Fui ver, ontem, o
ganhador do Oscar 2015, BIRDMAN (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA). E, ao
contrário do que alguns da crítica especializada publicaram, o filme não é
chato, apesar dos diálogos intermináveis, não é insosso, mesmo não tendo eu
comido da pipoca exibida, e, muito menos, confuso, embora tenha tido eu me
atrapalhado na compra tecnológica do bilhete. Drama psicológico simples,
vivenciado pelo protagonista Riggan
Thomson (Michael Keatton, aquele mesmo que interpretou o 1º e 2º Batman, nos
anos de 1989 e 1992, respectivamente). Birdman, se não me falha meu limitado
inglês, quer dizer Homem-Pássaro. E o filme começa com um meteoro a descer
atmosfera abaixo, numa velocidade ígnea que só os pássaros da ficção nos
permitem a angústia dos grandes apocalipses holydianos. Aí pensei, “acho que
errei de sala!” Não! Era o filme mesmo, e a bola de fogo é a sacada melhor da
película, pois nos leva a viajar nas muitas metáforas de nossas catarses. É
como se eu fosse co-autor do enredo. E adoro isso, além das funções da
linguagem que a 7ª arte também nos propicia, e, neste caso, a metalinguagem, o
código a falar de seu próprio código, o drama a mostrar-se nas suas
intimidades, com as câmeras, palco, textos, intrigas, invejas, egos, fracassos,
vícios e luzes bem no centro de sua trama. E isso foge aos padrões do cinema
americano, com seus efeitos especiais, sua riqueza incomensurável e aquele
ufanismo arrogante, bem ao tempero de suas melhores humilhações. Birdman é o
pássaro homem herói de 3 filmes de estrondoso sucesso de RIggan, que se recusa
a fazer o 4º filme, por não querer ser conhecido apenas com aquele personagem.
(Lembrei-me de Zé Carneiro, Tonico Pereira, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, ao
chutar o balde de suas inconformações e sair do seriado exatamente por não
querer ser conhecido apenas por único personagem), uma vez que, segundo ele,
tinha muito talento pra tão pouco. E Riggan pensou assim, igual a Zé Carneiro,
e chutou o seu balde de estrelismo, voltando-se para suas escolhas, ao adaptar
um texto para a Broadway, mas revoltando-se a cada ensaio, com os obstáculos
que se lhe mostravam reais. Michael Keatton também recusou-se a filmar o Batman
3 e despencou atmosfera abaixo, numa velocidade ígnea que só os pássaros da
ficção nos permitem a angústia dos grandes apocalipses holydianos. Seria o
Birdman uma autobiografia de Michael Keatton? Seria aquele meteoro do início e
do fim do filme apenas uma bola de fogo a me sacanear no pobre pensar de meu
ingênuo engano da sala cinematográfica? Não sei, até porque pouco ou nada sei
da inesperada virtude de minha ignorância pueril neste mundo de ficção. Mas sei
que aquela bola de fogo é a melhor de todas as metáforas de Birdman e de seu
justíssimo Oscar 2015.
(Nailson Costa, 28.02.2015)
Se o filme pareceu-lhe tão bom a ponto de tornar-se tão inspirador, é sinal que é bom. Vou assisti-lo. Parabéns e obrigado pela dica.
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