terça-feira, 7 de julho de 2015

Prosa com Chagas Lourenço (Entrevista)


GCS: Chagas, em conversa com Maurício Anísio, eu aprendi coisas interessantes a seu respeito. Informe-nos sobre suas origens santa-cruzenses, laços familiares e formação.
CL: Nasci em Santa Cruz na casa da esquina da Av. Rio Branco com a Rua João Bianor Bezerra, em um domingo as 7:00 h da manhã. Sou filho de Manoel Lourenço Lima e Maria do Livramento de Medeiros Lima (Marinete). Neto paterno de Manoel Ferreira Lima e Maria Cidalina de Lima, de Sitio Novo e materno de José Paulino de Medeiros (Zé de Gan) e Maria Estela de Medeiros, de Santa Cruz.
GCS: Seu pai foi uma figura importante na história de Santa Cruz. Fale sobre ele, das recordações que tem a seu respeito. Conte-nos como ele conseguiu superar condições adversas e tornar-se um homem rico. O que seria importante sabermos a seu respeito?
CL: Lourenço, meu pai, nasceu no Sítio São Pedro em Sitio Novo, concluiu apenas o curso primário e logo cedo começou a trabalhar. Trabalhou em loja de tecidos, pertencente ao seu irmão José Ferreira Sobrinho (ex-prefeito de Santa Cruz e Lajes Pintadas), em Campo Redondo, depois como auxiliar administrativo da Usina Theodorico & Bianor. Com a venda da usina para o grupo Nóbrega & Dantas, em 1950, ele passou a ser gerente e depois sócio do grupo. Tinha um pequeno sitio, chamado Santo Antônio, próximo da cidade, em Santa Cruz. Em 1951 comprou outro sitio no distrito de Melão (hoje Coronel Ezequiel) em um lugar chamado Lagoa de Santo Alberto. Em 1959, foi morar em Natal e assumir a Diretoria Financeira do grupo e se tornou sócio.
GCS: Nos textos que escreve você demonstra ter grande amor pela cultura popular. Fale-nos das razões deste fascínio e de seus gostos músico-literário.
CL. Sempre convivemos com a vida do campo, as férias todas eram vivenciadas no sítio o que nos fez conviver desde criança, com o modo de vida do interior. A culinária, a música e os versos em cordel que eram abundantes nas comunidades rurais. A leitura frequente de literatura e poesia popular enfatizou o gosto pela arte e cultura popular.
GCS: Você vive na capital, mas parece viver ruminando saudades. Aliás, fui informado por Maurício Anísio que tem uma memória fantástica. Que gratas e más recordações guarda de Santa Cruz?
CL: Não guardo más recordações da minha terra, só guardo boas lembranças e muita saudade de uma parte importante da minha, vivida lá. Tenho reparos que faria se pudesse em coisas que foram feitas lá que ajudaram a apagar um pouco da memória do lugar. Por exemplo, a retirada do coreto em frente da igreja e da praça, a derrubada da primeira igrejinha da cidade, para a construção da nova, a retirada das Craibeiras do riacho, onde está a galeria etc.
GCS: Que pensamentos o envolvem hoje quando retorna à sua terra, tão transformada? Sim, queremos sua reflexão a respeito da Santa Cruz de ontem e de hoje. Teria algum conselho a dar às autoridades e/ou à população?
CL: Os pensamentos se voltam para a época de criança, onde tínhamos uma cidade pacata e uma comunidade unida e amiga, todos se conheciam e se respeitavam. Era uma pequena cidade, mais fácil de administrar os problemas. O progresso chegou atropelando, a cidade cresceu as custas de transformação do patrimônio arquitetônico e cultural da cidade. Acabaram-se as barracas pequenas em algumas casas, por ocasião das festas, onde vendiam doces e bebidas caseiras. Criei no Facebook, uma página dedicada à preservação das imagens e das memórias. Isso, eu gostaria de ver, o esforço de preservação do que ainda pode ser preservado em Santa Cruz.
GCS: Interessam-nos também saber mais sobre suas relações com Maurício Anísio, ícone de nossa história política, seu companheiro de infância. Conte-nos algum “causo” sobre ele, se tiver.
CL: Maurício eu conheço há sessenta anos. Moramos juntos quando veio estudar na cidade e convivíamos juntos nas férias em sua casa na Lagoa de Santo Alberto. Amigo-irmão e grande companheiro. Vou tentar escrever algo com Maurício e envio posteriormente para o Blog da APOESC.
GCS: De que outros santa-cruzenses guarda boas (ou más) lembranças?
CL: Não guardo más lembranças de nenhum e guardo ótimas lembranças de todos que conviveram comigo, desde a infância, adolescência e a vida adulta. Não tem aqui espaço e nem tempo para descrevê-los todos, porque são inúmeros.
GCS: Qual a importância da leitura em sua vida?
CL: Tudo. Li o primeiro livro quando tinha 12 anos, Dom Quixote de La Mancha do espanhol Miguel Cervantes, de lá pra cá jamais parei de ler um livro e as vezes dois, sempre. Estou relendo Dom Quixote, agora, acompanhando o progresso, leio em e-books e já possuo uma vasta biblioteca em um tablet. Ajudei a implantar a biblioteca do CENEC, onde fui professor, e que, gentilmente, colocaram meu nome, era Biblioteca Professor Chagas Lourenço, o que era motivo de muito orgulho para mim. Doei todo meu acervo para esta biblioteca e hoje parte dele está na biblioteca municipal de Santa Cruz.
GCS: Pensa em publicar algo? Qual seu gênero preferido de expressão literária? O Que já tem escrito?
CL: Já pensei em publicar um livro, mas desisti. Quando olho os inúmeros livros que dormem empoeirados em algumas bibliotecas caseiras, ou quando vi em um sebo, vários livros com dedicatórias do autor, perdi o encanto e a vontade de publicar. Tudo que escrevi e escrevo, alem dos manuscritos em cadernetas, está em um blog que criei, para colocar para o mundo e ficar escrito para sempre em uma nuvem cibernética. Em homenagem  à minha terra , chamei-o de Frei Carmelo, um pseudônimo que tinha para escrever para um jornal cultural no Beco da Lama. O nome Frei Carmelo, por conta do Monte Carmelo que hoje abriga o Auto de Santa Rita. freicarmelo.blogspot.com.br.
GCS: Positivas são as referências que tenho a seu respeito. Mas o que pensa você sobre si mesmo? Como se define? Com quais lemas de vida ou pensamentos mais se identifica? Quais seus hobbies?
CL: Considero-me uma pessoa simples e me esforço muito para ser assim. Sempre gostei de andar de cavalo e de vaquejadas, era um vaqueiro que gostava de aboiar, cantar loa e tomar cachaça. Gosto de cinema e vejo muitos filmes, mas o meu maior hobbie , é a leitura. Hoje leio tudo em um tablet, que cabe muitos livros e posso transportar pra onde eu for. Goste de me identificar com conceitos que aprendi com meu pai : Honestidade, Humildade, Lealdade e Gratidão.
GCS: Recomende-nos algumas leituras que você julga interessantes. Dentre as poesias que ama, escolha (alg)uma(s) das mais belas.
CL. Literatura: Machado de Assis (Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Esaú e Jacó, O Alienista), fundamental, depois, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Aluisio Azevedo, Jorge Amado. Poesia: Manoel Bandeira, Castro Alves, Olavo Bilac, João Cabral de Melo Neto. Depois de ler todos, já podem ler os modernos rss.
GCS. Diga-nos suas palavras finais. Por falar em palavras finais, que epitáfio elaboraria para si mesmo?
CL: Nunca pensei em epitáfio, até porque, não penso em morrer tão cedo rsss. Quero ser cremado e se possível, minhas cinzas jogadas do Alto de Santa Rita.
Finalizando, adorei essa prosa com você. Você nem imagina como estou me sentindo bem escrevendo isto. Passaria o dia inteiro escrevendo, se pudesse, mas valeu. Receba um abraço grande , deste santa-cruzense, saudoso das coisas do meu lugar.



2 comentários:

  1. Obrigado Gilberto por esta prosa com Chagas Lourenço, pessoa que admiro e tenho o maior respeito pela cultura, inteligência e dignidade. Chagas é um dos poucos que pode escrever, com fidelidade, momentos da história de Santa Cruz, pela sua capacidade de armazenar informações e saber transití-las.

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  2. Chagas gostei da suas histórias,mas lie um pouco sobre o caminho de Maurício Anízio e me precionou com uma carta que há irmã dele relata a juíza que falava sobre o sofrimento dela pelo filho Maurício,mas dia coisas me deixou furioso a mãe não lamenta a prisão da filha e nem do outro filho preso em um presídio no rio de janeiro e levou muitos anos para que o Maurício Anízio ser souto ,só em 1988 ele conseguiu a liberdade e os outros irmãos que aconteceu? Te pergunto porque você é um bom amigo da família e vi em sua história retratos que afirma isto,eu lembro de você correndo nas vaquejadas e quando criança eu recordo de uma fazenda que era do seu pai dentro da rua próximo a caminha fiúsa e Maria Dasdores,tinha uns gansos,Bravos

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