sexta-feira, 12 de junho de 2015

CASA DE MATUTO - Hélio Crisanto




A casa do matuto tem,
Foice, enxadeco e um pilão,
Tem moinho e um porco no oitão,
Tem rosário, um pote e moquém,
Urupema e uma lata de xerém,
Tem papeiro e um silo de farinha,
Um caritó, um galo com murrinha,
Camiseiro, espingarda e cristaleira,
No alpendre um banquinho de aroeira,
e um fogo de lenha na cozinha.

A casa do matuto tem,
Querosene, trinchete e rabichola,
Tem alguidá e um pinto gogó de sola,
Amolador, rapa-coco e galinheiro,
Um jumento rinchando no terreiro,
Tem fueiro, urinó e um serrote,
Oratório, califon e um chicote,
Carro de boi e um cachorro rabugento,
Tem arnica que cura passamento,
E um peba cevando num caixote.



A casa do matuto tem,
Na passagem da frente uma cancela,
Tem rapé, lamparina e tem gamela,
Chão batido e uma cama de esteira,
O café é servido na chaleira,
Na despensa um garajal de rapadura,
Uma corda de piaba é a mistura,
Num guisado de arroz e fava quente,
Uma tora de pau faz o batente,
E a tramela na porta é fechadura.

A casa do matuto tem,
Uma janela com vista pro curral,
O banheiro é na palhoça e o varal,
esticado com fio de cadeira,
Tem tripé, lavatório e fofuleira,
E um papagaio atrepado na parede,
Tem anzol, jereré, tampo de rede,
Tamborete, gibão, carne de tejo,
Tem o cheiro da mata, água do brejo,
Onde eu deito e mato minha sede.

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