guardo boas
lembranças e muita saudade de uma parte importante da minha, vivida lá. Tenho
reparos que faria se pudesse em coisas que foram feitas lá que ajudaram a
apagar um pouco da memória do lugar. Por exemplo, a retirada do coreto em
frente da igreja e da praça, a derrubada da primeira igrejinha da cidade, para
a construção da nova, a retirada das Craibeiras do riacho, onde está a galeria
etc.
GCS: Que pensamentos o envolvem hoje quando retorna à sua terra,
tão transformada? Sim, queremos sua reflexão a respeito da Santa Cruz de
ontem e de hoje. Teria algum conselho a dar às autoridades e/ou à
população?
CL: Os pensamentos se voltam para a época de criança, onde
tínhamos uma cidade pacata e uma comunidade unida e amiga, todos se conheciam e
se respeitavam. Era uma pequena cidade, mais fácil de administrar os problemas.
O progresso chegou atropelando, a cidade cresceu as custas de transformação do
patrimônio arquitetônico e cultural da cidade. Acabaram-se as barracas pequenas
em algumas casas, por ocasião das festas, onde vendiam doces e bebidas
caseiras. Criei no Facebook, uma página dedicada à preservação das imagens e
das memórias. Isso, eu gostaria de ver, o esforço de preservação do que ainda
pode ser preservado em Santa Cruz.
GCS: Interessam-nos também saber mais sobre suas relações
com Maurício Anísio, ícone de nossa história política, seu companheiro de
infância. Conte-nos algum “causo” sobre ele, se tiver.
CL: Maurício eu conheço há sessenta anos. Moramos juntos quando
veio estudar na cidade e convivíamos juntos nas férias em sua casa na Lagoa de
Santo Alberto. Amigo-irmão e grande companheiro. Vou tentar escrever algo com
Maurício e envio posteriormente para o Blog da APOESC.
GCS: De que outros santa-cruzenses guarda boas (ou más) lembranças?
CL: Não guardo más lembranças de nenhum e guardo ótimas
lembranças de todos que conviveram comigo, desde a infância, adolescência e a
vida adulta. Não tem aqui espaço e nem tempo para descrevê-los todos, porque
são inúmeros.
GCS: Qual a importância da leitura em sua vida?
CL: Tudo. Li o primeiro livro quando tinha 12 anos, Dom Quixote
de La Mancha do espanhol Miguel Cervantes, de lá pra cá jamais parei de ler um
livro e as vezes dois, sempre. Estou relendo Dom Quixote, agora, acompanhando o
progresso, leio em e-books e já possuo uma vasta biblioteca em um tablet.
Ajudei a implantar a biblioteca do CENEC, onde fui professor, e que,
gentilmente, colocaram meu nome, era Biblioteca Professor Chagas Lourenço, o
que era motivo de muito orgulho para mim. Doei todo meu acervo para esta
biblioteca e hoje parte dele está na biblioteca municipal de Santa Cruz.
GCS: Pensa em publicar algo? Qual seu gênero preferido de expressão
literária? O Que já tem escrito?
CL: Já pensei em publicar um livro, mas desisti. Quando olho os
inúmeros livros que dormem empoeirados em algumas bibliotecas caseiras, ou
quando vi em um sebo, vários livros com dedicatórias do autor, perdi o encanto
e a vontade de publicar. Tudo que escrevi e escrevo, alem dos manuscritos em
cadernetas, está em um blog que criei, para colocar para o mundo e ficar
escrito para sempre em uma nuvem cibernética. Em homenagem à minha terra , chamei-o de Frei Carmelo, um
pseudônimo que tinha para escrever para um jornal cultural no Beco da Lama. O
nome Frei Carmelo, por conta do Monte Carmelo que hoje abriga o Auto de Santa
Rita. freicarmelo.blogspot.com.br.
GCS: Positivas são as referências que tenho a seu respeito. Mas o
que pensa você sobre si mesmo? Como se define? Com quais lemas de vida ou
pensamentos mais se identifica? Quais seus hobbies?
CL: Considero-me uma pessoa simples e me esforço muito para ser
assim. Sempre gostei de andar de cavalo e de vaquejadas, era um vaqueiro que
gostava de aboiar, cantar loa e tomar cachaça. Gosto de cinema e vejo muitos
filmes, mas o meu maior hobbie , é a leitura. Hoje leio tudo em um tablet, que
cabe muitos livros e posso transportar pra onde eu for. Goste de me identificar
com conceitos que aprendi com meu pai : Honestidade, Humildade, Lealdade e
Gratidão.
GCS: Recomende-nos algumas leituras que você julga
interessantes. Dentre as poesias que ama, escolha (alg)uma(s) das mais
belas.
CL. Literatura: Machado
de Assis (Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Esaú e
Jacó, O Alienista), fundamental, depois, Lima Barreto, Graciliano Ramos,
Aluisio Azevedo, Jorge Amado. Poesia: Manoel Bandeira, Castro Alves, Olavo
Bilac, João Cabral de Melo Neto. Depois de ler todos, já podem ler os modernos
rss.
GCS. Diga-nos suas palavras finais. Por falar em palavras finais,
que epitáfio elaboraria para si mesmo?
CL: Nunca pensei em epitáfio, até porque, não penso em morrer
tão cedo rsss. Quero ser cremado e se possível, minhas cinzas jogadas do Alto
de Santa Rita.
Finalizando, adorei essa prosa com você. Você nem imagina como
estou me sentindo bem escrevendo isto. Passaria o dia inteiro escrevendo, se
pudesse, mas valeu. Receba um abraço grande , deste santa-cruzense, saudoso das
coisas do meu lugar.
Obrigado Gilberto por esta prosa com Chagas Lourenço, pessoa que admiro e tenho o maior respeito pela cultura, inteligência e dignidade. Chagas é um dos poucos que pode escrever, com fidelidade, momentos da história de Santa Cruz, pela sua capacidade de armazenar informações e saber transití-las.
ResponderExcluirChagas gostei da suas histórias,mas lie um pouco sobre o caminho de Maurício Anízio e me precionou com uma carta que há irmã dele relata a juíza que falava sobre o sofrimento dela pelo filho Maurício,mas dia coisas me deixou furioso a mãe não lamenta a prisão da filha e nem do outro filho preso em um presídio no rio de janeiro e levou muitos anos para que o Maurício Anízio ser souto ,só em 1988 ele conseguiu a liberdade e os outros irmãos que aconteceu? Te pergunto porque você é um bom amigo da família e vi em sua história retratos que afirma isto,eu lembro de você correndo nas vaquejadas e quando criança eu recordo de uma fazenda que era do seu pai dentro da rua próximo a caminha fiúsa e Maria Dasdores,tinha uns gansos,Bravos
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