domingo, 1 de março de 2015

APENAS UM HOMEM-PÁSSARO A VOAR POR ENTRE AS BOAS METÁFORAS DA VIDA!


Fui ver, ontem, o ganhador do Oscar 2015, BIRDMAN (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA). E, ao contrário do que alguns da crítica especializada publicaram, o filme não é chato, apesar dos diálogos intermináveis, não é insosso, mesmo não tendo eu comido da pipoca exibida, e, muito menos, confuso, embora tenha tido eu me atrapalhado na compra tecnológica do bilhete. Drama psicológico simples, vivenciado pelo protagonista Riggan Thomson (Michael Keatton, aquele mesmo que interpretou o 1º e 2º Batman, nos anos de 1989 e 1992, respectivamente). Birdman, se não me falha meu limitado inglês, quer dizer Homem-Pássaro. E o filme começa com um meteoro a descer atmosfera abaixo, numa velocidade ígnea que só os pássaros da ficção nos permitem a angústia dos grandes apocalipses holydianos. Aí pensei, “acho que errei de sala!” Não! Era o filme mesmo, e a bola de fogo é a sacada melhor da película, pois nos leva a viajar nas muitas metáforas de nossas catarses. É como se eu fosse co-autor do enredo. E adoro isso, além das funções da linguagem que a 7ª arte também nos propicia, e, neste caso, a metalinguagem, o código a falar de seu próprio código, o drama a mostrar-se nas suas intimidades, com as câmeras, palco, textos, intrigas, invejas, egos, fracassos, vícios e luzes bem no centro de sua trama. E isso foge aos padrões do cinema americano, com seus efeitos especiais, sua riqueza incomensurável e aquele ufanismo arrogante, bem ao tempero de suas melhores humilhações. Birdman é o pássaro homem herói de 3 filmes de estrondoso sucesso de RIggan, que se recusa a fazer o 4º filme, por não querer ser conhecido apenas com aquele personagem. (Lembrei-me de Zé Carneiro, Tonico Pereira, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, ao chutar o balde de suas inconformações e sair do seriado exatamente por não querer ser conhecido apenas por único personagem), uma vez que, segundo ele, tinha muito talento pra tão pouco. E Riggan pensou assim, igual a Zé Carneiro, e chutou o seu balde de estrelismo, voltando-se para suas escolhas, ao adaptar um texto para a Broadway, mas revoltando-se a cada ensaio, com os obstáculos que se lhe mostravam reais. Michael Keatton também recusou-se a filmar o Batman 3 e despencou atmosfera abaixo, numa velocidade ígnea que só os pássaros da ficção nos permitem a angústia dos grandes apocalipses holydianos. Seria o Birdman uma autobiografia de Michael Keatton? Seria aquele meteoro do início e do fim do filme apenas uma bola de fogo a me sacanear no pobre pensar de meu ingênuo engano da sala cinematográfica? Não sei, até porque pouco ou nada sei da inesperada virtude de minha ignorância pueril neste mundo de ficção. Mas sei que aquela bola de fogo é a melhor de todas as metáforas de Birdman e de seu justíssimo Oscar 2015. 

(Nailson Costa, 28.02.2015)

Um comentário:

  1. Se o filme pareceu-lhe tão bom a ponto de tornar-se tão inspirador, é sinal que é bom. Vou assisti-lo. Parabéns e obrigado pela dica.

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